El-Erian: após subir os juros, Fed vai precisar de habilidade, tempo e sorte para fazer um pouso mais suave da economia

Para ex-CEO da Pimco, história sugere que quando a autoridade monetária está atrasada na subida das taxas, a probabilidade de uma recessão é bastante alta

Bruna Furlani

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O atraso no aperto das condições monetárias nos Estados Unidos vai fazer com que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, precise de três coisas: habilidade, tempo e sorte para fazer um pouso mais suave da economia, após a subida de juros. A avaliação é de Mohamed El-Erian, economista, presidente do Queens’ College da Universidade de Cambridge e ex-CEO da gestora americana Pimco.

Em entrevista à rede americana CNBC nesta quinta (21), o economista defendeu que o Fed perdeu tempo quando não reconheceu a real natureza da inflação e não tomou uma atitude para controlá-la. “Faz apenas um mês que paramos de injetar liquidez na economia. Então, temos um caminho longo para apertar as condições monetárias”, observou.

Diante desse atraso, o ex-CEO da gestora americana Pimco avalia que haverá um risco maior de que a subida de juros desacelere a economia americana e que haja uma recessão.

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“A história sugere que quando o Fed está atrasado desse jeito, a probabilidade de uma recessão é ‘inconfortavelmente’ alta”, disse. Emendou: “Vamos torcer para que isso seja evitado e para que eles tenham habilidade, tempo e sorte para fazer isso [pouso mais suave]”.

As declarações de El-Erian foram feitas após a fala de Jerome Powell, presidente do Fed, na quinta (21). Na ocasião, Powell disse que um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa de juros estará “na mesa” quando os dirigentes da autoridade monetária se reunirem em maio.

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Com a inflação atingindo cerca de três vezes a meta de 2% do Fed, “é apropriado avançar um pouco mais rapidamente”, disse Powell na véspera em uma discussão sobre a economia global nas reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Cinquenta pontos básicos estarão na mesa para a reunião de maio.”

Os agentes de mercado esperam que o Fed a aumente o juro para um intervalo entre 2,75% e 3% até o fim deste ano. Para isso, seriam necessários aumentos de 0,50 ponto percentual nas três próximas reuniões e elevações de 0,25 ponto nas três outras sessões do ano.

Revisões do FMI

Em artigo publicado nesta sexta-feira (22), El-Erian também mostrou preocupação com as revisões feitas pelo FMI. Nesta semana, a autoridade reduziu, de forma substancial, a estimativa de crescimento global para este ano, de 4,4% para 3,6%.

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Um dos motivos apontados pelo órgão para a alteração nas projeções está a guerra entre Rússia e Ucrânia que atrapalhou mais uma vez as cadeias de suprimentos, que já vinham se recuperando do choque causado pelo fechamento de cidades para controlar a transmissão da Covid-19.

O FMI advertiu que a guerra no leste europeu elevará os preços de commodities e fará com que a inflação seja mais persistente ao redor do mundo.

No documento, o ex-CEO da Pimco chamou a atenção para o fato de que é raro que o FMI revise significativamente as projeções de crescimento no primeiro trimestre do ano em questão.

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“Porém, fez isso para 86% dos seus 196 países-membros, o que resultou na redução de quase 1 ponto percentual no crescimento global em 2022”, observou.

El-Erian destacou ainda que a revisão do crescimento econômico veio acompanhada de um significativo aumento das projeções de inflação, o que deve trazer mais incerteza para a economia.

Diante da escalada nos processos de disrupção causados pela guerra, o economista diz que não se surpreenderia se o FMI fizesse novas revisões para baixo nas projeções de crescimento neste ano, especialmente na Europa.

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Além de analisar o recuo das estimativas para este ano, o ex-CEO da Pimco mostrou preocupação com o cenário traçado pela autoridade para o ano que vem, cuja previsão de crescimento para o PIB global sofreu redução de 3,8% para 3,6%.

Ou seja: para ele, o FMI não acredita que essa mudança significativa nas estimativas de crescimento econômico global em 2022 será compensada em 2023. Pelo contrário. A instituição preferiu reduzir também o cenário de expansão econômica em 2023 tanto em economias avançadas quanto em desenvolvimento.

Segundo ele, tais projeções apontam para um problema: a perda de potencial dos modelos de crescimento econômico ao redor do mundo.

Nesse sentido, o temor do economista é que os motores econômicos do mundo estejam falhando. “Os modelos de crescimento predominantes não estão à altura da tarefa de puxar as economias diante de choques negativos imprevisíveis”, diz. “Para piorar a situação, os mesmos modelos também não conseguiram manter um nível decente de crescimento inclusivo durante períodos de menor estresse”, questiona.

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