Inovadores nas redes, conservadores nos investimentos: confira onde aplicam três jovens TikTokers que somam 10,8 milhões de seguidores

Apesar da pouca idade, influenciadores digitais estão de olho na compra de imóveis e preferem deixar o dinheiro aplicado na caderneta de poupança

Bruna Furlani

Crédito da arte: Leonardo Albertino
Crédito da arte: Leonardo Albertino

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SÃO PAULO – Entre uma gravação e outra para campanhas de grandes marcas e videoclipes com cantores brasileiros e alguns até mesmo internacionais, Ramana Borba, 20 anos, não tira os olhos do celular. A carga horária de trabalho, que pode superar 12 horas diárias, é exaustiva. Mas a jovem dançarina ainda precisa achar tempo para ensaiar e pensar em novas coreografias para os mais de 4,1 milhões de seguidores que possui só na rede social TikTok.

À primeira vista, a rotina de Ramana – que começou a dançar aos 13 anos e se profissionalizou aos 17 – pode até lembrar a carreira de outras artistas jovens. Boa parte do que conquistou, no entanto, partiu das redes sociais. Com a fama, ela chamou a atenção até mesmo da cantora americana pop Cardi B.

Mesmo sem abrir quanto costuma ganhar com publicidade, a jovem diz que adquiriu a independência financeira durante a pandemia, com o dinheiro que recebe pelos conteúdos que cria no Instagram, no YouTube e no TikTok. Uma rotina que exige também disciplina para poupar e seguir aumentando o patrimônio.

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Ramana Borba
Crédito da arte: Leonardo Albertino

A preocupação com os gastos, contudo, não é única de Ramana. A entrada mais cedo no mercado de trabalho também fez com que os influenciadores digitais Martin Klayver, focado em danças urbanas, e Mirella Qualha, que fala de forma bem-humorada sobre beleza e maquiagem, buscassem a independência financeira desde cedo. O que parece fugir à regra para jovens de 20 anos como eles.

Pelo menos é isso o que mostra levantamento recente feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Nele, seis em cada dez jovens da chamada geração Z, ou seja, com até 24 anos, afirmaram que não guardam dinheiro de forma alguma, segundo dados divulgados na pesquisa Raio-X do Investidor.

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Mas, se por um lado, o trio parece um pouco à frente dos jovens da sua idade no que tange à formação de uma reserva financeira, quando o assunto é investimento, a preferência não está em ativos mais arriscados, como criptomoedas ou ações.

Conservadorismo x juventude

Para os três influenciadores, por incrível que pareça, a rainha das aplicações é a poupança. Ramana, por exemplo, conta preferir ser mais conservadora para evitar grandes perdas. “Meu foco principal é liquidez. Quero garantir que consigo manter o [valor] principal que investi. Por isso, prefiro a poupança”, diz a jovem.

Ela conta que, nesse momento de pandemia, tem acompanhado alguns canais de YouTube com foco em investimentos e tem se assustado com a oscilação de preços dos ativos observada. Para a dançarina, há grande assimetria entre o dinheiro que pode ganhar e o que pode perder. Por isso, ainda não se sente segura para arriscar.

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A poupança também é a “queridinha” de Klayver, com mais de 5,2 milhões de seguidores no Tik Tok e 1,4 milhão no Instagram. Com seus vídeos de danças urbanas, ele conta que já chegou a receber cerca de R$ 15 mil por publicidade em publicações que não passavam de 30 segundos. E diz poupar boa parte do que recebe.

Martin Klayver
Crédito da arte: Leonardo Albertino

“Meus pais me ensinaram a ser bem rígido com dinheiro. Então, se tirei R$ 20 mil neste mês, por exemplo, pego R$ 5 mil para gastar, R$ 5 mil para reinvestir e melhorar o conteúdo que publico nas redes e R$ 10 mil para investir na poupança”, conta o dançarino.

Apesar de ter um retorno mais baixo, Rayver admite que investe no produto de renda fixa por não conhecer opções melhores e diz só ter conta em banco.

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“Vejo bastante propaganda sobre bolsa de valores em anúncios na internet e sinto muita vontade de investir, mas acho difícil de entender. Acho que tem que estudar muito, fazer um curso. Ainda não me sinto preparado.”
Martin Klayver

A possibilidade de correr mais riscos também não está nos planos de Mirella Qualha. Pelo menos, por enquanto, mesmo morando com os pais e com possibilidade de poupar mais do dinheiro ganho com publicidade.

“Deixo tudo na poupança. Por exemplo, se recebo R$ 1 mil de cachê com uma publicação, já guardo uns R$ 800 na poupança e o resto uso para reinvestir em coisas para as redes, ou para gastar com o que quero”, conta.

A jovem diz que chegou a fazer algumas aulas de finanças durante a formação de técnica em administração durante o ensino médio, mas admite que faltou um maior direcionamento financeiro em sua vida escolar. “Sei o básico do básico. Não tive o despertar para isso. Também acho que poderia procurar mais conteúdo sobre finanças se eles tivessem uma linguagem mais fácil e divertida”, afirma.

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Para Mirella, hoje, a vantagem de deixar o dinheiro guardado na poupança é mesmo a segurança. Ela conta que fica com um “pé atrás” de investir em algo mais arriscado e que não sabe ao certo se deseja fazer aplicações com foco no curto, no médio ou longo prazo.

Mirella Qualha
Crédito da arte: Leonardo Albertino

A jovem também diz ter receio por ainda não contar com uma renda mensal estável. “Há meses em que faturo bem, outros menos. Então, tenho medo de deixar o dinheiro em uma aplicação e de não poder pegar quando precisar.”

Nem sempre foi assim, contudo. Mirella diz que era bastante consumista, mas foi mudando ao longo dos anos. “Antes, eu não podia ter um dinheiro que já gastava. Agora, parei de pensar que sempre vou morar na casa dos meus pais. A palavra da vez pra mim é independência. Acho que isso me tornou mais consciente.”

De olho em imóveis

É justamente com o dinheiro que ganha das redes sociais que a influenciadora deseja alcançar um dos seus grandes sonhos: a compra de um apartamento. A jovem, que começou a trabalhar como modelo profissional a partir dos 17 anos, já se planeja para dar entrada em breve em um apartamento em São Paulo e assim, sair da casa dos pais em Campinas, no interior do estado.

Apesar da pouca idade, o desejo de comprar um imóvel também está nos planos de Ramana. Na ponte aérea entre Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo há cerca de três anos, a jovem afirma ter vontade de comprar uma casa e montar um estúdio de gravação no Rio de Janeiro, o que a ajudaria a diminuir a rotina cansativa de viagens.

Ramana conta que a família chegou a analisar financiamentos de prazos mais longos, mas que preferiu não se comprometer com dívidas e que agora espera para ter um bom dinheiro para investir em um imóvel.

Klayver também está de olho na compra de um apartamento, porém com foco na possibilidade de garantir uma renda. O dançarino afirma que recentemente comprou um carro, mas que agora a prioridade é adquirir um imóvel para alugá-lo.

Reinvestimento

Além de olhar para imóveis, os três não deixam de reinvestir parte do dinheiro que recebem com as publicidades para melhorar a qualidade dos vídeos que fazem. Para manter os mais de 5,2 milhões de seguidores, Klayver, por exemplo, aplica uma fatia do cachê especialmente em roupas e iluminação.

“As pessoas veem meus vídeos e pensam: quero ter o estilo daquela pessoa. Então, como dançarino, invisto muito para ter um tênis legal, uma luz legal. Já gastei entre R$ 20 mil e R$ 25 mil em roupas e equipamentos como celular”, destaca.

Da mesma forma, Mirella segue reinvestindo em melhorias para suas redes sociais por acreditar que, quanto melhor for a qualidade do seu trabalho, maior será seu faturamento. “Já investi cerca de R$ 25 mil para deixar os vídeos visualmente melhores.”

Mas nem sempre sobrou dinheiro para investir. O começo da carreira da influenciadora ocorreu de forma bem improvisada, com o primeiro vídeo para o TikTok gravado logo que teve início a quarentena em São Paulo.

O começo de tudo

Tudo começou com uma dublagem com tom mais engraçado de um meme conhecido. “A ideia começou com uma brincadeira. Postei sem muita expectativa de que virasse algo grande, só que virou uma febre e as pessoas começaram a me pedir mais”, diz. Mirella já tinha feito alguns vídeos no Instagram antes, mas o alcance foi muito maior quando passou a publicar também no TikTok.

Segundo a modelo, o cache médio por publicidade gira entre R$ 7 mil e R$ 10 mil. “Comecei fazendo mais dublagens, mas depois vi que tinha um potencial muito grande para que eu falasse também sobre maquiagem, beleza e moda.”

Ainda que a renda não seja muito estável, Mirella diz que pretende continuar os trabalhos de influenciadora digital e que, por enquanto, não planeja fazer faculdade. O próximo projeto é abrir uma loja online de roupas com seu estilo.

Também foi na pandemia que Klayver começou a publicar vídeos com coreografias de danças urbanas no TikTok. Com a paralisação das atividades na academia de dança dos pais, ele disse que se viu forçado a dar aulas online para complementar a renda e que passou a gravar alguns vídeos para mostrar mais o seu trabalho.

“O início foi bem improvisado, gravei com um celular quebrado. Fiquei cerca de um mês publicando vídeos, até que, no mês seguinte, recebi alguns retornos para contratos de publicidade. Foi tudo muito rápido”, conta o dançarino.

Klayver diz ter se se espantado ao ver a repercussão ao publicar o primeiro vídeo com uma coreografia, ao passar de 100 mil visualizações. “Quando vi a repercussão, decidi gravar mais vídeos e pensei que era a hora de me destacar investindo em roupas, tênis.”

Segundo o influenciador, já foi possível ver o retorno do que investiu e conta, inclusive, que não precisa mais ir atrás de patrocinadores.

Ao ser questionado sobre dicas que daria para quem está de olho em virar um influenciador digital, Klayver diz que o segredo é estar sempre atrás das novidades, acompanhar as publicações de influenciadores americanos, que geralmente ditam as tendências, e não parar de investir nas redes sociais. “É muito importante ter uma roupa bonita, um tênis legal e bons equipamentos para que a qualidade dos vídeos que você produz só melhore”, finaliza.

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