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O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, assustou muitos em Wall Street ao adotar o Bitcoin (BTC). Mas, dois anos depois, o rali dos títulos soberanos do país está se mostrando lucrativo demais para resistir.
Os impressionantes retornos de 70% — os melhores entre os títulos em dólar dos mercados emergentes neste ano — estão atraindo investidores que antes eram cautelosos ou evitavam o produto. Gigantes como JPMorgan, Eaton Vance e PGIM Fixed Income estão entre os que recomendaram ou compraram a dívida, apostando que o retorno continuará subindo.
“Embora tenhamos perdido uma parte significativa do rali, ainda achamos que há valor na curva de El Salvador”, escreveram os estrategistas Ben Ramsey, Nishant Poojary e Gorka Lalaguna, do JPMorgan, em nota publicada em julho, na qual reforçaram visão “overweight” para a dívida salvadorenha. “Há espaço para esse crédito continuar tendo bom desempenho”.
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O otimismo demonstra como Bukele ganhou aceitação tanto de gestores financeiros quanto de seus pares na América Latina, depois que muitos o rejeitaram como um dissidente anti-establishment. Sua postura linha-dura em relação às gangues, que reduziu drasticamente a criminalidade no país, está influenciando a política em toda a região. E seu compromisso em pagar investidores o torna bem visto em mercados emergentes.
Permanecem preocupações com abusos dos direitos humanos e sua obsessão com o Bitcoin — que ele adotou como moeda oficial em 2021. No entanto, Bukele acalmou os piores temores do mercado de títulos ao arquitetar duas recompras de dívidas, contratando um ex-veterano do Fundo Monetário Internacional (FMI) como consultor e pagando de volta US$ 800 milhões em títulos.
O rendimento extra que os investidores exigem para manter títulos soberanos salvadorenhos sobre títulos similares do Tesouro dos EUA caiu para mais da metade no ano passado. As notas com vencimento a partir de 2035 estão sendo negociadas abaixo do limite de 10 pontos percentuais em relação aos bonds americanos.
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Com esse desempenho, os títulos do país entregam a um retorno médio de 6,6%, segundo um índice comparativo de países em desenvolvimento.
“A situação continua positiva do lado fiscal e Bukele está sendo muito consistente em sinalizar aos detentores de títulos que leva a sério o pagamento da dívida”, disse Zulfi Ali, gestor de portfólio da PGIM.
Além do JPMorgan, Eaton Vance e PGIM, outros que compraram títulos de El Salvador desde abril incluem Lord Abbett, Neuberger Berman Group e UBS Group, segundo dados compilados pela Bloomberg.
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“El Salvador se beneficiou da gestão proativa e prudente de seu balanço patrimonial, incluindo uma recompra de dívida durante o segundo semestre de 2022 e uma reforma substancial da previdência”, disse Mila Skulkina, gestora de recursos da Lord Abbett.
Para Shamaila Khan, head de mercados emergentes e Ásia-Pacífico do UBS Asset Management Americas, o mercado estava supervalorizando o risco de calotes futuros.
“O mix de políticas foi muito mais favorável e implica que os riscos de inadimplência nos próximos meses — e possivelmente anos — não são tão altos quanto o que foi precificado no mercado”, disse Khan.
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Ainda assim, para alguns investidores, El Salvador continua sendo um negócio de alto risco, especialmente a partir de 2027, quando o país enfrenta vários vencimentos de papéis. O governo não tem muita liberdade em seu plano de refinanciamento e pode ter dificuldades se o mercado ficar mais negativo em relação a ativos de risco, disse Katrina Butt, economista sênior da AllianceBernstein em Nova York.
As notas com vencimento em 2027, 2029 e 2032 ainda estão sendo negociadas em níveis problemáticos.
Devido aos riscos de médio e longo prazo, Claudia Calich, head de títulos de mercados emergentes da M&G Investments, mantém recomendação neutra.
Ela ressalta que, mesmo que o país consiga se recuperar nos próximos dois anos, enfrentará uma série de problemas, incluindo reservas limitadas em dólares e dúvidas sobre o acesse a mercados de capitais globais.
“Eventualmente, precisaríamos falar não apenas sobre uma situação de liquidez, mas também precisaríamos abordar uma boa formulação de políticas”, disse Calich. “Em última análise, o país precisará começar a depender dos mercados externos novamente”.