Petrobras perde posto de “rainha dos dividendos”; veja novo 1º lugar e as 25 que mais pagaram no semestre

Três ações são queridinhas dos analistas para o segundo semestre, confira perspectivas para o próximo ciclo

Katherine Rivas

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A Petrobras não é mais a maior pagadora de dividendos da Bolsa brasileira, em ano marcado por distribuição de proventos em menor volume do que no ano passado. No primeiro semestre de 2023, empresas listadas distribuíram R$ 117,9 bilhões a acionistas, 6% abaixo dos R$ 125,2 bilhões do primeiro semestre de 2022, segundo dados da plataforma Meu Dividendo.

O recuo podia ter sido maior. Segundo analistas, os pagamentos vieram graças a uma pequena “gordura” de lucros do exercício anterior, além de eventos extraordinários que impulsionaram proventos de algumas companhias — como é o caso da nova primeira colocada, que deixou a Petrobras, campeã de 2022, para trás.

Segundo levantamento do TradeMap, considerando as empresas que integram os índices Ibovespa, Small Cap, índice de Dividendos (IDIV) e Índice Brasil 100 (IBrX 100), a maior pagadora de dividendos do semestre foi a empresa de calçados Grendene (GRND3), dona das marcas Ipanema, Melissa e Rider. A Grendene pagou R$ 1 bilhão em dividendos em maio.

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O valor, represado entre abril de 2016 e dezembro de 2022, é referente à decisão do Tribunal Federal da 5ª Região que reconheceu, em 19 de dezembro do ano passado, o direito de a empresa não incluir valores correspondentes a benefícios fiscais concedidos pelo estado do Ceará na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Com essa decisão, a empresa recebeu a permissão para distribuir valores que até então estavam reservados.

“Por ser uma distribuição extraordinária de proventos, isso não deve se repetir no segundo semestre dados os resultados atuais da ação”, esclarece Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research (veja mais abaixo as que têm mais chance de distribuir pagamentos no segundo semestre).

Demais boas pagadoras

Na segunda e terceira posição entre as maiores pagadoras do semestre ficaram as ações preferenciais (PETR4) e ordinárias (PETR3) da Petrobras com dividend yield de 19,40% e 16,95%, respectivamente.

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Apesar de toda a volatilidade e receios com a mudança da política de preços e uma alteração na política de dividendos, a Petrobras ainda fez distribuições generosas no primeiro semestre, por conta do lucro expressivo que teve em 2022, destaca Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “A CSN e CSN Mineração também fizeram grandes distribuições por conta do preço do minério no passado”, completa o analista.

As seguradoras como Caixa Seguridade (CXSE3), BB Seguridade (BBSE3) e Porto Seguro (PSSA3) também fizeram distribuições atrativas, beneficiadas pela taxa de juros elevada, explica Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest. “E algumas delas devem continuar entregando bons dividendos durante o segundo semestre”, diz.

Guilherme Gentile, head de análise da Dividendos.me, cita também a Mahle Metal Leve (LEVE3) como destaque. A companhia ocupou a quarta posição entre as maiores pagadoras do semestre, com dividend yield de 14,56%.

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“A Metal Leve teve um receita 50% maior do que no mesmo período do ano passado, gerou bastante caixa, mas muito provavelmente terá um mercado desaquecido para o restante do ano e a ação já teve uma valorização expressiva”, afirma Gentile.

Os analistas citaram também a Auren (AURE3), ex-CESP, que mostrou ser uma empresa redonda e com capacidade de pagar bons dividendos, segundo Arbetman.

25 maiores pagadoras de dividendos no primeiro semestre

Empresa Ticker Dividend yield no 1º semestre 2023 Dividendos e JCPS informados no 1º Semestre 2023
Grendene GRND3 21,73% R$ 1,31
Petrobras PETR4 19,40% R$ 4,75
Petrobras PETR3 16,95% R$ 4,75
Metal Leve LEVE3 14,56% R$ 4,36
Sid Nacional CSNA3 12,39% R$ 1,80
CSN Mineração CMIN3 11,00% R$ 0,45
Auren AURE3 10,18% R$ 1,50
Taurus Armas TASA4 9,71% R$ 1,30
Copasa CSMG3 8,50% R$ 1,33
Banrisul BRSR6 7,69% R$ 0,75
Irani RANI3 6,93% R$ 0,56
Energias BR ENBR3 6,83% R$ 1,42
Brasil BBAS3 6,60% R$ 2,29
Wiz WIZC3 6,35% R$ 0,45
CPFL Energia CPFE3 6,33% R$ 2,10
Bradesco BBDC3 6,03% R$ 0,81
Bradesco BBDC4 5,90% R$ 0,89
JHSF JHSF3 5,73% R$ 0,29
Log Com Prop LOGG3 5,69% R$ 0,92
BB Seguridade BBSE3 5,55% R$ 1,87
Alupar ALUP11 5,54% R$ 0,50
SLC Agrícola SLCE3 5,53% R$ 2,36
Positivo Tec POSI3 5,48% R$ 0,51
Sanepar SAPR11 5,45% R$ 0,19
Telefônica Brasil VIVT3 5,25% R$ 1,96

Fonte: TradeMap, dados até 30/06/23

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Por que a distribuição caiu?

O recuo se deu por diversos motivos. Para Arbetman, a causa mais forte é o cenário macroeconômico, com juro alto que provoca crédito escasso e mina operação de alguns negócios, além da inflação, que corroeu o poder de compra das famílias. “Tudo isso conversa com a situação que vemos aqui”, avalia.

A queda de 6%, no entanto, pode não ser necessariamente ruim — para Arbetman, é prova da resiliência das empresas. “[A queda] poderia ter sido muito maior se a bolsa traduzisse de fato a realidade econômica brasileira”, defende.

Para além do macro, o preço das commodities, cuja alta impulsionou as empresas brasileiras nos últimos dois anos, desacelerou junto com o dólar e impactou proventos nesta primeira metade de 2023, aponta Gabriel Duarte, analista da Ticker Research.

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Wendell Finotti, CEO da plataforma Meu Dividendo, também ressalta o elevado custo das dívidas, que levou companhias a segurarem recursos em caixa para não apelar a empréstimos e financiamentos com taxas de juros elevadas.

“No primeiro semestre de 2023, a média de dividendos distribuídos nos 124 dias úteis da Bolsa foi de R$ 951 milhões por dia”, calcula Finotti. Ele reforça que boa parte das distribuições foram feitas em juros sobre capital próprio (JCP), com 15% de imposto de renda retido na fonte. Os JCPs representaram 38,5% do total de proventos distribuídos.

Já os dividendos, isentos de imposto de renda, tiveram uma redução de 22% no volume pago aos investidores.

Proventos que mais caíram

A Vale (VALE3) distribuiu R$ 16,9 bilhões no primeiro semestre de 2022, mas acabou fazendo um corte de 43% nos proventos um ano depois, remunerando os seus acionistas com R$ 9,6 bilhões no primeiro semestre de 2023, segundo a plataforma Meu Dividendo.

Em ranking global da gestora Janus Henderson, a Vale foi a companhia que fez o maior corte de dividendos do mundo no primeiro trimestre deste ano, deixando de figurar entre as vinte melhores pagadoras do mundo. No ranking, a mineradora chegou a ocupar o nono e o 15º lugares no passado.

Companhias como Suzano (SUZB3) e Braskem (BRKM5) que tinham distribuído dividendos no primeiro semestre do ano passado, não fizeram distribuições em 2023 por conta de desafios nos setores e negócios.

Houve queda também nos dividendos pagos pelo Santander (SANB11) e pela holding Itaúsa (ITSA4).

Quais devem pagar bons dividendos no 2º semestre?

Mesmo tendo perdido o primeiro lugar, Petrobras segue no radar dos analistas para o segundo semestre. Além dela, as companhias mais citadas como boas pagadoras são Auren e Banco do Brasil.

Petrobras

Arbetman, da Ativa, defende que a companhia ainda deve gerar um bom caixa, no patamar atual do preço do petróleo, e que isso pode se traduzir em bons dividendos até o final de 2023. Já a partir de 2024, a companhia deve se focar nos investimentos.

O payout (parcela do lucro destinada a proventos) deve ser acima do mínimo de 25% e inferior ao atual de 64,74%, aponta o especialista, fruto da política que considera fluxo operacional menos fluxo de caixa. Ele projeta um dividend yield de 18,7% para a petrolífera neste ano.

Na Ticker Research, a expectativa é que a Petrobras tenha um dividend yield de 16% para os papéis PETR4. A recomendação é de compra. “A empresa tem diferenciais competitivos na exploração de petróleo em águas profundas, e mesmo com grande participação no seu segmento, ainda há crescimento pela frente”, defende Duarte. O principal risco é de ingerência política.

Banco do Brasil

Já o Banco do Brasil (BBAS3) é uma das ações preferidas para dividendos de Biz, do GuiaInvest, que destaca que a companhia vem apresentando resultados muito fortes, que permitem carregar o papel apesar do risco de ter o governo como sócio.

“Se o Banco do Brasil conseguir atingir seu guidance, [projeção de lucro líquido ajustado crescendo entre R$ 33 bilhões a R$ 37 bilhões em 2023], terá recursos suficientes para distribuir cerca de R$ 4,50 por ação neste ano”, afirma Biz.  Ele projeta um dividend yield de 9,5% para as ações BBAS3.

Na Ticker, Duarte destaca o diferencial e forte oportunidade de crescimento do Banco do Brasil no segmento agro e espera um dividend yield de 9% para este ano, com recomendação de compra.

Auren

Analistas consultados afiram que a Auren tem potencial de distribuir novamente dividendos de R$ 1,50 até o final do ano. “Auren está contratada para 2023, possui uma situação hidrológica muito confortável atualmente, com os reservatórios do subsistema Centro Oeste e Sudeste com mais de 80% da capacidade de reserva”, comenta Arbetman.

Gentile, da Dividendos.me, espera um pagamento adicional de proventos da Auren de R$ 1,5 bilhão no final de 2023.

O analista destaca a injeção de capital de R$ 1,5 bilhão feita por um dos controladores que ajudou a reduzir a alavancagem financeira da empresa, que também é elogiada por sua diversificação e gestão disciplinada, principalmente na alocação de capital — a empresa não buscaria crescer a qualquer custo.

Outras pagadoras promissoras

Além destas companhias, Biz acredita que Telefônica Brasil (VIVT3) e Metal Leve (LEVE3) devem continuar entregando dividendos interessantes na segunda metade do ano, com dividend yield de 7,5% e 9%, respectivamente.

Duarte cita também a Alupar (ALUP11), com dividend yield projetado de 4,5%. “Ainda há bastante crescimento e melhorias operacionais a serem realizadas, que trariam aumento de receita e consequentemente aumento no pagamento de proventos no futuro”, diz.

O analista da Ticker ressalta também o potencial de crescimento via aquisição de novos lotes no leilão de transmissão que deve ser realizado pela Aneel em dezembro. Contudo, reforça que o risco da companhia é o endividamento elevado.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.