Ritmo de corte da Selic deve se manter com IPCA-15 e piora externa, diz Porto Asset – que zerou títulos de inflação

Uma das maiores preocupações da casa está no cenário internacional, com a desaceleração na China e Europa, acompanhada de abertura forte da curva dos EUA

Bruna Furlani

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No fechamento de uma semana de bastante volatilidade no mercado externo, o avanço de 0,28% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) em agosto não deve trazer maior apreensão aos agentes financeiros, na visão da Porto Asset. Embora o número cheio tenha vindo acima dos 0,17% previstos por analistas, a avaliação é de que o qualitativo mostrou uma leitura mais benigna da inflação.

“Olhamos para os núcleos e para os serviços e ficamos razoavelmente satisfeitos, pois estão perdendo força, o que sugere que o quadro de desinflação segue firme”, afirma Felipe Sichel, economista-sênior da Porto Asset.

Nos cálculos da casa, a média móvel de três meses anualizada dos núcleos com ajuste sazonal acelerou de 3,4% para 3,6% agora. Já no caso da inflação de serviços subjacentes, métrica que é bastante acompanhada pelo Banco Central, a média móvel em 12 meses caiu de 5,9% para 5,4%.

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Sem grandes surpresas na porção qualitativa do indicador, Sichel avalia que o inesperado foi o avanço de preços de automóveis novos (2,94%), que puxou para cima o resultado do grupo transportes na inflação deste mês. O aumento pode ter sido provocado pelas medidas anunciadas no primeiro semestre deste ano pelo governo para estimular a compra de carros populares.

De modo geral, no entanto, o principal impacto para o resultado do IPCA-15 no mês veio do setor de habitação, puxado pela alta da energia elétrica (4,59%). O IBGE destacou que a subida foi influenciada pelo fim da incorporação do bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês anterior.

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Outra surpresa ficou por conta da alimentação no domicílio, como explica Sichel. Em agosto, a queda do grupo alimentação e bebidas (-0,65%) deveu-se, principalmente, à deflação da alimentação no domicílio (-0,99%), que já havia registrado recuo nos dois últimos meses.

Embora o número cheio do IPCA-15 tenha vindo mais alto, é preciso ponderar que ele ainda não possui os efeitos do reajuste promovido pela Petrobras neste mês, quando a petroleira aumentou o preço da gasolina em 16,3% e do diesel em 25,8% nas distribuidoras.

Atualmente, a projeção de inflação da casa está em 4,8%, mas o profissional destaca que a estimativa deve ser recalibrada após a divulgação do IPCA-15 de hoje.

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Zerados em inflação e apostando em prefixados

Diante de surpresas no grupo alimentação, que poderiam trazer a inflação um pouco para baixo no curto prazo, a Porto Asset diz que está com uma alocação zerada em títulos atrelados à inflação, como destaca Ian Lima, gestor de fundos de renda fixa da gestora.

A visão da gestora vai na contramão de algumas casas que elencaram os títulos atrelados à inflação como os preferidos para uma alocação tática, caso do UBS. “A performance dessa classe de ativos vem sendo muito boa recentemente, mas acreditamos que ainda há espaço para uma maior apreciação”, afirmou Ronaldo Patah, CIO do banco, em relatório nesta semana.

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A Porto Asset, por sua vez, diz que vê oportunidades e que está com posições aplicadas (que se beneficiam da queda) em juros prefixados brasileiros, com destaque para os vértices de dois anos. “São vencimentos que não precisam de uma aceleração do ritmo de afrouxamento do BC para performar”, destaca Lima.

A casa também está com alocações tomadas em inclinação da curva, ou seja, que se beneficiam quando há uma expectativa de ocorrer um aumento na diferença entre as taxas de curto e longo prazos, especialmente nos vencimentos mais alongados.

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Pressão externa

Enquanto o cenário local parece mais bem encaminhado, o grande temor da Porto está lá fora. Sichel avalia que a forte turbulência provocada no mercado nos últimos dias com a desaceleração da China e da Europa, aliada à abertura da curva longa de juros americana, deve levar o Banco Central brasileiro a adotar um tom cauteloso, sem acelerar o ritmo de cortes nos próximos encontros.

O cenário-base da casa atualmente é que o BC realize cortes de 0,50 ponto percentual até o fim do ano, o que levaria a Selic para 11,75% ao ano. O economista defende que um dos perigos pode estar no câmbio.

“O aumento das pressões lá fora faz com que o câmbio tenha menos espaço para apreciar, ou seja, adiciona preocupação ao BC”, destaca. A visão da casa é que a abertura da curva de juros americana deve fortalecer o dólar na comparação com outras moedas, como o real.

Na manhã desta sexta, o índice DXY, que mede a força do dólar frente a seis divisas de países desenvolvidos, chegou a marcar 104,09 pontos, valor bem acima dos 101,35 pontos vistos no fim de julho deste ano.

O movimento visto lá fora tem afetado diretamente os ativos brasileiros. “Estamos a mercê do cenário externo. O movimento de desvalorização de moeda e Bolsa tem sido amplo e quase que ‘sincronizado’ em economias emergentes”, observa Sichel.

Ainda que as taxas mais longas da curva americanas tenham registrado certo alívio nas duas últimas sessões, Sichel destaca que os mercados estão em um “movimento de descoberta de preços”. “Onde vai parar, eu não sei. É um movimento que tem se mostrado mais constante, ainda que com volatilidade”.

A forte abertura na curva de juros americana ocorreu após o mercado reajustar posições, diante do crescimento da visão de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) não conseguirá cortar juros neste ano, em meio a uma atividade econômica ainda bastante resiliente.

Na tentativa de entender os próximos passos da autoridade, investidores acompanham com atenção o Simpósio de Jackson Hole, que ocorre nesta sexta-feira (25). No evento, Jerome Powell, presidente do Fed, deixou a porta aberta para subir ainda mais os juros, caso seja necessário.

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Powell comentou que as taxas reais estão bem acima das estimativas e que dois meses de bons dados de inflação são apenas o começo do que é necessário para construir a confiança no indicador. “Precisamos de mais progresso na inflação de serviços não habitacionais”, afirmou.

Para o presidente do Fed, o crescimento da economia acima da tendência pode exigir a manutenção do aperto.

Apesar da fala de Powell, agentes financeiros precificam uma probabilidade implícita de 80,5% de que o Fed mantenha os juros no patamar entre 5,25% e 5,50% na reunião de setembro, percentual que não sofreu alterações em relação ao pregão de ontem (24), em que o valor estava em 81%. Os dados são do CME Group.