Porto Seguro, Hapvida e Assaí: as apostas da Kinea para atravessar dias de turbulência nos mercados

“É hora de dar mais foco no comportamento micro da empresa do que no cenário macroeconômico", aponta a gestora, em relatório

Lucas Bombana

(Getty Images)
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SÃO PAULO – O otimismo que pairava sobre o mercado nas últimas semanas pelas perspectivas de reabertura da economia em meio ao processo de vacinação passou a ser sobreposto mais recentemente por um aumento da aversão ao risco por parte dos investidores.

Variantes do coronavírus e a alta dos juros nos Estados Unidos, bem como os riscos fiscais e políticos do Brasil, estão entre os fatores que ajudam a explicar a situação atual – com uma queda de 7,4% apenas em agosto, até o dia 18, o Ibovespa perdeu nesta semana a marca dos 120 mil pontos.

Em carta aos investidores, a gestora Kinea aponta que enxerga um cenário macro de curto e médio prazo “difícil e repleto de incertezas”. Além de um crescimento mais moderado previsto para a economia em 2022 e com as incertezas eleitorais cada vez mais presentes, gestores escrevem no documento que o custo de oportunidade já está bem alto para os investimentos em Bolsa.

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Segundo os especialistas, com taxas nos títulos públicos prefixados de dez anos em dois dígitos e considerando um prêmio de risco adicional para investir em ações em relação à renda fixa, que costuma variar entre algo como quatro e cinco pontos percentuais, o retorno esperado para a alocação na Bolsa deveria estar próximo de 14%.

“Claramente um alto custo de oportunidade dadas as perspectivas brasileiras para crescimento nominal ao longo dos anos”, dizem os gestores.

Neste cenário, a Kinea destaca que as melhores oportunidades de investimento em ações estão em empresas que dependam menos de um cenário macroeconômico favorável e mais de sua capacidade própria de gestão, seus modelos de negócios e características intrínsecas dos setores em que estão inseridas. “É hora de dar mais foco no comportamento micro da empresa do que no cenário macroeconômico.”

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Porto Seguro (PSSA3), Hapvida (HAPV3) e Assaí (ASAI3) foram elencadas no relatório como três nomes que, na visão dos gestores, têm as características necessárias para atravessar a volatilidade esperada à frente.

Segundo a Kinea, essas empresas têm em comum o fato de estarem bem posicionadas em seus respectivos setores, com modelos de negócio claros e capazes não apenas de passar por períodos de forte incerteza macro, como se aproveitar deles para saírem ainda mais competitivas.

Em 2021, até 17 de agosto, o fundo de ações long only Kinea Gama FIA tem rentabilidade positiva de 5,8%, após render 33,2% no ano passado.

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Novas verticais na Porto Seguro

Em relação à Porto Seguro, os gestores dizem ter adicionado recentemente o papel ao portfólio por se adequar ao critério de qualidade estabelecido, com boa gestão e resiliência operacional, e por iniciativas de crescimento na vertical de negócios financeiros que entendem ainda não devidamente precificadas pelo mercado.

Na análise sobre a tese de investimento, a Kinea pontua que a vertical de negócios financeiros oferece uma gama de produtos (como cartão, financiamento, consórcio, fiança locatícia, capitalização, entre outros) em um formato de “digital retail banking”.

“Além de ser líder no segmento de Seguro Auto no Brasil, a empresa deve continuar se beneficiando de melhoria de eficiência operacional, e expansão das novas verticais ao longo dos próximos anos”, aponta o relatório da gestora.

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As ações da seguradora têm alta de 23,3% em 2021, até 18 de agosto, ante queda de 2% do Ibovespa. Em 2020, os papéis caíram 18,3%, contra a valorização de 2,9% do benchmark.

Assaí e a força do atacarejo

Sobre a rede focada no segmento de atacarejo Assaí, os gestores da Kinea destacam que a companhia vem apresentando na última década crescimento de vendas muito superior ao do mercado, com expansão de rentabilidade, tendo como diferencial o baixo custo de operação.

“O modelo de atacarejo tem como característica operar com um custo operacional baixo frente aos formatos rivais como hipermercados e supermercados”, aponta o relatório.

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Pelos cálculos da Kinea, o formato adotado pela rede Assaí é de 10% a 15% mais barato em comparação com a estratégia dos hipermercados.

“Vimos a ambientação de lojas do atacarejo melhorar, as lojas passaram a aceitar mais opções de pagamento, e, em alguns casos, alguma oferta de serviços foi adicionada sem perder o foco no baixo custo de operação”, diz a carta.

Apesar de reconhecer o crescimento do comércio eletrônico como um dos principais riscos para o desenvolvimento da tese conforme as expectativas, os gestores colocam que há ainda um enorme obstáculo operacional para superar o alto custo logístico do e-commerce alimentar.

As ações da rede Assaí têm valorização de aproximadamente 470% desde que passaram a ser negociadas na Bolsa, no fim de fevereiro de 2021, após cisão das operações do Pão de Açúcar.

A nova Hapvida pós-fusão

Em relação à Hapvida, a avaliação da Kinea é a de que a empresa combinada com a fusão com a Intermédica se beneficiará de enormes sinergias, além de redução na competição por ativos, que estava começando a acontecer em algumas praças.

“Teremos mais clareza do montante após a aprovação do CADE, mas estimamos grandes sinergias operacionais (custo, despesa e receita), além de benefício fiscal devido à amortização do ágio a serem capturados pela cia pós-fusão”, diz o relatório.

Aliados às vantagens competitivas e aos ganhos com sinergia, os gestores dizem enxergar dois importantes fatores que devem contribuir para impulsionar o crescimento do setor de saúde complementar no longo prazo: envelhecimento da população e aumento do emprego.

“Quanto mais velha a população, maior a necessidade e o gasto (tíquete médio) do plano de saúde e, quanto maior o nível do emprego, mais vidas sairão do SUS para os planos privados”, aponta a Kinea.

As ações da empresa do setor de saúde têm desvalorização de 4% em 2021, até 18 de agosto, após alta de 20% no ano passado.