Rentabilidade de CDB com prazo de 3 meses chega a 110% do CDI; LCA tem taxa equivalente a até 117%

Até "bancões" estão oferecendo taxas atrativas; investimento pode valer para perfis variados, mas não é recomendado para reserva de emergência

Bruna Furlani

Notas de Real (Getty Images)
Notas de Real (Getty Images)

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Diz a velha máxima dos investimentos que para conseguir bons retornos é preciso ceder em outras frentes – no prazo, por exemplo. Na renda fixa bancária, é muito comum encontrar papéis que oferecem remuneração atrativa, mas em troca exigem que o investidor mantenha a aplicação por vários anos.

Recentemente, no entanto, essa lógica tem dado sinais de flexibilização. Com as revisões para a alta esperada da Selic no ano, a demanda por investimentos de prazo mais curto e a necessidade de financiamento de instituições financeiras, cresceram as ofertas de títulos bancários – como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs) – com vencimento em apenas 3 meses. E apesar do prazo curto, as taxas oferecidas estão mais atrativas.

Levantamento feito InfoMoney com dados da Yubb, plataforma que compila informações sobre investimentos de diversas corretoras, mostra que o retorno bruto máximo oferecido por algumas LCAs com vencimento em três meses chegava a 91% do CDI na última terça-feira (12). Nesse caso, o emissor era do Banco ABC Brasil e o valor mínimo de aplicação era de R$ 1 mil.

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Pelo fato de ser isenta de Imposto de Renda, uma boa forma de analisar a sua rentabilidade é compará-la com a de um CDB, que não possui a mesma isenção tributária. Se o investidor optasse por adquirir uma LCA com rendimento líquido de 91%, por exemplo, o rendimento seria o mesmo de um CDB com retorno bruto de cerca de 117% do CDI.

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LCIs com liquidez a partir de três meses, por sua vez, ofereciam taxas líquidas máximas de até 88% do CDI, segundo dados da Yubb. O emissor em questão era o BTG Pactual. Na prática, quando comparado ao retorno entregue por um CDB, isso seria o mesmo que adquirir um papel com remuneração bruta de 113,5% do CDI.

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Já entre os CDBs, era possível encontrar alguns que entregavam juros brutos de até 110% do CDI, também com resgate em três meses. Tal papel era emitido pelo Banco Bari e o investimento inicial era de R$ 50, de acordo com dados da Yubb.

Retornos oferecidos por LCIs, LCAs e CDBs

Produto Taxa mínima  Taxa média Taxa máxima  Emissor 
LCA 83% do CDI 86,66% do CDI 91% do CDI Banco ABC Brasil
LCI 88% do CDI 88% do CDI 88%% do CDI Banco BTG Pactual
CDB 89% do CDI 101% do CDI 110% do CDI Banco Bari

Fonte: Yubb. Os retornos acima são líquidos, no caso de LCIs e LCAs. O mesmo não vale para CDBs. Os dados do dia 12/04/22.

Em meio ao aumento da demanda por papéis bancários, até mesmo os “bancões” se movimentaram: na última terça-feira (12), havia LCIs emitidas pelo Banco Itaú, com vencimento em outubro de 2022 e resgate a partir de 91 dias, oferecendo 93% do CDI para aplicações mínimas de R$ 5 mil.

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Diante de taxas mais atrativas, especialistas avaliam que o momento é bom para adquirir esse tipo de papel – de preferência, os com isenção tributária, como LCAs e LCIs – que estão oferecendo retornos maiores do que fundos de renda fixa com liquidez menor e do que CDBs, de prazo mais curto.

Para todos os perfis

Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, explica que a recomendação vale para os mais variados perfis: desde investidores mais sofisticados até mesmo pessoas pensando na aposentadoria.

“Há muitas incertezas no radar. Nessa situação em que estamos, o investidor pode querer fazer um caixa de oportunidade, se alguma ação cair, por exemplo. Pode ser uma forma interessante de montar um caixa e de ter uma liquidez de prazo mais curto”, destaca a alocadora.

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Apesar de o levantamento ter encontrado apenas taxas menores do que 100%, Marília faz uma observação: “Se o investidor tiver paciência, é possível encontrar LCIs e LCAs oferecendo 100% do CDI. São ofertas que vão e voltam. São cíclicas, porque as pessoas se interessam muito e logo acabam, já que oferecem um retorno de mais de 1% ao mês”, acrescenta.

A planejadora financeira CFP Regina Prataviera também vê o momento atual como boa oportunidade para adquirir títulos de crédito bancário, com liquidez em três meses. Uma das explicações está na mudança recente do discurso feito por Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, conta a especialista.

Durante um evento no começo desta semana, Campos Neto destacou que a inflação oficial apresentada na semana passada – de 1,62% em março, a maior para o mês desde 1994 – foi uma surpresa. O presidente da autoridade monetária também se mostrou aberto a analisar o cenário.

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Com essa declaração, boa parcela do mercado entendeu que a autoridade monetária deu sinais de que “enterrou” a ideia de elevar a Selic apenas até 12,75%, na reunião de maio, como vinha defendendo na ata e em encontros anteriores.

Agora, uma análise da curva DI futura mostra que os agentes financeiros esperam que o ciclo de alta da taxa básica de juros termine em 13,75% ao ano. A medida é uma das formas de analisar as projeções de mercado, já que há duas semanas o Banco Central não divulga o Relatório Focus, com as expectativas de economistas consultados pela autarquia.

Diante da maior probabilidade de que o ciclo de alta de juros vá para além de maio, Regina afirma que o custo de oportunidade para alocar nesse tipo de investimento está menor, porque está muito difícil encontrar um CDB ou um fundo com liquidez menor que garanta cerca de 117% do CDI, percentual que o investidor receberia se aplicasse na LCA com rendimento líquido de 91% do CDI, por exemplo.

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Apesar disso, ela diz que se o investidor não estiver muito seguro sobre os prazos, a sugestão é diversificar os vencimentos. “O mercado está muito incerto e é difícil alongar para mais de dois anos. Então, uma opção é dividir os prazos e deixar um pouco de dinheiro em um papel com liquidez mais próxima, se surgir uma oportunidade”, observa.

Emissores têm boa classificação de risco

Além de taxas mais atrativas, outro detalhe do levantamento chama a atenção: o risco (rating) do emissor. Entre os papéis que ofereceram as melhores taxas estão títulos emitidos por instituições com boas classificações de risco, como é o caso do Banco ABC Brasil e do BTG Pactual.

O Banco ABC Brasil, por exemplo, possui rating AAA em escala nacional, enquanto o Banco BTG Pactual tem nota AA. Ou seja: ambos receberam boas notas de classificação de risco de crédito, segundo a agência Fitch Ratings.

Para Regina, planejadora financeira, cada vez mais bancos com bom rating têm oferecido taxas melhores. Segundo ela, parte da explicação para isso está na demanda. “Esse aumento de papéis pós-fixados está ligado a empréstimos para pessoas físicas e empresas. Os bancos vão fazendo caixa para melhorar as taxas. Isso explica esse movimento”, diz.

Ela também chama a atenção para a entrada de novos players no mercado de emissão de dívida bancária, com nomes como Mercado Livre, Pernambucanas Financiadora etc. Embora haja a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que devolve até R$ 250 mil por investidor (CPF) e por instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão renovado a quatro anos, em caso de problemas como uma intervenção do Banco Central na instituição, é preciso ter atenção.

A recomendação da especialista é que o investidor sempre olhe o rating da instituição, que pode ir até BB+, ou B, por exemplo. Segundo ela, avaliar a nota de crédito pode ser uma maneira mais fácil para uma pessoa física investir, já que pode ter certa dificuldade em analisar o balanço de um banco com maior profundidade para entender os riscos.

“Como estamos em um mercado desafiador, isso traz mais risco de crédito. É super importante olhar o emissor e ter em mente que, às vezes, vale a pena abrir mão de um pouco do retorno para ter mais segurança”, avalia Regina.

Já Marília, da Nord, prefere analisar as instituições mais no detalhe, e não olhar tanto para o rating. “Penso que é como se fosse operar olhando pelo retrovisor. Às vezes, as agências demoram para atualizar o rating. Quando invisto, observo o índice, ou carteira D-H [indicador que inclui créditos mais arriscados e aqueles com atraso de pagamento acima de 60 dias], que consegue antecipar bem a inadimplência que um banco pode ter”, argumenta.

Vale a pena para a reserva emergência? Entenda por que não

Embora as taxas estejam atrativas para papéis com liquidez em 3 meses, o investidor não deve usar esse tipo de alocação com foco em montar uma reserva de emergência, que precisa estar acessível com rapidez e facilidade diante de imprevistos. “Não é a melhor opção, porque a pessoa pode precisar do dinheiro a qualquer momento”, afirma Regina.

A planejadora destaca que LCAs, por exemplo, possuem carência mínima de 90 dias, logo não é possível sacar o valor a taxa nenhuma antes desse período. Nesse caso, a sugestão da alocadora é que o investidor busque outras opções com liquidez diária, como fundos DI.

Outros especialistas também sugerem que o investidor aloque a reserva emergência em CDBs de bancos grandes, que entreguem pelo menos 100% do CDI, ou no Tesouro Selic. Todas as opções devem ser pós-fixadas e oferecer liquidez diária.