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O dólar voltou a flertar com o patamar abaixo dos R$ 5 pela primeira vez em dois meses. O movimento pode estimular ainda mais uma alternativa que tem caído nas graças dos brasileiros: o investimento no exterior.
A desvalorização da moeda americana frente ao real é uma oportunidade de reforçar os aportes fora do País? Especialistas consultados pelo InfoMoney afirmam que sim, mas ponderam que foco do investidor não deve ser ganhos de capital imediatos – e, sim, a diversificação do portfólio no longo prazo.
Às 10h27 (horário de Brasília), o dólar comercial recuava 1,31%, cotado a R$ 4,999 na compra e R$ 5 na venda, após atingir uma mínima de R$ 4,992 nas primeiras negociações. Já às 10h45, a divisa caía 1,04%, a R$ 5,013 na compra e R$ 5,014 na venda.
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“Realmente, quando temos um dólar caindo, observamos um patamar muito mais atrativo para começar a aportar dinheiro [em investimentos] lá fora”, afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP. “Mas é muito difícil a gente prever o que irá acontecer diante dos diversos fatores que podem mudar a direção do câmbio”, explica a analista, reforçando que é arriscado projetar se a moeda americana pode cair mais ou voltar a subir.
De qualquer forma, o cenário atual – de dólar abaixo dos R$ 5 – favoreceria o investidor doméstico que planeja começar ou elevar os aportes em ativos internacionais, como defende Jennie.
“Nós defendemos a exposição internacional do investidor doméstico – ou seja, ter parte da carteira atrelada ao dólar – e o momento seria propício para isso”, afirma.
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Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad, também reforça o coro dos que enxergam uma boa oportunidade para aumentar os aportes em ativos internacionais, considerando o atual patamar do dólar.
“O dólar a R$ 5 segue bem abaixo da previsão do relatório Focus do Banco Central, que traz o compilado das visões de mercado”, explica. “Segundo o último levantamento, o dólar deve terminar 2023 em R$ 5,25, ou seja, a moeda está com um desconto de 4,8% aproximadamente”.
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José Faria Júnior, planejador financeiro certificado pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), concorda e acrescenta que o atual patamar está interessante para quem pensa em diversificar o portfólio com ativos internacionais. No entanto, ele lembra que a estratégia deve considerar o longo prazo, e não eventuais ganhos imediatos.
“Investir no exterior deve ser meta a perseguir no longo prazo e eventualmente poderemos ter momentos melhores para elevar os aportes”, explica. “Não devemos investir apenas com objetivo de curto prazo já que isso foge do escopo do planejamento financeiro”.
Na opinião dele, no futuro, a mesma discussão pode ser feita com o dólar eventualmente cotado a R$ 4,50 – o que sinalizaria um prejuízo para quem tentou especular com a moeda americana no momento atual.
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“A busca pela diversificação internacional do portfólio deve ser feita com objetivos de reduzir o risco país, ou seja, risco de ficar totalmente investido no país que mora e na moeda local”, orienta Faria Júnior.
Investi com o dólar mais alto; e agora?
Quem já tem dinheiro lá fora – e eventualmente pagou mais caro pela moeda americana – não fez necessariamente um mau negócio, tranquilizam os especialistas.
“O patrimônio em dólar está protegido contra as variações de câmbio do real e está alocado em uma moeda forte, no maior mercado do mundo”, pondera Jennie, da XP.
Na mesma linha, Faria Júnior lembra que oscilações pontuais do câmbio não devem tirar o sono do investidor doméstico com ativos fora do País – especialmente aqueles que têm como objetivo a diversificação do portfólio.
“Com o dólar a R$ 5,30 já foi possível aplicar em títulos do Tesouro americano com jutos 5% ao ano para dois anos, ou 4% ao ano para dez anos”, lembra o especialista, sinalizando que o aporte foi acertado. Hoje, acrescenta, estas taxas já estão bem mais baixas.
Ele afirma que, mesmo na renda variável, houve oportunidades interessantes para quem investiu com um dólar mais elevado. Foi possível aplicar no S&P 500, um dos principais índices de ações nos Estados Unidos, cotado aos 3.800 pontos. Atualmente, o indicador está acima de 4.100 pontos, reforça.
“No final das contas, o importante é ter um portfólio equilibrado e que atenda aos seus planos financeiros”, diz. “Além disso, estudos mostram que a diversificação, incluindo moeda, tende a trazer menor risco e maior retorno no longo prazo”.
O que explica a queda do dólar?
Especialistas explicam que o atual comportamento do dólar reflete, entre outros aspectos, o otimismo do mercado com a desaceleração do IPCA, índice de inflação oficial do País. O indicador fechou março em 0,71%, abaixo dos 0,84% observado no mês anterior.
A queda da inflação seria um sinal de que a redução da taxa básica de juros da economia nacional, a Selic, pode estar mais próxima. O movimento tende a reduzir a rentabilidade da renda fixa – que utiliza a taxa como referência – e aumenta a atratividade da renda variável, que ofereceria possibilidade de retornos maiores.
Desta forma, a busca por oportunidades na Bolsa brasileira atrairia um volume maior de capital externo – pressionando a cotação do dólar que, em maior circulação, perderia valor.
“Observamos uma fraqueza mundial do dólar desde a queda do SVB”, complementa Marcos De Marchi, economista-chefe da Oriz Partners. “Mas aqui o mercado segue precificando a queda de juros e o movimento de desvalorização do dólar tem sido mais forte”.
Pereira, da Nomad, confirma e ressalta que o dólar vem apresentando esse mês uma tendência de enfraquecimento em relação às principais moedas do mundo – tomando como base o DXY, índice da moeda americana.
Outros representantes do mercado também relacionam a queda do dólar com notícias positivas vindas do novo arcabouço fiscal anunciado pelo governo federal e com as perspectivas de safras recordes no País.