É cedo para considerar “provável” uma guerra entre a Rússia e os países da Otan, diz Ray Dalio, da Bridgewater

Para o gestor, o conflito está em fase anterior ao que seria uma guerra militar, mas posterior a uma intensificação dos ataques de uma guerra econômica

Bruna Furlani

(Crédito: Roy Rochlin /Getty Images)
(Crédito: Roy Rochlin /Getty Images)

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A intensificação das sanções econômicas contra a Rússia e a continuidade dos bombardeios nas mais importantes cidades da Ucrânia, atingindo inclusive civis, assustaram o mundo nos últimos dias. Não faltaram teorias de que o conflito poderia escalar para uma guerra mundial.

Essa, no entanto, ainda não é a visão de Ray Dalio, o lendário gestor de fundo da Bridgewater Associates, de Nova York, considerado uma das mentes brilhantes do mercado financeiro global.

“É muito cedo para considerar provável que haja uma ‘guerra quente’ [conflito militar real] entre a Rússia e os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)”, afirmou o gestor em um longo texto publicado em uma rede social.

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Apesar de destacar que os países do Ocidente anunciaram uma série de sanções contra a Rússia nos últimos dias, o gestor afirma que não houve uma retaliação por parte do governo russo. Com isso, o conflito agora está numa fase anterior ao que seria uma guerra militar – e posterior ao que seria a intensificação dos ataques de uma guerra econômica, observa.

Para Dalio, uma das razões para acreditar que o conflito não deve escalar para uma guerra entre o Ocidente e a Rússia é o fato de que o conflito direto costuma ocorrer quando questões existenciais tornam-se irreconciliáveis e não são mais possíveis de resolver de forma pacífica. Segundo ele, esse não parece ser o caso.

Outro ponto de atenção, diz Dalio, é quando ambos os adversários têm poderes militares que não podem ser comparáveis. Nesse caso, observa, a tendência é que o lado dominante consiga o que deseja apenas ameaçando a possibilidade de declarar guerra. Na visão de Dalio, a Rússia e a Otan possuem capacidade militar comparável atualmente.

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Atenção também para a postura dos líderes e para o impacto de um recuo. Segundo ele, autoridades inteligentes apenas atacam se o adversário é capaz de colocá-los em uma posição em que um recuo pode ser algo desastroso.

“Sabemos que se houvesse uma guerra entre os Estados Unidos e a Rússia (especialmente se a China estivesse envolvida) seria desastroso. O medo da destruição mútua continua a ser o principal impedimento para uma guerra de verdade”, completa.

Dalio vai além. O gestor afirma que os vencedores em um conflito bélico não costumam ser os países mais poderosos, mas sim as nações que conseguem aguentar a dor por mais tempo. “Sobre isso, os russos e os chineses seriam mais fortes do que os Ocidentais”, observa.

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Nesse sentido, ele diz que há duas questões que seguem agora no radar. A primeira está ligada à posição que Vladimir Putin, presidente da Rússia deve adotar. Segundo Dalio, a dúvida é se o mandatário russo vai aumentar a aposta, fazendo com que os países da Otan percam algo valioso, ou se ele vai recuar e estabelecer algum tipo de compromisso, o que considera pouco provável.

Outra dúvida envolve a China. O gestor afirma que China e Rússia estão muito alinhadas e que isso pode ser útil para minimizar os efeitos das sanções recebidas recentemente do Ocidente. Segundo ele, a atitude da China poderá ter um grande efeito sobre como se estabelecerá a nova ordem mundial daqui pra frente.

Mudança na ordem mundial

Na visão de Dalio, a guerra entre Rússia, Ucrânia e Otan pode provocar uma mudança na ordem mundial em três aspectos: econômico, conflitos internos e conflitos externos.

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Do ponto de vista econômico, os efeitos são inflacionários. Dalio explica que a maior potência mundial – os Estados Unidos – estão gastando mais do que ganhando, o que faz com que o País tenha que imprimir mais dinheiro e tomar mais dívida.

“Quando os cofres estão vazios e há necessidade de mais gastos com armas, há muito mais impressão de dinheiro, inflação e reações políticas à inflação”, pondera.

O cenário atual também deve levar a mais conflitos internos e externos. Dalio observa que movimentos populistas tanto de esquerda quanto de direita vêm crescendo e que há uma polarização cada vez maior da sociedade.

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“Há uma mentalidade de ‘ganhar a todo custo’, o que elimina o comprometimento e o cumprimento de regras que são essenciais para manter a ordem interna. Quanto mais desordem interna houver, mais polaridade e luta haverá, o que normalmente leva a alguma forma de guerra civil”, afirma.

Ele também dá destaque para a ascensão de uma ou mais potências estrangeiras que buscam se comparar às potências líderes. Na visão do gestor, isso pode levar a guerras externas na tentativa de determinar quais potências estarão cada vez mais no controle.

Impactos no mercado financeiro

Ao falar sobre os efeitos que as guerras geralmente têm no mercado financeiro, Dalio destaca que em algumas situações houve o fechamento dos mercados de ações, o que deixou investidores sem acesso ao seu capital e foi algo prejudicial.

Outro ponto de atenção, diz, está no fato de que dinheiro e crédito não eram comumente aceitos entre países não aliados. A razão, conta, estava no medo de que a moeda perdesse valor e o investidor fosse penalizado.

Nesses cenários, diz, o ouro, a prata e as trocas feitas entre as civilizações eram as melhores “moedas” usadas durante as guerras.

O motivo, explica, é que os preços e os fluxos de capital são normalmente controlados em um cenário de guerra. Com isso, afirma, fica mais difícil dizer quais são os preços reais de de muitos ativos.

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