Negociação de ações por pessoas físicas supera a de investidor institucional pela primeira vez desde 2010

Em julho, do total transacionado na B3, 26,9% partiu do investidor pessoa física, contra 23,9% do institucional

Lucas Bombana

SÃO PAULO – Com a taxa básica de juros no menor nível da história, o investidor pessoa física surpreendeu muita gente ao não apenas permanecer, como aumentar a presença na Bolsa, mesmo durante a pandemia.

A falta de atratividade da renda fixa, combinada ao acesso facilitado às ações com a expansão das plataformas digitais, responde por boa parte da migração em massa – em agosto, a B3 contabilizava 2,9 milhões de contas de investidores pessoa física, contra 1,6 milhão em dezembro de 2019, e 813,2 mil, ao fim de 2018.

Diante da avalanche, a participação do investidor pessoa física na negociação de ações naturalmente também cresceu. E, pela primeira vez desde fevereiro de 2010, a fatia da pessoa física na compra e venda de ações tem ficado acima da do investidor institucional, como fundos de pensão e seguradoras. Em julho, a relação foi de 26,9% para 23,9%.

Em agosto, o institucional retomou a liderança, mas em setembro, até o dia 9, a pessoa física volta a despontar, com 23,6% de participação, contra 23,1%, em uma nova dinâmica que tende a prosseguir nos próximos meses, já que a expectativa é de que a Selic siga bem abaixo do padrão histórico, diz a professora Claudia Yoshinaga, coordenadora do centro de estudos em finanças da FGV EAESP.

Em 2019, a participação média do institucional no volume negociado em ações na B3 havia sido de 31,5%, bem acima dos 18,2% da pessoa física.

Confira a seguir a evolução da participação do investidor pessoa física e do institucional, bem como do estrangeiro, na compra e venda de ações na B3, desde 2015.

Segundo a especialista, a reconfiguração que se desenha quanto à participação dos investidores na Bolsa tem como pano de fundo uma gradual redução do estrangeiro nos últimos anos.

Embora ainda seja o maior responsável pelo giro do mercado local, a fatia do “gringo”, que em 2015 era de 52,8%, caiu para 48,5% em setembro, até o dia 9.

E a redução, afirma a especialista, foi recomposta principalmente pelo investidor pessoa física, que em 2015 respondia por 13,7% do volume, com uma alta de quase 10 pontos percentuais em cerca de cinco anos.

O espaço ocupado pelo institucional, por sua vez, que era de 27,2%, caiu quase quatro pontos percentuais em igual intervalo.

“O efeito da saída do estrangeiro foi bastante atenuado pelo crescimento do volume da pessoa física”, afirma a especialista.

Ainda que nos últimos meses a fatia do estrangeiro tenha voltado a aumentar, ao se aproximar da casa dos 50%, diante de algo próximo a 42% na virada do ano, a professora entende se tratar mais de um efeito cambial, do que de um genuíno e crescente interesse pelo país.

Ela diz ainda que a onda de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) também serve como chamariz, ao menos indireto, para o mercado de ações, principalmente quando de se trata de uma companhia presente na rotina do investidor pessoa física, como a rede Petz.

A entrada desse público, no entanto, tem se dado principalmente por meio das ações que já estão disponíveis para negociação no mercado secundário.

De acordo com dados da B3, das 21 ofertas de ações registradas em 2020, até julho, somente a da empresa de serviços industriais Priner teve participação relevante do varejo, de 38%.

A oferta secundária da Petrobras, em fevereiro, atraiu 17% de investidores pessoa física, e, em algumas outras, como da Estapar e da Locaweb, o percentual chegou a 10%. Em casos como os da Centauro ou da Via Varejo, contudo, não houve adesão relevante do varejo.

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