Publicidade
SÃO PAULO – Muita calma com o otimismo para 2021. Ainda que o lançamento de vacinas contra o coronavírus seja visto como uma grande notícia para desanuviar o horizonte de investimentos nesta virada de ano, alimentando a perspectiva de retomada da normalidade nas economias, os problemas domésticos do Brasil não vão desaparecer de uma hora para outra.
A visão é de José Tovar, CEO da Truxt Investimentos, para quem as premissas para a Bolsa são favoráveis para o novo ano, porém com o mercado brasileiro basicamente pegando carona na cena externa.
Como nove em cada dez gestores, as tensões recam sobre o controle das contas públicas do país, em um quadro agravado pelas medidas adotadas para conter os estragos da pandemia.
Continua depois da publicidade
Os fundos de ações da Truxt caminham para encerrar um grande ano. O Truxt I Long Bias FIC FIM rendia nada menos que 43% em 2020 até o último dia 24, enquanto o Truxt I Valor FIC FIA acumulava ganhos da ordem de 32%. No mesmo período, o Ibovespa subiu 1,87%.
A gestora tem entre as principais apostas as ações de Vale, XP, Stone, Mercado Livre, BTG, B3, Natura, Magazine Luiza, Omega Energia e Petz.
No câmbio, a Truxt abandonou a posição “comprada” (com aposta na valorização) em dólar e, em juros, os prêmios mais altos ainda não convenceram a gestora. “Não temos coragem de ficar tomados em juros mesmo com as taxas altas, porque há um risco de a situação perder o controle”, disse Tovar, ao InfoMoney.
Continua depois da publicidade
Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
InfoMoney: Qual a perspectiva para os investimentos em 2021?
Tovar: Com a eleição de Joe Biden e um Senado que deve ser levemente republicano nos Estados Unidos, houve uma animada no mercado, porque o Biden é uma pessoa mais previsível. A estratégia geopolítica vai ser mais amigável, negociada, o que gera uma tranquilidade especialmente nos conflitos com a China.
Continua depois da publicidade
E um congresso não democrata faz com que os gastos sejam controlados, prevê um equilíbrio nos Estados Unidos, embora estejamos animados com o crescimento do país, com impacto sobre os emergentes e, inclusive, sobre o Brasil.
O segundo ponto animador foi a vacina e a expectativa de vacinação. Colocando o vírus como uma questão solucionável, resta o quadro local, que é preocupante em termos de agenda. Temos tudo paralisado por conta da eleição da Câmara. Depois das eleições é que vamos ver como o governo vai lidar com o fiscal.
Ainda existe muita dúvida sobre o que vai ser feito em termos de privatização, redução de gastos, reforma administrativa. Acredito que será mais do mesmo, não estou muito animado.
Continua depois da publicidade
É claro que as empresas que atravessaram bem essa crise vão continuar a se beneficiar. Mas o crescimento do PIB vai diminuir, sem a ajuda emergencial o consumo vai cair no primeiro trimestre, então vamos acompanhar o efeito sobre a popularidade do presidente.
IM: O otimismo com os mercados parte, então, mais de uma carona com o restante do mundo do que pelo quadro doméstico?
Tovar: Sim, estamos pegando carona com a melhora lá fora e com a vacina, que deve eliminar o problema da Covid no Brasil nos próximos meses. Mas não estou entusiasmado com movimentos visando reforma administrativa, redução de benefícios, do tamanho do Estado, privatização.
Continua depois da publicidade
IM: O que deu certo para a estratégia em Bolsa da Truxt neste ano e no que estão confiantes para 2021?
Tovar: Em primeiro lugar, estávamos pouco animados no começo do ano, com menos risco no mercado, e fomos ágeis na montagem das posições, com uma carteira que andou muito bem quando foram anunciadas as medidas dos bancos centrais para conter a crise. Nosso foco esteve em vendas pela internet, financial deepening [expressão que se refere ao aprofundamento dos mercados financeiros e de capitais], minério de ferro.
Temos Vale, XP, Stone, Mercado Livre, BTG, B3, Natura, Magazine Luiza, Omega Energia, Petz na carteira. E continuamos animados com essas empresas, independentemente da questão fiscal.
IM: A gestora fez alguma grande mudança no portfólio para começar o ano?
Tovar: Não. Continuamos gostando da carteira, diminuímos os hedges de Bolsa e a posição em ouro. A carteira está mais “solta” no long bias, e retiramos o hedge de câmbio por conta da eleição do Biden. Não chegamos a estar vendidos em dólar, mas saímos da posição comprada e vamos ver como o Brasil começa depois da eleição da Câmara.
IM: O que vocês evitariam ter hoje na carteira?
Tovar: Não temos coragem de ficar tomados em juros [posição que se beneficia da alta dos prêmios] mesmo com as taxas altas, porque há um risco de a situação perder o controle. E também não temos coragem de vender dólar, por mais que acreditemos que ele esteja fora do lugar se houver uma melhora do fiscal. O risco fiscal está muito refletido no preço do dólar e na inclinação do juro.
IM: Temos visto gestores e estrategistas apontarem uma rotação das carteiras para mercados emergentes, com destaque para asiáticos. Como a Truxt está posicionada no exterior, em especial na Ásia?
Tovar: Nossa grande aposta em China se dá via Vale. A economia está indo muito bem, olhamos com atenção para o crédito no país. E continuamos a olhar para ações de tecnologia no exterior, temos algumas na carteira, em busca também do novo Magalu ou do novo Mercado Livre.
IM: Qual a principal recomendação para o investidor em 2021?
Tovar: A grande lição foi o investidor local ter passado com louvor este ano. Apesar de ter tomado pancada, aguentou firme e foi recompensado pela recuperação dos mercados. Mas é preciso tomar muito cuidado com a literatura. Há muito material sendo oferecido, prometendo coisas mágicas, com propagandas enganosas. É importante estudar bem o mercado ou conhecer no que o seu gestor vai alocar. E depois de fazer o investimento, planeje-se para deixar o dinheiro aplicado por um longo período.
Quer migrar para uma das profissões mais bem remuneradas do país e ter a chance de trabalhar na rede da XP Inc.? Clique aqui e assista à série gratuita Carreira no Mercado Financeiro!