Precisamos conversar sobre os seus fundos multimercados

O que explica o desempenho desta classe de ativo ao longo de 2023 e como agir em situações como a atual?

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

Desde os primeiros meses do ano, o que eu mais escuto pelos corredores do mercado são reclamações sobre a rentabilidade recente dos fundos multimercado. É compreensível: no geral, a classe não está desempenhando um bom papel em 2023.

Você que é cotista de um fundo multimercado ou acompanha o segmento, deve se sentir representado nessas palavras. Bom, já aviso que minhas colegas Mariana Segala e Bruna Furlani fazem uma cobertura excelente do tema aqui no InfoMoney. Vale ficar de olho e acompanhar, assim como essa matéria.

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O que mais me chama atenção é que essa dor não é apenas de investidores individuais, também assola as grandes famílias e fortunas, investidores institucionais e até mesmo profissionais do mercado financeiro. Mas por quê? O que está acontecendo para que todos, de maneira simultânea, esqueçam a dinâmica de um fundo como este e sobre seu horizonte de investimento?

Eu tenho alguns palpites, se me permite:

Esse ano é, no mínimo, complexo até aqui. No início, tivemos as primeiras impressões de um novo governo.

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Pouco tempo depois, empresas como a Light e as Lojas Americanas anunciaram recuperação judicial. Houve também a escalada da guerra entre a Rússia e Ucrânia.

Bancos regionais americanos “quebrando” com a alta de juros nos Estados Unidos, a economia que fez economistas ao redor do mundo errarem previsões o tempo todo. A Bolsa e os juros futuros no Brasil que se movimentaram para o lado otimista, mas sem participação de boa parte dos gestores brasileiros.

Os fundos de ações que subiram leves e sozinhos, já que os cotistas regataram o seu dinheiro meses consecutivos. Ou seja, tempestade perfeita: quase tudo deu errado.

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Porém, precisamos lembrar dos fundamentos pelos quais investimos nosso dinheiro e o horizonte de maturação de cada classe de ativo que temos em nossas carteiras. Na coluna de hoje, foco nos multimercados.

Qualquer especialista no tema, acompanha os números desses fundos, no mínimo, em janelas de 3 anos. Estatisticamente, os bons fundos multimercados vão bater o retorno de 130% do CDI nesse período, que já é algo razoável a depender do nível de risco que cada um desses fundos se expõe.

No ano passado, os fundos multimercado tiveram um momento brilhante em retorno. Boa parte das casas de qualidade capturou o movimento de alta de juros nos Estados Unidos e fizeram muito dinheiro com isso – um verdadeiro “baile” dos “brazucas” lá fora.

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Por motivos óbvios (e errados), esse resultado de curto prazo atraiu muitos investidores desavisados para esses fundos. Nesse ano, parte dessa turma já resgatou seus recursos ou cogita nesse exato momento realizar o movimento.

Grandes nomes da indústria reportam resgates líquidos: a turma mal chegou e já está de saída, com um resultado pífio. Será que isso está certo?

Bom, eu posso dizer que isso me deixou parcialmente contente. Metade de mim vibrou com os meus fundos prediletos reabrindo para captação após saídas de recursos, foi uma excelente janela de oportunidade para aumentar ou investir em fundos que antes não tive a chance.

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E os 50% restantes ficam triste em assistir um passivo inconsistente que deriva de falta de educação financeira. Dito isso, e sabendo que esse texto não chegará em todos, deixo aqui a minha sugestão:

Houve alguma mudança estrutural no seu fundo? O gestor operou de maneira indevida? Tivemos mudança de estilo ou estratégia? Os limites de risco foram desrespeitados? O mandato foi descumprido? Sócios relevantes da gestora pediram as contas? O societário está com problemas?

Não? Ok.

Mas você investiu no tamanho adequado para o seu perfil de risco nessa estratégia específica? Sim? Ótimo, então não faça absolutamente nada.

Não se toma decisão de investimento, principalmente com fundos de investimento como os multimercados, no curto prazo. A rentabilidade dos últimos meses não diz absolutamente nada sobre a qualidade daquela equipe de investimento e a capacidade de ela te fazer um investidor feliz no longo prazo.

Não se faz “trade” com cota de fundo de investimento aberto. Você até pode querer fazer isso com fundos fechados negociados em Bolsa, embora tenha as minhas dúvidas quanto a assertividade disso, mas com fundos de plataforma? Nunca.

Você faz uma boa curadoria, escolhe os fundos e tamanhos do seu portfólio neles, carrega para o longo prazo pensando numa carteira diversificada equilibrada para o seu perfil de risco. Esse é o caminho.

Buscar o “trade” desses fundos, além de ser complexo por conta do tempo de resgate de cada gestora, será maléfico ao seu patrimônio. Você vai repetir esse processo até quebrar – simples, assim.

É uma destruição patrimonial em cadeia. Não estou dizendo que você jamais deva resgatar de um fundo. Caso você identifique alterações naquelas perguntas que fiz acima, talvez você, de fato, conclua que os fundamentos mudaram – mas isso não é feito todas as vezes que a sua cota de curto prazo fica “feia”. Pense nisso.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney