Publicidade
Mesmo diante de um cenário macroeconômico adverso, que afetou a captação em 2023, os Fiagros (fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais) distribuíram dividendos acima da taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), principal indexador da renda fixa, em março.
Segundo levantamento antecipado ao InfoMoney, o AGRX11, da gestora Exes, conquistou a liderança, com um dividend yield de 1,67% no mês.
De acordo com os dados levantados por Anna Clara Tenan, especialista em Fiagros da Órama, a taxa média de retorno com dividendos (dividend yield) dos Fiagros tipo FII (que reproduzem a estrutura dos fundos imobiliários) foi de 1,28% ao mês. O valor foi levemente abaixo do que o registrado em fevereiro, de 1,35% ao mês.
Continua depois da publicidade
Dado que os dividendos dos Fiagros são isentos de Imposto de Renda, o dividend yield equivale a um retorno de 1,50% fazendo a conta com o gross-up da tributação. Gross-up é um cálculo que permite a comparação de investimentos isentos e não isentos de impostos. O resultado equivale a uma taxa de 128% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) no mês, considerando o número de dias úteis em março.
Nos últimos 12 meses, o dividend yield médio dos Fiagros tipo FII sempre superou 1% ao mês, com destaque para julho de 2022 e janeiro deste ano, quando houve um pico nos dividendos. Em março, houve uma queda média de 5% nos rendimentos.
Segundo Anna Clara, essa baixa se justifica por dois motivos. O primeiro é que os dividendos dos Fiagros pagos em março são referentes aos rendimentos dos fundos em fevereiro, um mês com menos dias úteis, o que afeta o acumulo diário das taxas que rentabilizam os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) presentes nas carteiras dos fundos.
Continua depois da publicidade
O segundo motivo tem a ver com a estratégia dos gestores, que deixaram de concentrar pagamentos elevados em apenas alguns meses e passaram segurar caixa para linearizar as distribuições, trazendo mais previsibilidade para os investidores.
Confira os Fiagros que pagaram os maiores dividendos em março de 2023:
Fiagro | Gestor | Segmento | Dividendos pagos em março/2023 | Dividend yield em março/2023 | Data de Pagamento | Regra de Distribuição |
AGRX11 | Exes Gestora de Recursos | CRAs | R$ 0,18 | 1,67% | 14/03/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
OIAG11 | Ourinvest Asset Management | CRAs | R$ 0,17 | 1,59% | 14/03/2023 | No 10º dia útil de cada mês. |
NCRA11 | NCH Capital Brasil | CRAs | R$ 0,15 | 1,46% | 23/03/2023 | No 17º dia útil do mês subsequente. |
VGIA11 | Valora Investimentos | CRAs | R$ 0,14 | 1,43% | 17/03/2023 | Até o 13º dia útil dos meses de fevereiro e agosto. |
CPTR11 | Capitânia Investimentos | CRAs | R$ 1,35 | 1,41% | 17/03/2023 | Não informado |
LSAG11 | Leste | CRAs | R$ 1,48 | 1,39% | 14/03/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
IAGR11 | SFI Investimentos | CRAs | R$ 1,36 | 1,36% | 14/03/2023 | Até o 10º dia útil do mês subsequente. |
AAZQ11 | AZ Quest Investimentos | CRAs | R$ 0,13 | 1,35% | 14/03/2023 | Não informado |
FGAA11 | FG/A Gestora | CRAs | R$ 0,13 | 1,34% | 14/03/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
XPCA11 | XP Asset Management | CRAs | R$ 0,13 | 1,33% | 14/03/2023 | Até o 10º dia útil. |
GCRA11 | Galapagos Capital | CRAs | R$ 1,24 | 1,32% | 14/03/2023 | No 10º dia útil dos meses de fevereiro e agosto. |
RZAG11 | Riza Asset Management | CRAs | R$ 0,12 | 1,30% | 14/03/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
DCRA11 | Devant Asset | CRAs | R$ 0,11 | 1,25% | 14/03/2023 | No 10º dia útil após o encerramento do período de apuração. |
EGAF11 | Eco Agro | CRAs | R$ 1,20 | 1,20% | 14/03/2023 | Até o 10º dia útil do mês subsequente. |
PLCA11 | Genial Investimentos | CRAs | R$ 1,10 | 1,17% | 14/03/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
JGPX11 | JGP | CRAs | R$ 1,13 | 1,17% | 14/03/2023 | No 10º dia útil do mês subsequente. |
HGAG11 | HGI Capital | CRAs | R$ 0,47 | 1,15% | 07/03/2023 | Não informado |
BBGO11 | BB Asset Management | CRAs | R$ 0,87 | 1,12% | 14/03/2023 | Não informado |
RURA11 | Itaú Asset Management | CRAs | R$ 0,11 | 1,06% | 07/03/2023 | No 5º dia útil do mês subsequente. |
SNAG11 | Suno Asset | Híbrido | R$ 1,06 | 1,06% | 24/03/2023 | Não informado |
KNCA11 | Kinea Investimentos | CRAs | R$ 1,08 | 1,01% | 13/03/2023 | Não informado |
VCRA11 | Vectis Gestão | CRAs | R$ 1,00 | 0,96% | 13/03/2023 | No 9º dia útil do mês subsequente. |
Fonte: Órama, com dados da Quantum Axis. Dados coletados no dia 22/03/2023. Periodicidade dos dividendos: mensal.
Continua depois da publicidade
Veja também:
Com avanço dos Fiagros e “empurrãozinho” da Selic, número de investidores do agronegócio quase dobra
Agronegócio no Brasil dá salto em 20 anos e hoje equivale ao PIB da Argentina
Continua depois da publicidade
Dividendos elevados até quando?
Embora a economia brasileira já esteja dando sinais de asfixia pelos juros elevados, o que gerou um risco de crédito que contaminou a indústria, a expectativa de Anna Clara é de que os Fiagros ainda entreguem dividendos acima de 1% ao mês ao longo de 2023, principalmente enquanto a Selic permanecer no patamar de 13,75% ao ano.
Segundo a Órama, a taxa básica de juros deve recuar só após o Banco Central ter uma visão mais clara da nova regra fiscal, ainda não anunciada pelo governo. Cortes na Selic teriam espaço apenas na segunda metade do ano, finalizando 2023 com uma taxa de 12%.
Além da correção pelo CDI ou pelo IPCA, os Fiagros oferecem um spread (taxa adicional) que empurra o retorno para um patamar superior ao dos juros atuais. Os fundos embutem ainda o benefício da isenção de Imposto de Renda – desde que sejam negociados na Bolsa e possuam, no mínimo, 50 cotistas. “Os rendimentos devem superar os dos FIIs em 2023”, destaca Anna Clara.
Continua depois da publicidade
Os três Fiagros que mais pagaram dividendos em março
O Fiagro que mais pagou dividendos em março foi o AGRX11, que remunerou os seus cotistas com R$ 0,18 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,67%. Em fevereiro, o fundo tinha apresentado um dividend yield de 1,56%.
Com dividendos mais baixos, em torno a R$ 0,10 por cota, o fundo não se destacava em 2022. Contudo, está ganhando popularidade entre os investidores em 2023.
Trata-se de um Fiagro recente, listado em agosto de 2022, quando ainda estava no período de carência dos juros dos CRAs em que investe. Até recentemente, o Fiagro não estava recebendo 100% dos rendimentos da carteira, nem pagando dividendos pelo regime de competência, o que mudou atualmente.
Com o fim da carência dos juros e o caixa cheio, o Fiagro deve passar a pagar dividendos mais altos nos próximos meses, acreditam os analistas. A carteira do fundo é mista, com uma rentabilidade média de CDI mais 5,4% ao ano em 86% dos ativos, e IPCA mais 7,9% ao ano em 14% do portfólio.
Pelo menos 80% da carteira está relacionada a grãos. O fundo também origina muito dos CRAs investidos, o que permite vendas no secundário com ganho de capital. Cada operação investida possui garantias diversas, o que traz segurança ao investidor.
Na segunda posição está o OIAG11, que remunerou novamente os cotistas com R$ 0,17 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,59% em março.
O Fiagro, gerido pela Fator ORE, tem uma carteira com rentabilidade média de CDI mais 4,9% ao ano. A gestão do fundo é ativa, originando muitos dos CRAs investidos e fazendo vendas de ativos no mercado secundário para conseguir ganhos com spreads (diferença entre preço de compra e venda).
Segundo Anna Clara, o OIAG11 tem conseguido oferecer dividendos acima da média justamente em função do lucro na venda de CRAs – que, se permanecer, tende a beneficiar o fundo.
Recentemente, o fundo encerrou uma oferta secundária com captação de R$ 49 milhões, dobrando seu patrimônio. Os recursos devem ser utilizados para a compra de novos CRAs, mas como o fundo possui uma boa reserva de lucros, a expectativa é que os dividendos não diminuam no período de alocação.
O terceiro Fiagro que mais pagou dividendos em março foi o NCRA11, com R$ 0,15 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,46% no mês.
Anna Clara explica que o fundo passa por um processo de estabilização do valor dos dividendos em 2023. Até então, o NCRA11 geralmente fazia distribuições maiores no final de cada semestre. Agora, a gestora já deixou claro que os rendimentos ficarão próximos do patamar observado nos primeiros meses deste ano.
A analista explica que a carteira do fundo é composta por 88% de ativos com retorno de CDI mais 5,8%, e o restante rende IPCA mais 9,9%. A maioria das operações do fundo tem risco pulverizado, emprestando dinheiro para revendas, cooperativas e distribuidoras. “O percentual de produtores rurais no portfólio é menor, por entenderem que o risco é elevado”, diz.
A gestora informou em relatório gerencial que houve um desdobramento de cotas em março – cada uma deu origem a nove, com o valor patrimonial de cada cota e os dividendos divididos nesta proporção.
Por que o rendimento dos Fiagros está superando o CDI?
A maior parte dos Fiagros investem em CRAs que, historicamente, apresentam mais operações atreladas ao CDI. Por isso, segundo Anna Clara, esses fundos geram rendimentos recorrentes mais altos do que aqueles que investem diretamente em terras.
“No cenário de juros em patamares elevados ainda para os próximos meses, essas carteiras conseguem se destacar”, explica a especialista. Segundo ela, os gestores têm preferido este tipo de Fiagro, por conta da demanda dos investidores por dividendos regulares.
De acordo com o levantamento, 89% das carteiras dos Fiagros ofereciam CDI mais um spread médio de 5,08% ao ano em fevereiro, contra 5,03% em janeiro.
Já a parcela de Fiagros com carteiras indexadas ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) era menor em fevereiro: apenas 11% dos fundos ofereciam inflação mais 9,22% ao ano, em média, contra 8,66% ao ano em janeiro.
O cenário para os Fiagros é considerado promissor, segundo a especialista, já que o agronegócio representa cerca de 25% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Ela destaca que o crédito subsidiado não é suficiente diante da demanda e, por esse motivo, o mercado de capitais se tornou uma alternativa para empresas e produtores rurais, principalmente de menor porte.
A boa notícia é que se prevê uma safra recorde em 2023, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de fevereiro, do IBGE. A estimativa é de um crescimento de 13,25% na colheita de de grãos, no grupo de cereais, leguminosas e oleaginosas, em relação a 2022.
Segundo a equipe de macroeconomia da Órama, esse crescimento representaria uma safra recorde de 298 milhões de toneladas de grãos, 34 milhões a mais do que a produção do ano passado.
Para Anna Clara, isso significa que empresas e produtores do setor deverão captar mais recursos para continuar investindo, sem deixar de honrar dívidas anteriores. “Isso é bom para a qualidade de crédito como um todo”, diz.
Por que a captação dos Fiagros caiu?
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a captação líquida dos Fiagros – diferença entre aportes e resgates – caiu pelo segundo mês consecutivo. Em fevereiro, ficou negativa em R$ 2,9 milhões. Em janeiro, os resgates foram de R$ 12,3 milhões.
O número de emissões também recuou no mês passado. Foram levantados apenas R$ 375,6 milhões, ante R$ 1,7 bilhão em janeiro. As emissões de Fiagros acumulam um valor de R$ 10,5 bilhões desde agosto de 2021, quando o fundo estreou no mercado.
Anna Clara acredita que a queda está relacionada ao momento adverso na economia brasileira, com taxas de juros elevadas e inflação, que contribuem com a inadimplência. Embora afirme que não há preocupações com o risco de crédito dos Fiagros, eles foram contaminados pelo receio do mercado diante de problemas observados em outras classes de ativos, como as debêntures.
A especialista destaca ainda que os gestores podem estar segurando as emissões, esperando condições de mercado mais favoráveis, o que justificaria a queda nas captações. Contudo, reforça que este cenário não deve afetar os dividendos e o número de investidores dos fundos. Em 2022, os Fiagros tiveram um salto de 100 mil investidores.