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SÃO PAULO – Em um ambiente de isolamento social e elevada liquidez nos mercados no intervalo dos 12 meses encerrados em março, as ações de empresas de tecnologia que melhor surfaram a onda de digitalização acelerada pela pandemia e os nomes de caráter mais cíclico, como das exportadoras de commodities, despontaram à frente entre as maiores rentabilidades nas bolsas.
Como consequência direta dessa dinâmica recente observada nos mercados, os fundos de ações, bem como os multimercados que mais se destacaram no período foram também aqueles voltados para as grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos, ou os que melhor conseguiram capturar a retomada da Bolsa brasileira, especialmente pela aposta em commodities.
Já no recorte mais curto, apenas do primeiro trimestre de 2021, os fundos de investimento no exterior com exposição ao dólar foram os maiores destaques positivos – tanto devido ao recrudescimento da pandemia e ao aumento das incertezas políticas e fiscais no Brasil no período, quanto por conta da imunização mais célere e dos pacotes trilionários de estímulo econômico nos Estados Unidos.
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Na categoria de renda variável, ficaram à frente no intervalo trimestral os fundos de BDRs, que investem, por meio da Bolsa local, em recibos que têm como lastro ações de grandes empresas estrangeiras negociadas no exterior, como Microsoft, Google e Facebook.
Confira a seguir os fundos de ações e multimercados com as maiores altas e baixas do primeiro trimestre do ano.
Entre as exceções no período, o Hayp FIA se destacou com rentabilidade de 21,6% de janeiro a março, com ganhos de 34,5% somente no mês de março.
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Segundo Thiago Wolf, sócio e diretor de análise da Zenith Asset Management, o resultado do Hayp FIA se deve em grande medida às apostas nas ações do grupo Pão de Açúcar, da rede Assaí e da Positivo, que ganharam peso no mês passado e são hoje as maiores da carteira.
“Mesmo após o desempenho recente, os ativos seguem negociados a preços atrativos”, diz Wolf, que destaca o valor de mercado e as perspectivas para o desempenho das operações do grupo Pão de Açúcar tanto no Brasil como no exterior ao justificar a visão positiva. O aumento da demanda por computadores com a popularização do homeoffice também deve sustentar o momento positivo das ações da Positivo, acrescenta o especialista.
Já no caso dos multimercados, impulsionado pelo frenesi em torno da popularização do Bitcoin entre grandes investidores e empresas, o fundo de criptomoedas da Vitreo com exposição em Bitcoins e Altcoins sobressaiu à frente dos demais.
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Também se destacaram na categoria os fundos globais com exposição cambial, como os fundos de fundos do Santander e da M Square.
Nesse tipo de produto, o trabalho consiste na seleção das melhores gestoras baseadas no exterior, com maior propriedade para fazer a leitura do ambiente internacional e das consequentes oportunidades.
No grupo das piores rentabilidades do trimestre, fundos como o Mauá Capital Ações e o Versa Long Biased sofreram pelas apostas em nomes mais dependentes da retomada da atividade doméstica, que ficaram para trás com o avanço lento da vacinação retardando a retomada da economia.
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Nesse caso, nomes de varejo e consumo como Hering, Guararapes e Natura, bem como Aliansce Sonae e BR Properties, no setor imobiliário, contribuíram para os resultados negativos no período.
Tecnologia e exportadoras
Na janela de um ano até março, o maior destaque na categoria de renda variável ficou por conta do Arbor Global Equities, que se volta essencialmente para as oportunidades nas empresas de tecnologia ao redor do mundo que mais tiram proveito do processo em curso de digitalização da sociedade.
Fundos que se beneficiaram do ambiente positivo para as exportadoras de commodities em meio ao forte ritmo de crescimento das maiores economias globais também estiveram entre os destaques do período, caso dos fundos Trigono Small Caps e BB Ações Exportação.
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Confira a seguir os fundos de ações que mais se destacaram nos 12 meses encerrados em março de 2021, assim como seu desempenho em 36 meses (no caso dos fundos com histórico para o intervalo), no primeiro trimestre e apenas em março.
Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, embora seja interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.
Na classe dos multimercados, entre os fundos que mais subiram nos últimos 12 meses encerrados em 31 de março, além dos fundos globais e de criptomoedas, veículos da categoria “long bias”, cujo mandato flexível permitiu aos gestores proteger a carteira nos momentos de maior volatilidade para aproveitar a retomada que veio logo a seguir, também garantiram seu espaço no levantamento.
Para a análise dos melhores fundos, com base em dados extraídos da Economatica, foram considerados veículos não exclusivos, com gestão ativa e patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas em março.
Na categoria de renda variável, foram excluídos os fundos setoriais e os monoações. Entre os multimercados, não foram considerados os fundos de crédito privado.
Tendências inevitáveis
Segundo Leonardo Otero, gestor do Arbor Global Equities, o fundo se volta para teses de investimento em empresas de tecnologia que inevitavelmente vão crescer no longo prazo, como consequência natural das próprias transformações nos hábitos de consumo.
Entre as ações que mais contribuíram para o retorno recente do fundo, e que seguem basicamente as mesmas, com alterações de peso entre cada uma delas, estão os nomes mais conhecidos pelos investidores como Facebook, Microsoft, Amazon e Google.
Há também na carteira, contudo, ações de empresas não tão familiares ao ouvido do investidor local, mas não por isso com menor potencial de retorno, especialmente na Ásia, diz Otero. Entre os exemplos estão a Sea Limited, empresa de Cingapura que atua no setor de jogos para celular, bem como a gigante chinesa de comércio eletrônico JD.com. Na região da América Latina, o fundo carrega apostas em Mercado Livre e Banco Inter.
Embora as ações de tecnologia usualmente sejam negociadas com múltiplos elevados, o foco do investimento é de longo prazo, com uma janela de cinco a sete anos, na qual o retorno potencial esperado com os ativos segue bastante atraente, afirma o gestor do Arbor Global Equities. Ele ressalta que o fundo faz o hedge cambial de todas as posições, com a valorização oriunda somente dos ganhos dos ativos negociados no exterior.
As perdas no mês de março, pela abertura dos juros americanos e pela rotação das carteiras dos investidores globais de ações de crescimento para as de valor, não assustam o gestor, que segue confiante com as teses na carteira. “Investir em bons negócios e segurar por muito tempo é nossa estratégia vencedora”, diz Otero, que enxerga na queda recente dos papéis de tecnologia uma oportunidade para aumentar as apostas nos nomes de maior convicção.
Fundamentalista + Grafista
Ainda na categoria de renda variável, conseguiu se destacar frente aos pares nos últimos 12 meses o fundo de estratégia híbrida Inter+ Ibovespa Ativo FIA, em que 70% do risco do portfólio é destinado a apostas de caráter mais fundamentalista, com base nas perspectivas de longo prazo projetadas pelos gestores para os setores e respectivas empresas da Bolsa local.
Já os outros 30% são reservados para uma gestão de modelo grafista, que se vale da análise dos gráficos de mercado e dos fluxos de curto prazo para tirar proveito das assimetrias nos preços dos ativos de maneira tática, explica Fausto Curadi, sócio e diretor da Invexa Capital.
Na carteira, bancos brasileiros de porte médio como Inter e BTG Pactual, pelo crescimento esperado à frente como resultado do processo de digitalização dos hábitos financeiros, também estão entre as principais apostas dos gestores, sendo o único setor hoje presente tanto na carteira fundamentalista como na grafista.
“Além disso, pelo ambiente de reaquecimento global impulsionado pelos pacotes de estímulos nos Estados Unidos, papéis de commodities dos setores de mineração, proteína animal e infraestrutura já vêm desde o início do ano e seguem entre as maiores apostas da carteira de perfil fundamentalista”, afirma Curadi.
Commodities agrícolas
Na categoria dos multimercados, as commodities tiveram lugar de destaque entre alguns dos fundos que conseguiram capturar de maneira eficiente a retomada dos mercados nos últimos 12 meses, na esteira da injeção de liquidez promovida pelos governos.
É o caso do Logos Total Return, que se valeu de posições em nomes como Vale, CSN e Suzano em meio ao aumento na demanda pelas commodities impulsionado pela retomada global da economia, afirma Luiz Guerra, CIO da gestora.
“Com a forte alta já registrada pelas commodities metálicas no embalo da retomada da China pelos investimentos no setor de infraestrutura, hoje estamos com uma visão um pouco mais positiva para Suzano, além de JBS e SLC Agrícola”, diz Guerra, que aponta como reflexo da crise de 2020 uma atuação mais ágil ao fazer as trocas de posições na carteira do fundo, conforme as sinalizações e a leitura do cenário macro começam a mudar de direção.
Além da parcela da carteira em empresas mais expostas à retomada da atividade econômica global, nomes como Totvs e Oi, cujo desempenho das ações deve responder mais a fatores de caráter microeconômico das próprias empresas, também estão entre as maiores convicções no multimercado da Logos. Pelo possível debate acerca de sua privatização, as ações da Sabesp também são citadas pelo CIO como uma das principais apostas hoje no portfólio.
Ouro, dólar e juros
No caso do Truxt Long Bias, o CEO da gestora, José Tovar, cita a combinação de nomes de varejo e consumo (Mercado Livre, Magazine Luiza, Petz e Natura) e do setor financeiro (XP e Stone) que mais se beneficiaram das mudanças de hábito forçadas pela pandemia como os principais destaques para o retorno alcançado nos últimos 12 meses.
“A maior parte dessas posições continua na carteira, somadas também a teses de caráter mais cíclico como as commodities”, afirma Tovar, que após tirar bom proveito da forte alta registrada pelas ações da Vale no embalo da valorização do minério de ferro, tem hoje nos papéis da PetroRio uma das maiores posições no fundo, que surfa a recuperação do petróleo com menor volatilidade política que a Petrobras.
Tovar diz ainda que ter posições em ativos como o ouro e o dólar de forma a proteger o portfólio comprado em ações também tem se mostrado importante fonte de retorno.
Hoje, a proteção na carteira se dá principalmente por meio de uma posição tomada (que ganha com a alta) nos juros dos Estados Unidos, que o CEO da Truxt entende que devem seguir sob pressão em meio aos pacotes trilionários de estímulos do governo Biden.