Reforma tributária vai adiar aumento de risco nas carteiras? Especialistas respondem

À espera do texto final que sairá do Congresso, casas evitam mudanças nas carteiras; gestoras postergam montagem de algumas posições

Bruna Furlani

(Getty Images)
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A discussão relâmpago e aprovação do texto da reforma tributária na Câmara dos Deputados na semana passada trouxeram dúvidas para a cabeça de investidores sobre eventuais mudanças de alocação.

Ainda que o texto possa sofrer alterações durante tramitação no Congresso e alguns setores da Bolsa possam ser mais afetados do que outros, a avaliação da maior parte dos especialistas ouvidos pelo InfoMoney é que o momento é adequado para elevar a alocação em ativos de risco, de olho no recuo da Selic.

Não há consenso, porém, sobre a possibilidade de realizar ou não alterações nas carteiras em termos de segmentos.

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“A leitura do texto da reforma é positiva. A ideia de aumentar a renda variável tem mais a ver com o corte de juros. A reforma [tributária] é mais um tijolo para aumentar a credibilidade do país”, defende o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

O texto aprovado pelos deputados cria um Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) no formato dual, composto por dois tributos: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) ‒ e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

O primeiro deve substituir três tributos federais: a Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI).

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Já o segundo pretende substituir o estadual Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) e o municipal Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).

Olho nos setores

De acordo com a chefe de economia da Rico, Rachel Sá, a maior mudança para a grande maioria dos segmentos está na consolidação de diversos tributos pagos ao longo da cadeia em dois: CBS e o IBS.

Mas há algumas exceções. Em relatório, a economista destacou que o setor financeiro não deve entrar no novo modelo tributário com base no IVA e ter um tratamento diferenciado.

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Visão que não é compartilhada por Cruz, da RB, que acredita que o setor pode ser bastante afetado por eventuais aumentos de carga tributária e por possíveis mudanças que devem ser tratadas na segunda parte da reforma tributária.

“Não recomendo ficar totalmente de fora [de bancos], mas não deve ser a principal posição”, avalia o estrategista-chefe da RB.

Há uma expectativa de que a segunda parte do texto da reforma tributária trate sobre a tributação de dividendos e o fim do Juros sobre Capital Próprio (JCP). O ponto é que bancos tendem a ser bons pagadores de proventos.

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Segundo a Lei das S.As, as empresas de capital aberto no Brasil devem distribuir, no mínimo, 25% dos seus lucros aos acionistas, o que pode ocorrer de duas formas: dividendos ou Juros sobre Capital Próprio (JCP).

Hoje, os dividendos são isentos de impostos para o acionista, enquanto o JCP possui a incidência de impostos com alíquota de 15%.

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Já para as empresas, o detalhe está no fato de que o pagamento de JCP entra no balanço das companhias como despesa financeira, ou seja, é deduzido da base de cálculo para os impostos.

Cautela para alocar

Outros setores que também exigem certo cuidado são os de varejo, saúde e logística. Ao comentar sobre o último, o sócio-fundador da Skade Capital, Eduardo Cortez, explica que o contrato com o operador logístico costuma ter como base o custo do frete versus o custo do insumo e o custo fiscal.

“Temos medo de que alguns contratos de prestação de serviços logísticos deixem de fazer sentido. Mas isso só vai dar para saber quando tiver o texto [definitivo] da reforma [tributária”, alerta o gestor.

Atualmente, uma das companhias que a casa possui posição é a Simpar (SIMH3), que controla a JSL (JSLG3). Após realizar uma série de simulações, o executivo disse que vai manter o papel no portfólio, mas reitera que permanece mais conservador à espera do texto final, que sairá do Congresso.

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A aprovação da reforma na Câmara também fez a casa postergar a montagem de algumas posições no setor de saúde. “Se mexer no benefício fiscal, os laboratórios que fabricam medicamentos podem ter um impacto forte no lucro. Continuamos olhando, mas decidimos esperar até as coisas se resolverem”, pondera.

Entre as empresas de saúde que a casa monitora estão a Hypermarcas (HYPE3) e a Blau Farmacêutica (BLAU3). Apesar da cautela, Cortez destaca que o impacto maior não deve vir agora, já que as empresas terão um período de até oito anos de transição para que os novos tributos substituam os atuais.

Evitar alterações na carteira

Trocas buscas ou vendas também não têm sido o foco dentro da Suno Asset, diante de chances de mudanças no texto ao longo da tramitação no Congresso.

“O que vai impactar muito os investimentos vai ser a reforma do Imposto de Renda. Não adianta se mexer agora porque o corre o risco de se mexer para o lado errado. Mantenha a sua estratégia de hoje”, defende o CIO da Suno Asset, Vitor Duarte.

Um dos grandes desafios agora é que não é possível precisar ainda qual será a alíquota, nem qual será o real impacto. Nesse sentido, ele cita o exemplo de uma companhia aberta de hospitais.

Segundo o executivo, se todos os hospitais forem afetados por alíquotas mais altas, o custo vai ser maior para todas e as instituições tentarão repassar isso de alguma forma ao consumidor.

“Está muito cedo para definir alocação setorial, como vão ficar os preços. De repente, as coisas vão acomodar e a margem da companhia também pode acomodar. Ou talvez, a saída de uma empresa faça com que outra ganhe market share [participação de mercado] e depois consiga aumentar de novo a margem”, destaca Duarte.

Outra casa que preferiu adotar uma visão mais cautelosa é a Braúna Investimentos. A head de alocação e produtos da instituição, Catherine Cruz, diz que não realizou mudanças e que está à espera de um texto definitivo da reforma tributária e de uma sinalização mais favorável ao corte de juros por parte do Banco Central para elevar a posição em ativos de risco nas carteiras dos clientes.

Cruz defende que o custo de oportunidade ainda está elevado com o CDI em 13,75% e que não há porque aumentar bruscamente o risco quando a renda fixa entrega um retorno tão alto, ainda que haja uma expectativa de cortes a partir de agosto, por parte de agentes financeiros.

“Estamos indo sem a emoção de aprovação da reforma e contando mais com a diversificação de investimentos neste momento”, conclui.