Onde é possível investir com até R$ 1 mil e o que vale a pena? Especialistas apontam o caminho

Recomendações recaem principalmente sobre títulos públicos, produtos bancários, ETFs e fundos de investimento

Bruna Furlani

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – O investidor tem encontrado um número cada vez maior de alternativas para aplicar no mercado financeiro e, mais do que isso, tem visto os valores mínimos exigidos para os aportes caírem com a evolução da indústria. Prova disso é que o primeiro investimento do brasileiro em Bolsa, que estava na casa dos R$ 5,7 mil em 2015, tem diminuído ano a ano e alcançou o valor médio de R$ 352 em junho deste ano – o menor da série histórica da Bolsa.

Ao mesmo tempo em que a acessibilidade aumentou, a possibilidade de diversificar a carteira com menos dinheiro cresceu. Segundo levantamento da B3, cerca de metade das pessoas físicas tinha mais de cinco ativos no portfólio no primeiro semestre de 2021. Para fins de comparação, em 2016, oito em cada dez investidores aplicavam somente em ações.

De olho em investidores com recursos limitados para entrar no mercado financeiro, o InfoMoney fez um levantamento para mostrar em quais ativos é possível começar a investir com um valor de R$ 1 mil e, tão importante quanto, o que vale a pena comprar e quais os cuidados necessários antes da decisão de investimento.

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Para isso, o estudo levou em conta dados da B3 e alternativas de investimento disponíveis na plataforma da XP Investimentos na última quinta-feira (12).

Mais recomendados

No grupo dos investimentos de renda fixa mais recomendados por gestores, planejadores financeiros e assessores para quem tem até R$ 1 mil para aplicar, estão títulos públicos negociados via Tesouro Direto, especialmente agora, com a alta das taxas.

E há também opções no grupo de produtos bancários, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs), que também foram beneficiados com o aumento dos retornos nos últimos dias. (Leia mais aqui.)

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“Mais do que sofisticar, eu iria pelo caminho da simplificação. Comece com títulos públicos e só depois vá calibrando a carteira com títulos de renda fixa privada. É preciso caçar bastante, às vezes, porque esses papéis têm um valor mínimo de investimento maior que os títulos públicos”, aponta Jailon Giacomelli, sócio da ParMais e planejador financeiro. A liquidez dos papéis também pode atrapalhar o investidor, assinala.

Na renda variável, o foco recai sobre ETFs (fundos de índice com cotas negociadas em Bolsa), BDRs de ETFs e, em alguns casos, sobre fundos imobiliários.

Patrícia Palomo, sócia da Sonata Gestão de Patrimônio, afirma que a vantagem dos dois primeiros tipos de investimento é o menor custo, quando comparados com as ações, e a maior diversificação tanto em termos de bolsa local como global.

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“O investidor não precisa ‘acertar na mosca’. Estamos num momento de recuperação. Dá para investir em bolsa brasileira e lá fora. Se optar por aplicar com foco no exterior, temos pouca exposição à tecnologia e ao setor de health care [cuidados com a saúde], por exemplo. Comprar um BDR de ETF pode ser uma forma barata de buscar uma diversificação global e de não se expor apenas ao risco Brasil”, destaca a especialista da Sonata.

Outro investimento de risco que pode ser interessante para quem está de olho em ter uma renda periódica e não tem muito para investir são os fundos imobiliários, diz Patrícia. Ao optar por esse tipo de ativo, o melhor em sua avaliação é aplicar via fundos de fundos (FOFs), isto é, fundos que investem em cotas de outros fundos imobiliários, dada a diversificação dentro do setor imobiliário.

Yuri Cavalcante, sócio do escritório de agente autônomo Aplix Investimentos, tem visão parecida e afirma que o pequeno investidor também pode ingressar no mercado de fundos imobiliários por meio de um ETF que replique o Ifix, índice de fundos imobiliários da B3, como é o caso do Trend ETF Ifix (XFIX11).

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Embora o investidor tenha hoje uma grande variedade de produtos à disposição, especialistas enfatizam que é preciso ter em mente a necessidade de considerar o objetivo de alocação do patrimônio, o prazo disponível para deixar o recurso aplicado, além do perfil de tolerância ao risco antes de montar uma carteira.

A recomendação também é que investidores não comecem destinando os primeiros R$ 1 mil à renda variável, dando preferência à formação de uma reserva de emergência.

Veja a seguir quanto custa aplicar em cada uma das principais opções disponíveis no mercado, em quais casos os especialistas recomendam os investimentos para carteiras de até R$ 1 mil e as melhores alternativas.

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Tesouro Direto

Quanto custa investir? Investidores podem ter acesso aos títulos públicos negociados via Tesouro Direto com aplicações por volta de R$ 30. O papel mais barato atualmente é o Tesouro Prefixado com vencimento em 2024, negociado a R$ 30,86 nesta terça-feira (17). O programa permite que o investidor compre a quantidade mínima correspondente a uma fração de 0,01 título, ou seja, 1% do valor cheio do papel, desde que respeitado o investimento mínimo de R$ 30,00.

O que dizem os especialistas? Todos os consultados destacam que o investimento em títulos públicos vale a pena por causa do reduzido valor de investimento e do baixo risco de crédito, dado que o credor é o próprio governo. Outro ponto positivo é que esses papéis têm maior liquidez na comparação com títulos de crédito privado – é possível vender os títulos todos os dias.

Quais são as melhores opções? De olho na alta das taxas dos últimos dias com a piora do cenário fiscal e político, além do avanço da inflação, especialistas acreditam que há hoje oportunidades especialmente em papéis com retornos indexados ao IPCA, cujos prêmios se aproximam dos 5% ao ano, mas também em prefixados, que pagam hoje até 10,7% a.a., embora os riscos nessa segunda categoria sejam maiores.

Patrícia, da Sonata, vê uma boa relação entre risco e retorno no Tesouro Prefixado com vencimento em 2024, que pagava 9,52% nesta terça-feira. Já no caso dos pós-fixados atrelados à inflação, sua preferência recai sobre o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026, que oferecia retorno real de 4,54%. Confira mais recomendações nesta matéria.

Produtos bancários (CDBs, LCIs, LCAs)

Quanto custa investir? No caso de Certificados de Depósito Bancário (CDBs), o valor mínimo do investimento pode ser bem baixo, menos de R$ 100. Já Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) costumam ter aplicação inicial de R$ 1.000, na XP.

O que dizem os especialistas? Quem tem até R$ 1 mil para aplicar, pode aproveitar algumas opções de CDBs, LCIs e LCAs disponíveis hoje nas plataformas. Na visão de especialistas, contudo, a escolha de produtos bancários pode ser mais difícil para investidores com volumes menores.

Giacomelli, da ParMais, destaca que prefere títulos públicos para quem está começando a investir porque vê maior necessidade de “garimpar” para encontrar papéis privados com valores iniciais mais baixos e taxas atrativas. Além disso, a liquidez no mercado privado de crédito é bem menor, caso o investidor precise vender os títulos antes do vencimento.

O aumento recente dos retornos pagos por alguns produtos bancários, porém, fez com que alguns especialistas voltassem a ver boas oportunidades de compra. Camilla Dolle, analista de renda fixa da XP, afirma que as taxas subiram bem na última semana com as preocupações fiscais, políticas e perspectivas de elevação da Selic. O momento já é tido como favorável para comprar papéis de crédito privado dados os níveis de retorno, mas a analista alerta para o risco de os prêmios subirem ainda mais.

“Não podemos desconsiderar que as taxas podem abrir mais [aumentar] ainda até o ano que vem, mas já está valendo a pena comprar alguns produtos bancários.” Saiba mais aqui.

Quais são as melhores opções? Da mesma forma como no Tesouro Direto, produtos bancários com retornos atrelados à inflação ou prefixados mostram taxas mais atraentes. É importante, contudo, se atentar ao perfil e ao nível de risco do emissor.

A preferência de Camilla, da XP, está em papéis pós-fixados atrelados à inflação ou ao CDI, embora ela também veja oportunidades em títulos prefixados de prazo mais curto, entre dois e quatro anos.

ETFs e BDR de ETFs

Quanto custa investir? O investimento mínimo para aplicar em um ETF correspondia a R$ 8,74 na terça-feira (17). Com esse montante, o investidor podia adquirir o lote mínimo, correspondente a uma unidade, do Trend China (XINA11). Esse fundo de índice busca replicar o desempenho do MSCI China, composto por mais de 600 companhias chinesas. O ETF com maior número de investidores hoje replica o índice S&P 500 (IVVB11) e podia ser adquirido por R$ 254,55.

O que dizem os especialistas? Os entrevistados acreditam que o investimento em renda variável via ETF faz sentido por causa do custo baixo, em termos de taxas de administração, além de esse tipo de produto oferecer grande possibilidade de diversificação.

Quais são as melhores opções? Giacomelli, da ParMais, recomenda manter as primeiras aplicações apenas em Bolsa local, como em ETFs que replicam o Ibovespa. Patrícia, por sua vez, acredita que o investidor pode aproveitar os chamados BDRs de ETFs para investir em setores sobre os quais a bolsa brasileira não tem tanta exposição, como tecnologia e cuidados com saúde.

Ações

No caso das ações, o investidor que possui até R$ 1 mil para investir tem a possibilidade de aplicar por meio do mercado fracionário, embora especialistas assinalem que a alternativa não é a melhor dada a liquidez mais reduzida.

Enquanto no mercado integral as ações são negociadas em lotes, no segundo caso, o investidor compra apenas a fração de uma ação. Dessa forma, não é necessário comprar ou vender cem papéis de uma vez como no mercado integral, mas uma, 30 ou 40 unidades, por exemplo. Para ajudar na identificação dos papéis, toda ação negociada no mercado fracionária tem a letra F ao fim de seu código, como PETR4F, no caso dos papéis preferenciais da Petrobras.

Quanto custa investir? A ação mais barata para se comprar dentro do Ibovespa, na última sexta-feira (13), era a da Cielo (CIEL3), com custo de R$ 316 considerando o lote-padrão de cem unidades. Se optasse por aplicar por meio do mercado fracionário, o investidor precisaria investir a partir de R$ 3,16;

O que dizem os especialistas? De acordo com os consultados pelo InfoMoney, não vale a pena comprar ações no mercado fracionário, se o investidor quiser montar uma carteira de até R$ 1 mil. Patrícia assinala que, para ter uma carteira diversificada, o ideal é que o investidor seja capaz de comprar papéis de empresas que atuem em diferentes setores, justamente para que os ativos atuem de forma descorrelacionada entre si. E, para que isso ocorra, ela recomenda que o portfólio tenha cerca de oito ações diferentes.

A sócia da Sonata também destaca o peso dos custos sobre o investidor ao optar pelo mercado fracionário ao integral, o que inclui emolumentos, taxa de custódia e corretagem (nos casos de corretoras que cobram a taxa).

“Mesmo que ele consiga comprar no fracionário, o investidor pode ser prejudicado porque os custos são altos em relação ao potencial de retorno. Para esse montante de R$ 1 mil, o melhor instrumento para investir em renda variável é o ETF. É uma maneira mais eficiente, mais barata e que promove uma diversificação maior”, afirma Patrícia.

Quais são as melhores opções? Especialistas evitam falar em valores necessários para o investidor começar a aplicar em ações, mas Patrícia aponta que o melhor é ter um montante acima de R$ 1 mil para conseguir aplicar em uma boa cesta de ações. Até lá, pode escolher produtos como ETFs como alternativa barata e eficiente para diversificação.

Fundos imobiliários

Quanto custa investir? As opções mais baratas de fundos imobiliários que fazem parte do Ifix, o principal índice do mercado, eram na segunda-feira (16) as do FII de recebíveis Maxi Renda (MXRF11) e do fundo híbrido Tordesilhas EI FII (TORD11), com cotas negociadas a R$ 9,98.

O que dizem os especialistas? A recomendação nesse tipo de aplicação para quem tem até R$ 1 mil para investir não é unânime. Cavalcante e Patrícia apontam que a alocação na classe pode ser atrativa se for focada em fundos de fundos (FOFs), dado o potencial de diversificação.

“Com até dois FOFs, é provável que o investidor consiga estar bem diversificado. Mais do que isso, pode ter sobreposição dos setores nos quais os fundos investem. Já se for investir direto em FIIs, ele precisaria de pelo menos cinco fundos de setores diferentes para diversificar”, avalia a sócia da Sonata.

Giacomelli, por sua vez, ressalta que o rendimento recebido via FIIs com um aporte de R$ 1 mil vai ser, contudo, pouco expressivo, próximo de centavos, e que os custos com corretagem serão altos, o que tende a inviabilizar a operação, em sua avaliação.

Quais são as melhores opções? Para Patrícia, da Sonata, as melhores opções passam por fundos de fundos imobiliários que, por causa do cenário econômico, estão trocando posições em ativos mais defensivos, como galpões logísticos e recebíveis, por posições em lajes corporativas e shoppings. Cavalcante, por sua vez, sugere a aplicação via ETF que replique o ifix, como é o caso do XFIX11.

O InfoMoney também compila mensalmente uma carteira recomendada de fundos imobiliários. Saiba mais aqui.

Fundos de investimentos

Quanto custa investir? A partir de R$ 100 é possível investir em fundos de renda fixa, multimercado, renda variável ou de investimento internacional.

O que dizem os especialistas? Patrícia e Cavalcante afirmam que dá para ter uma carteira adequada com fundos de investimento investindo até R$ 1 mil e têm preferência por fundos de fundos, para ampliar a exposição a diferentes produtos, mantendo valores baixos de investimento.

O especialista da ParMais é um pouco mais cauteloso. Ele sugere que o investidor comece de forma simples no mercado financeiro, via títulos públicos, por exemplo, para depois entrar em um fundo de investimento. Segundo Giacomelli, o ideal é que o investidor comece a aplicar em fundos de investimento apenas a partir de cerca de R$ 1 mil.

“Se só tenho R$ 1 mil para montar uma carteira, não tenho acesso a muitos fundos com retornos interessantes. Os que existem [em termos de renda fixa] rondam perto do CDI. Por isso, acho que o investidor deve partir para um fundo de investimento apenas quando tiver a partir de R$ 1 mil, para poder aplicar unicamente em um bom fundo”, afirma o sócio da ParMais.

Quais são as melhores opções? Antes de entrar em qualquer fundo de investimento, alguns pontos precisam ser levados em consideração. Patrícia diz que o investidor deve verificar o histórico do gestor, a rentabilidade histórica do fundo e se a estratégia está de acordo com o perfil de tolerância de risco que a pessoa está disposta a tomar. Também vale a pena analisar quais são os ativos e as classes pelos quais os veículos têm liberdade para navegar, para que o investidor consiga diversificar a carteira e os riscos.

Vale ler ainda as matérias mensais do InfoMoney sobre a estratégia de gestores.

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