Os melhores fundos de ações e multimercados em agosto e em 12 meses

Com ambiente mais desafiador, principais apostas recaem sobre exposição internacional e stock picking de ações com foco em crescimento

Mariana Segala Mariana Zonta d'Ávila

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – A volatilidade que tomou os mercados brasileiros nas últimas semanas tem feito os gestores suarem para preservar o desempenho dos fundos. Os ruídos do mundo político, em conjunto com inflação alta e ares de dúvida sobre a retomada econômica, pesaram sobre a Bolsa, o câmbio e os juros em agosto – e tudo indica que assim será ainda por algum tempo.

Apesar do estresse da cena local, algumas estratégias ainda se destacam no campo positivo. No lado dos multimercados, saem ganhando os fundos com exposição internacional, beneficiados ora pelo desempenho mais positivo dos ativos globais, ora pela valorização do dólar, que tem impulsionado os ganhos.

Já dentre os fundos de ações, sobressaem as carteiras focadas no stock picking, isto é, na escolha a dedo de cada papel, em detrimento de apostas generalistas no mercado – ainda que alguns temas se repitam entre as gestoras. Papéis de empresas com muito caixa, baixo endividamento, de setores considerados defensivos e, preferencialmente, com parte das receitas em moeda estrangeira estão entre os preferidos para os próximos meses.

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“Não somos orientados pelo viés macroeconômico, não nos posicionamos só pela cautela. Mas podemos privilegiar esse perfil de empresa, sim”, diz Wagner Salaverry, sócio da Quantitas Gestão de Recursos.

Em agosto, os destaques positivos ficaram por conta dos fundos Arbor Global Eq Brl FIC FIA BDR Nível I, com ganhos de 11,25%, e o multimercado Vitreo Criptomoedas FICFI, com alta de 31,43%. No período, o CDI teve variação de 0,43%, enquanto o Ibovespa caiu 2,48%.

Confira a seguir os cinco fundos das classes de ações e multimercados com as maiores altas e quedas em agosto.

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Com base em dados extraídos da Economatica, o levantamento considerou veículos não exclusivos, com gestão ativa, patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas no fim do mês passado.

Na categoria de renda variável, foram excluídos fundos setoriais e monoações. Entre os multimercados, não foram considerados fundos de crédito privado.

Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, embora seja interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.

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Foco no micro

Com foco na abordagem microeconômica, o fundo Sul America Selection FIA está entre os destaques em 12 meses, com ganhos de 33,7%, ante variação de 19,5% do Ibovespa no mesmo período – ainda que não esteja imune ao sentimento de maior aversão ao risco. O fundo encerrou o mês com queda de 8,7%, ante baixa de 2,5% do Ibovespa.

João Saldanha, da SulAmérica Investimentos, conta que o fundo busca encontrar os melhores ativos sob um olhar de crescimento. Neste caso, contudo, o olhar recai sobre oportunidades de oferta (crescimento por diferencial estratégico, por exemplo) em detrimento de oportunidades que dependem de uma forte demanda.

O time foca na análise de modelos de negócios que permitam crescimento, seja ganho de mercado em relação aos concorrentes, outros mercados de atuação ou atividades pioneiras. A maior posição, por exemplo, é a farmacêutica Blau (BLAU3), respondendo por 9% do fundo.

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“Apesar da descorrelação, chega um momento em que não conseguimos escapar do cenário macro, que te leva junto”, afirma Saldanha, que reforça que o cenário atual é muito desafiador ao mesmo tempo em que oferece oportunidades, de empresas boas a preços razoáveis.

Hoje, o fundo investe em 25 companhias. Dentre elas, algumas que foram incluídas ou tiveram posições ampliadas neste ano são Boa Safra (SOJA3), Vitta Fertilizantes (VITT3), Rumo Logística (RAIL3) e JBS (JBSS3).

Confira quais foram os fundos de ações com melhor desempenho nos 12 meses até agosto, assim como seu desempenho em um período de 36 meses, no acumulado de 2021 e apenas em agosto.

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No Quantitas FIA Montecristo, que acumula ganhos de 41,31% nos últimos 12 meses, algumas das posições mais bem-sucedidas do período já saíram da carteira. É o caso, por exemplo, de SLC Agrícola (SLCE3) e do grupo SBF (SBFG3), dono das lojas Centauro. “Os preços das commodities agrícolas dispararam no segundo semestre do ano passado, o que impulsionou a SLC. Mas temos a visão de que uma boa parte do que tinha para ser ajustado no preço das ações, já foi”, diz Salaverry.

Hoje, as maiores posições do fundo estão em outros papéis que, em algum grau, envolvem um componente defensivo. No segmento de consumo, a carteira tem Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, e Grendene (GRND3). “Quem estiver com a renda reduzida vai considerar fazer mais compras na Riachuelo, que tem produtos mais acessíveis, do que na Renner ou na C&A”, justifica o gestor.

Do mesmo modo, também há espaço para as ações de Hypera (HYPE3) e Blau, que atuam no segmento farmacêutico e tendem a resistir a períodos de crise. “As pessoas continuam precisando consumir medicamentos, mesmo na crise”, explica Salaverry.

Com um portfólio concentrado em 10 a 12 empresas, o gestor não prevê novos movimentos relevantes de troca de ativos por ora. Mas deixou a carteira preparada para eventuais mudanças: o fundo agora tem a possibilidade de investir também em BDRs, ainda que não haja previsão para tal de imediato. “Não havia motivo para não ter, então deixamos essa alternativa aberta”.

Empresas de nicho

Pinçando casos específicos do universo de small caps, a gestora Trígono Capital conseguiu manter duas de suas carteiras – o Trígono Verbier, com 104,64% de valorização, e o Trígono Flagship, com 87,58% – no topo do ranking de fundos de ações com melhor desempenho nos últimos 12 meses.

Só entram nos fundos as ações de empresas com valor de mercado inferior a R$ 10 bilhões no momento do investimento. Também são valorizados caixa folgado, endividamento baixo e atuação de nicho – ou seja, empresas praticamente únicas nos seus segmentos.

Um dos papéis com melhor desempenho no portfólio da Trígono, por exemplo, é o da Ferbasa (FESA4), que produz ferro-ligas utilizadas na indústria metalúrgica e siderúrgica. A empresa detém aproximadamente 95% das reservas de cromita do Brasil, matéria-prima do ferrocromo, demandado na fabricação de aço inox.

Werner Roger, CIO da Trígono, explica que a elevação dos impostos de exportação de ferro-ligas pelo governo da China – um dos maiores produtores desse tipo de insumo no mundo – provocou a falta do produto e a alta dos preços.

Conclusão: “A Ferbasa está produzindo a 100% da capacidade desde maio de 2020, e se beneficia tanto dos preços em alta quanto do câmbio apreciado”, diz Roger.

Outro caso que segue lógica semelhante é o da Tronox (CRPG5), única produtora de dióxido de titânio – pigmento utilizado em tintas, plásticos e outros materiais – na América do Sul. Também exportado para boa parte do mundo pela China, o insumo encareceu devido à demanda interna no país asiático e ao encarecimento do frete em contêineres.

“Só no Brasil, o consumo de tinta cresceu 27% como resultado do ‘efeito formiga’, com muitas famílias fazendo reformas durante a pandemia. A Tronox, portanto, fica bem posicionada no mercado, pois o preço do produto importado não para de subir”, diz Roger.

O gestor ressalta que, embora não destine nenhuma parte do portfólio diretamente para moedas estrangeiras, adota uma estratégia de proteção por meio de empresas com receitas denominadas em dólar. “Se houver uma crise política, como a que está acontecendo agora, o dólar é a válvula de escape. Funciona como uma proteção natural”.

Por isso, outras ações mantidas por Roger incluem as de empresas exportadoras como Tupy (componentes automotivos e conexões de ferro fundido) (TUPY3) e Mahle Metal Leve (focada em componentes para motores) (LEVE3).

Posições no exterior

Entre as carteiras de maior destaque, constam ainda estratégias focadas no exterior. Um exemplo são os fundos da gestora IP Capital Partners, que se destacou no ranking de multimercados com o bom desempenho em agosto e em 12 meses do fundo IP Atlas, com ganhos de 6,1% e 33,5%, respectivamente. O IP Participações também ficou entre os fundos de ações com melhor resultado no último mês, com ganhos de 3,6%.

Enquanto o primeiro está exposto ao dólar, com seu rendimento refletindo a performance das ações e também a variação da moeda americana, o segundo faz hedge cambial.

Pedro Andrade, sócio da IP e cogestor dos fundos, reforça que o último ano mostrou uma continuidade dos efeitos da pandemia, com o desenvolvimento acelerado de empresas mais modernas e digitais, que têm posições mais fortes no ambiente de negócios, são mais ágeis e inovadoras.

Neste cenário, as principais posições de ambos os fundos – que são Facebook, Google, Charter Communications e Netflix – têm surfado o ambiente favorável. Outros nomes que compõem o IP Participações e o IP Atlas são a brasileira Hapvida e a Charles Schwab, respectivamente.

Andrade conta que são posições que o fundo carrega há um tempo e que recaem sobre a avaliação de serem empresas com posições competitivas no mercado e qualidade dos times de gestão. “Nos preocupamos em estar pagando um preço razoável por algo bom, bem gerido e que ainda tem espaço para crescer”, diz.

Entre os multimercados, também se manteve entre os melhores desempenhos dos últimos 12 meses o BB Global Select, fundo da BB DTVM que espelha a estratégia Global Select do banco americano JP Morgan.

O fundo original tem um nível de diversificação maior que o de outros que se destacaram no ranking de agosto: são de 70 a 100 papéis mantidos na carteira, selecionados entre os que compõem a carteira teórica do índice MSCI World.

“Começamos a girar um pouco a carteira para buscar diversificação e as novas oportunidades”, diz Isabella Nunes, diretora-executiva da JP Morgan Asset Management no Brasil. Entre os segmentos que estão ganhando evidência na carteira está o de consumo. “Com a retomada do crescimento global e a demanda dos consumidores voltando, é um setor de que gostamos”, diz Isabella. Outro é o de tecnologia, especialmente a ponta cíclica do setor. “Gostamos de fabricantes de semicondutores, por exemplo, e tiramos um pouco das empresas focadas em software”, explica a executiva.

Daqui para frente, o trabalho de seleção tende a se tornar ainda mais minucioso, segundo Isabella. Isso porque, de modo geral, os mercados de ações globais já avançaram bastante. O índice S&P 500, que reflete o desempenho das ações negociadas no mercado americano, acumula mais de 20% de alta em 2021, enquanto o índice Dow Jones avança mais de 15%. “Não é que esteja tudo uma barganha. Não basta ficar comprado nos índices”, afirma.

Dentre os principais riscos no horizonte de fundos globais como o replicado pelo BB Global Select, segundo Isabella, está a inflação, impulsionada no último ano pelos estímulos econômicos lançados por vários países, pela interrupção das cadeias produtivas e também pelo aumento dos custos de frete.

“A vantagem é ter a possibilidade de investir em uma carteira global de fato. Embora no Brasil haja oportunidades setoriais a explorar, como no segmento de alimentos ou vestuário, investir em um fundo global dá acesso a outras frentes”, diz Isaac Marcovistz, head de produtos, comunicação e marketing da BB DTVM.

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Mariana Segala

Editora de Investimentos do InfoMoney