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Em um período de aberturas de capital e ofertas de ações minguadas na Bolsa brasileira, as captações de Fundos Incentivados de Investimento em Infraestrutura (FI-Infras) conseguiram driblar o cenário de maior aversão a risco no País. Entre o fim de setembro e o começo deste mês, duas ofertas conseguiram captar cerca de R$ 300 milhões, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial.
Uma delas é de um FI-Infra da Sparta, que encerrou a terceira emissão de cotas do fundo [ativo=JURO11] na sexta-feira (7). A demanda levou a gestora a colocar um lote adicional na oferta – que totalizou R$ 300 milhões – e realizar rateio entre os investidores, indicando que a demanda pelas cotas foi forte. Os dados não consideram a taxa de distribuição primária. A distribuição foi feita pela RB Investimentos.
A outra foi do [ativo=BDIF11], FI-Infra gerido pelo BTG Pactual, que captou R$ 308,1 milhões. Isso sem considerar a taxa de distribuição primária. O valor ficou também acima dos R$ 300 milhões esperados inicialmente pela gestora, com a colocação de lote adicional. Também houve rateio.
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Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, acredita que parte do resultado está ligada ao fato de as debêntures incentivadas investidas pelo FI-Infra terem prazo longo e serem emitidas por empresas cujos contratos são reajustados pela inflação. Logo, elas tendem a apresentar risco menor em um cenário de preços em alta.
“É um produto que tem uma expectativa de retorno e um nível de risco mais sob controle. É uma classe nova. O número de investidores está aumentando e o investidor está amadurecendo. Ele consegue perceber hoje que é possível diversificar a carteira em um setor de baixo risco”, disse Nehmi, em entrevista exclusiva ao InfoMoney,
Outro fator que pode ter favorecido a captação é a visão do mercado de que não haveria uma ruptura após as eleições presidenciais, observa Nehmi. Segundo o executivo, os candidatos que avançaram para o segundo turno – Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) – já são conhecidos. Por isso, os meses anteriores ao pleito não chegaram a ser marcados por uma volatilidade excessiva, o que é típico em anos eleitorais.
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Os números da oferta mostraram o apelo do FI-Infra entre os pequenos investidores. Dos 10,3 mil participantes da terceira emissão de cotas do JURO11, 10,2 mil foram pessoas físicas. Um dos grandes atrativos é a renda mensal oferecida pelo fundo, além da isenção do Imposto de Renda para esse público – que vale tanto para os rendimentos periódicos quanto para o ganho de capital com a negociação das cotas.
A título de comparação, os dividendos dos fundos imobiliários (FIIs) também são isentos, mas o ganho de capital é tributado em 20%.
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Deflação teve efeito limitado
Além da isenção tributária, outro fator que pode ter ajudado a captação é o fato de o JURO11 ter uma meta de retorno de 8,3% ao ano, mais a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Ou seja, a rentabilidade é formada por duas componentes: uma prefixada e outra atrelada à inflação.
Ao ser questionado sobre o possível efeito da deflação registrada nos últimos dois meses sobre o fundo, Nehmi afirma que o retorno oferecido pelo FI-Infra não foi afetado. Segundo ele, a marcação a mercado fez com que o retorno do JURO11 ficasse positivo no fim do mês. A razão está nos ativos do fundo, que ofereciam taxas mais elevadas do que as praticadas atualmente, ajustadas para baixo depois que o Banco Central indicar o fim do ciclo de alta da Selic, mantida em 13,75% ao ano.
Assim como ocorre com os títulos públicos, a queda nas taxas oferecidas pelos ativos do FI-Infra levou os preços a subir. Isso ocorre porque durante a existência de um papel de renda fixa, seu preço é marcado conforme as taxas que o mercado precifica a cada dia.
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Na prática, os papéis costumam valorizar quando as taxas de juros estão em tendência de queda. O contrário também é verdadeiro: os preços dos papéis normalmente caem quando as taxas de juros sobem, como estava ocorrendo nos meses anteriores, enquanto o mercado precificava uma provável continuação do ciclo de aperto monetário.
Para entender porque o JURO11 foi pouco afetado, basta pensar na sua rentabilidade como uma balança. O aumento dos preços dos títulos que compõem o fundo pesou positivamente e influenciou mais do que a deflação dos últimos dois meses.
Além disso, Nehmi diz que adotou hedges (proteções) para preservar o retorno do fundo em meio a um cenário de deflação no curto prazo. Para isso, o executivo afirma que adquiriu derivativos com o objetivo de trocar a exposição à inflação pelo CDI (taxa de referência da renda fixa e que acompanha bem de perto a Selic).
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Novo governo não deve atrapalhar próximas ofertas
Para os próximos meses, a expectativa para os FI-Infras deve seguir positiva, com a volta de várias ofertas que ficaram represadas durante o período eleitoral, afirma Nehmi.
“Passando a incerteza da eleição, acredito que volta a abrir esse mercado. As taxas estão elevadas e vemos um pipeline robusto”, avalia. Segundo o executivo, a expectativa é que ofertas mais ligadas a saneamento, concessões rodoviárias e agronegócio ganhem ainda mais tração.
Não à toa: pela primeira vez desde a criação do fundo, em dezembro de 2021, o setor que respondeu pela maior parte das alocações do JURO11 foi o de saneamento, e não o de geração de energia elétrica, tradicionalmente um segmento bastante representativo entre as debêntures incentivadas.
Ainda que o resultado das eleições aponte para uma vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), avesso a privatizações e a uma política econômica desestatizante, a avaliação de Nehmi é de que a redução do peso de instituições públicas – como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – no financiamento de projetos de longo prazo veio para ficar.
“Acho difícil ter um ‘cavalo de pau’ do dia para a noite. É um segmento que está crescendo muito. Independentemente do governo, acho que a infraestrutura teria uma dinâmica própria”, conclui, ao dizer que uma guinada do BNDES levaria tempo e a tendência de financiamento das companhias continuaria a privilegiar o mercado de capitais, no lugar dos bancos públicos.