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SÃO PAULO – A chegada de um novo produto do agronegócio às prateleiras das corretoras chamou a atenção de investidores neste ano. As ofertas de Fiagros, fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais, ganharam tração e agora já somam 27 entre pedidos aprovados e em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Mais da metade das ofertas registradas ou em fase de análise pela CVM até agora são focadas em ativos de “papel”, ou seja, investem em ativos como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) ligados ao setor e do Agronegócio (CRAs), assim como em Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) ou do Agronegócio (LCAs), entre outros. Os dados são de levantamento feito pela empresa de soluções para o mercado financeiro Quantum Finance.
Essa é mais uma característica que aproxima os Fiagros dos fundos Imobiliários (FIIs), com os quais costumavam ser comparados mesmo antes de serem regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em julho de 2021. Nos últimos meses, os FIIs focados em recebíveis caíram nas graças dos investidores.
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“Hoje, cerca de 80% a 90% das captações são de fundos de CRI. Caiu no gosto do investidor. Há ainda um pouco de timing, porque esses fundos vêm sendo ajudados pela alta da inflação”, explica Evandro Santos, sócio da XP Asset. Para André Masetti, gestor de fundos estruturados da casa, as ofertas de Fiagros voltadas para ativos de “tijolo” – ou seja, que investem em imóveis físicos – tendem a ser mais difíceis porque muitos investidores estão mais acostumados com a ideia de aplicar em ativos de crédito, e não em terras.
Alocação defensiva
Por ter o foco em investimentos ligados ao agronegócio, os Fiagros podem representar uma boa opção para quem está de olho em ter uma parte da carteira com uma posição mais defensiva, especialmente com a chegada do ano eleitoral.
Na avaliação de Vitor Duarte, CIO da Suno Asset, um dos maiores benefícios do investimento é que ele garante diversificação e pode oferecer alguma proteção, considerando que o dólar deve seguir apreciado – o que costuma beneficiar empresas exportadoras, como são muitas do agronegócio – ao mesmo tempo em que o desempenho econômico local promete ser baixo ou até negativo em 2022, na avaliação de analistas.
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Duarte nota que as vendas de imóveis para algumas classes vêm caindo e que o crédito imobiliário deve ser afetado negativamente com a alta dos juros, o que pode pesar sobre o setor imobiliário. O agronegócio, por outro lado, vai muito bem e tem a vantagem de estar atrelado ao mercado internacional, diz – o que significa que, nesse caso, os efeitos do dólar mais valorizado em relação ao real são positivos.
Masetti, da XP, também vê um cenário positivo para o investimento. Um dos pontos favoráveis, segundo o gestor, é o fato de os CRAs normalmente oferecerem retornos atrelados à taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que costuma acompanhar os movimentos da taxa básica de juros, a Selic. Logo, com os juros subindo, os pagamentos recorrentes dos CRAs também tendem a ser maiores.
“Todo esse estresse fiscal provoca um cenário desafiador. Mas o lastro [garantia] de vários desses Fiagros é um ativo de renda fixa, que se beneficia de um aumento de juros”, destaca.
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Outro ponto atrativo, segundo Masetti, é que por meio dos Fiagros o investidor pode ter acesso a emissores de CRIs e CRAs para além dos mais tradicionais – caso de Marfrig, JBS e Minerva – que podem oferecer taxas mais altas.
“O grosso do mercado de CRAs, por exemplo, é JBS e Marfrig. O foco do Fiagro são CRAs de nomes não muito óbvios. Isso é bom para o produtor que tem acesso a um crédito diferente e bom para os investidores, que podem diversificar mais a carteira”, acrescenta Santos, da XP.
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Com um detalhe: para acessar um CRA ou CRI, o investidor de varejo precisa aportar valores que costumam iniciar em R$ 800, ao contrário do que ocorre com os Fiagros, onde há cotas que custam cerca de R$ 10.
Isso sem contar que o novo produto promete chegar às prateleiras com isenção de Imposto de Renda para pessoa física e sem come-cotas, segundo a Lei nº 14.130/2021, que rege os Fiagros, aprovada no começo deste ano. É, nesse aspecto, o mesmo funcionamento dos fundos imobiliários.
Ao que tudo indica, o valor mais baixo das cotas e a possibilidade de diversificação têm ajudado a atrair investidores de varejo. Entre as ofertas voltadas para o público em geral já registradas, a presença de pessoas físicas foi dominante. Na primeira emissão do Fiagro da Riza Asset Management, por exemplo, 96% dos investidores participantes eram pessoas físicas.
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Desvantagens do investimento
Embora o produto possa oferecer uma boa diversificação para as carteiras, é preciso ter em mente que a rentabilidade de curto prazo dos Fiagros deve ser menor do que a dos fundos imobiliários.
Duarte, da Suno Investimentos, diz que o agronegócio possui mais fatores desconhecidos. “No caso do imobiliário, se você quiser saber onde está o prédio, você vai no cartório, vê a escritura. No caso do agro, há algumas incertezas. A terra pode ser invadida. Assim como pode ocorrer uma geada e prejudicar a produção, por exemplo”.
Outro ponto de atenção tem a ver com a tese de investimento do negócio. O especialista da Suno nota que o investidor precisa olhar com atenção as premissas do gestor para entender se elas são críveis e questionar se “elas param em pé”.
Há ainda os problemas de liquidez usuais em mercados novos. Masseti, da XP, diz que os Fiagros precisam amadurecer para que a liquidez – ou seja, o nível de facilidade com que um investidor pode se desfazer de um determinado ativo – aumente.
“A indústria está nascendo do zero, ela vai amadurecer com os follow-on [ofertas subsequentes de cotas]”, diz Masseti. No primeiro boom dos fundos imobiliários, entre 2010 e 2012, lembra o gestor, os FIIs tinham um mercado secundário pequeno. Agora que esse mercado foi apresentado e assimilado pelo varejo, a arrebentação já foi quebrada. “Isso tende a facilitar pros Fiagros”, afirma.
Santos acrescenta que a liquidez pode melhorar com a entrada mais forte de investidores institucionais. “Eles costumam sentir primeiro o mercado. Vão tateando porque o momento é delicado e devem entrar mais pesado quando o mercado melhorar”, avalia.
Uma alternativa, nesse caso, é priorizar ofertas do tipo CVM 400 – coordenadas por corretoras mais populares e abertas para investidores em geral, em vez de restritas a investidores profissionais. Segundo Duarte da Suno, elas podem oferecer maior liquidez. “Ainda assim, vai ser menor do que os FIIs. Por isso, a pessoa deve investir aquilo que não vai precisar vender no curto prazo”, acrescenta.
Janela de ofertas mais seletiva
Embora os pedidos de registro sigam a todo vapor, o valor captado pelas gestoras deve ser reduzido. Masetti, da XP, diz que as ofertas vão seguir, mas a expectativa da casa é de que as captações atinjam entre 70% e 80% do valor pretendido. Com isso, afirma, o valor de R$ 3 bilhões em captações de Fiagros que a XP previa há alguns meses para 2021 deve cair para algo em torno de R$ 1,5 bilhão.
A razão, explica o gestor, está ligada ao estresse que vive o mercado hoje. “Há uma incerteza grande em relação ao furo no teto de gastos, há um aumento grande na curva de juros. Com isso, o custo de oportunidade muda de forma radical e torna o cenário mais desafiador”.
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• O triste fim do teto de gastos
André Ito, fundador da MAV Capital, gestora que aguarda o registro de um Fiagro na CVM, afirma que o mau tempo no mercado financeiro atrapalha, mas não “fecha totalmente” a janela de ofertas.
“Vamos começar a verificar várias ofertas sendo postergadas, o que prejudica os gestores que estão vindo e vai deixando a janela mais complicada. A preferência dos gestores é sair [com as ofertas] até o fim do ano, dado que seria uma janela melhor”, destaca.
Nesse cenário, o executivo da MAV diz que os investidores devem ser mais seletivos com as ofertas. Para isso, ele diz que uma boa parte deve priorizar gestores que estão alocando maiores percentuais da carteira em ativos que remuneram a CDI mais uma taxa. Com o aumento dos juros, isso tende a se refletir em melhores retornos para o portfólio do fundo, pondera Ito.
Confira quais são as ofertas de Fiagros já registradas ou em análise na CVM:
Fundo | Gestor | Tipo de Fiagro |
SANTA FÉ TERRA MATER FIAGRO FII – FARM11 | Santa Fé Investimentos | Tijolo |
RIZA AGRO FIAGRO FII – RZAG11 | Riza Asset Management | Papel |
HEDGE AGRO I FIAGRO FII | Hedge Investments | Não Divulgado |
XP FLORESTAL I FIAGRO FII | XP Asset Management | Tijolo |
HEDGE AGRO II FIAGRO FII | Hedge Investments | Não Divulgado |
STONEX FAI PECUÁRIA I FIAGRO FIDC | StoneX | Não Divulgado |
FG/AGRO FIAGRO FII – FGAA11 | BRL Trust Investimentos | Papel |
KINEA CRÉDITO AGRO FIAGRO FII – KNCA11 | Kinea Investimentos | Papel |
XP CRÉDITO AGRÍCOLA FIAGRO FII – XPCA11 | XP Asset Management | Papel |
VALORA CRA FIAGRO FII – VGIA11 | Valora Investimentos | Papel |
GALAPAGOS RECEBÍVEIS DO AGRONEGÓCIO FIAGRO FII – GCRA11 | Galapagos Capital | Papel |
CAPITÂNIA AGRO PROPERTIES FIAGRO FII | Capitânia | Não Divulgado |
NCH RECEBÍVEIS DO AGRONEGÓCIO FIAGRO FII – EQIA11 | NCH Capital Brasil | Papel |
ECOAGRO I FIAGRO FII – EGAF11 | Eco Agro | Multiclasse (Papel + Outros Fundos) |
JGP CRÉDITO FIAGRO FII – JGPX11 | JGP | Papel |
PLURAL CRÉDITO AGRO FIAGRO FII | Plural | Papel |
NAGRO KARDINAL FIAGRO FIDC | Kardinal | Não Divulgado |
CANVAS FIAGRO FII | Canvas Capital | Papel |
INSUMOS MILÊNIO TERRAMAGNA FIAGRO FIDC | Sow Capital | Não Divulgado |
CAPITÂNIA AGRO PROPERTIES FIAGRO FII I | Capitânia | Não Divulgado |
BB FIAGRO FII | BB Gestão de Recursos DTVM | Papel |
MAV CRÉDITO FIAGRO FII | Rio das Pedras Investimentos | Papel |
DEVANT FIAGRO FII | Devant Asset | Papel |
KIJANI ASAGREEN FIAGRO FII | Singulare Invest | Não Divulgado |
ITAÚ ASSET RURAL FIAGRO FII | Itaú Unibanco | Papel |
BTG PACTUAL CRÉDITO AGRÍCOLA FIAGRO FICFIDC | BTG Pactual Gestora de Recursos | Não Divulgado |
VECTIS DATAGRO CRÉDITO AGRONEGÓCIO FIAGRO FII | Vectis Gestão | Papel |
Fonte: Quantum Finance
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