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“Patinho feio” no Brasil, varejo ainda traz oportunidade na Bolsa americana; veja ações que despontam

Para analistas, no entanto, ganhos podem ficar contidos no curto prazo – e recomendam cautela para 2024

Ana Paula Ribeiro

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O setor varejista da Bolsa brasileira caminha para fechar um ano de 2023 em fortes perdas e ameaça de virar penny stock, mas a realidade lá fora é bem diferente.

Se no Brasil nem a Selic em queda, que costuma impulsionar o consumo, vem salvando as varejistas, nos Estados Unidos, onde o afrouxamento monetário ainda nem começou, tem acontecido justamente o contrário.

O Icon, índice que reúne as empresas de consumo negociadas na B3, acumula no ano uma alta de apenas 1,1%. Já o equivalente americano que reúne empresas como a Amazon, Best Buy, Nike e a rede de lojas de departamento Ross, o S&P 500 Consumer Discretionary, dispara 32,7% no período.

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Outra confirmação da tendência ficou evidente na Black Friday deste ano. Enquanto no Brasil houve mais uma decepção, com queda de mais de 15% no faturamento, nos EUA os consumidores bateram recorde de compras online: US$ 9,8 bilhões, segundo dados do Adobe Analytics.

O setor de consumo discricionário americano é o que reúne empresas que vendem itens considerados não essenciais. São produtos e serviços que são objeto de desejo quando há renda disponível.

Mas, por que tanta disparidade entre Brasil e EUA mesmo com cenário de juros mais desfavorável no exterior?

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As razões passam pela resposta da economia americana diante do aperto monetário: apesar dos juros em patamar recorde, o mercado de trabalho segue aquecido e mantendo consumo em alta.

“Os fundamentos da economia dos Estados Unidos permanecem fortes. O PIB cresceu 4,9% no terceiro trimestre de 2023 (dado anualizado). Os gastos dos consumidores permanecem sólidos e a taxa de inflação tem diminuído gradualmente desde junho de 2022”, avaliou Nalak Das, analista da Zacks Equity Research, em relatório.

Oportunidades em ações

Para a Zack, o cenário traz oportunidade de alocação em ações de consumo (varejo e serviços) dos EUA, principalmente com foco em ganhos no curto prazo.

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Entre os papéis preferidos estão:

No Brasil, a teoria diz que o varejo tende a se beneficiar da queda de juros. No entanto, esse setor tem passado longe da preferência do investidor.

Para a Kinea, a melhor posição dentro do setor de consumo brasileiro é justamente de uma empresa com exposição também internacional, que é o Mercado Livre (MELI).

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Uma das razões é o aumento da margem bruta da companhia, que passou de próximo a zero, no ano passado, para 20%. Outro ponto são os investimentos da companhia em logística.

“Esse é um negócio cujo fator-chave de sucesso está na logística e é um diferencial competitivo. O Mercado Livre tem total conhecimento disso e investe cada vez mais para que os usuários do ecossistema tenham boa experiência. Isso afasta a concorrência chinesa”, comenta Rafael Oliveira, gestor de ações da Kinea.

A casa espera que o lucro da companhia de comércio eletrônico tenha um crescimento entre 15% e 20% para o próximo ano.

Cautela para 2024

O foco no curto prazo não é à toa. Apesar do otimismo atual, a visão de algumas casas é que o espaço para crescimento pode não perdurar, o que requer maior cautela por parte do investidor.

Paulo Gitz, estrategista global da XP, destaca que os juros em patamar elevado nos Estados Unidos não chegaram a afetar o consumo devido ao mercado de trabalho ainda forte, mas avalia que já há sinais de desaceleração.

“O consumidor ainda está empregado e, consequentemente, confiante. Porém, vemos o endividamento em cartão de crédito aumentar significativamente e setores mais sensíveis às taxas de juros como imobiliário e automobilístico já começam a dar sinais de fraqueza”, avalia.

Para o profissional, a expectativa de um início de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a partir de meados do ano que vem não é o suficiente para garantir que as varejistas seguirão em alta, já que a queda dos juros pode vir acompanhada de uma desaceleração da economia americana.

“Algumas empresas já alertam para um consumidor mais pressionado, com a poupança acumulada (desde a pandemia) acabando e um crescimento de salários que ficou abaixo da inflação nos últimos meses”, reforça.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney