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SÃO PAULO – Em 2021, até 15 de abril, enquanto o índice acionário da bolsa americana S&P 500 sobe 11% em dólar, o Ibovespa tem queda de 6,3%, também considerada a variação cambial no período.
A diferença de retorno reflete o avanço mais célere da vacinação e os pacotes de estímulo do governo Biden, em contraste a um processo ainda lento de imunização no Brasil, com impacto negativo sobre a recuperação da atividade local e também de pressão sobre o quadro fiscal.
Diante de perspectivas claramente mais favoráveis ao ambiente internacional neste momento, é para lá que os principais fundos multimercado têm voltado suas atenções.
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No Brasil, gestoras consideradas referência, como Verde, SPX e Adam, apontaram recentemente a ampliação do foco em ativos globais, em detrimento às oportunidades no mercado doméstico.
E essa não é uma visão restrita apenas aos investidores locais que se viram instados a partir para um aumento da alocação internacional frente ao recrudescimento da pandemia no Brasil.
No caso de grandes casas globais baseadas no exterior, a visão é parecida. Com cerca de US$ 10 bilhões sob gestão à frente da área de estratégia macro do JP Morgan Asset Management, o gestor baseado em Londres Shrenick Shah vê nos setores de caráter mais cíclico dos Estados Unidos as melhores oportunidades do mercado.
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“Temos nos sentido confortáveis para aumentar a exposição líquida comprada em ações, especialmente nos setores mais cíclicos”, disse Shah, em entrevista por e-mail ao InfoMoney, na qual comentou também sobre a aposta na alta dos juros americanos e do dólar, em meio à força da recuperação econômica dos Estados Unidos.
Entre os emergentes, o foco está mais voltado para países como Índia e Rússia, na esteira do crescimento da classe média nesses países.
No caso do Brasil, o gestor afirmou que a etapa em que o país se encontra no combate à pandemia ainda mantém as incertezas bastante elevadas na região.
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“Com a variante brasileira, as coisas podem ficar um pouco mais incertas, uma vez que o vírus está em constante mutação”, afirmou Shah, que não tem alocação em ativos brasileiros entre os fundos sob sua gestão.
Este é o caso do multimercado JP Morgan Global Macro Opportunities, à disposição na plataforma da XP a investidores qualificados, em versões com e sem a variação do dólar. Nele, cerca de 66% do risco está voltado para o mercado acionário. Na divisão regional, o mercado americano desponta à frente, com aproximadamente 50%, seguido pelo europeu, com 23%.
No primeiro trimestre, o fundo global com hedge cambial, portanto sem o efeito da variação do dólar, rendeu 2,65%, acima do CDI no intervalo (0,48%). Nos 12 meses encerrados em março, os ganhos do fundo são de 13,2% e, em 24 meses, chegam a 22,4%, contra as variações de 2,2% e 7,8% do benchmark, respectivamente.
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Confira a seguir os principais trechos da conversa com o gestor, que está no JP Morgan Asset Management desde setembro de 2010 e tem passagens anteriores pelas divisões de ações do Deutsche Bank e do Credit Suisse.
InfoMoney: Qual o cenário-base para 2021 e como ele se reflete na alocação do Global Macro Opportunities?
Shrenick Shah: Esperamos que o momento positivo de recuperação econômica global tenha prosseguimento, ainda impulsionado principalmente pelas políticas de suporte em resposta à pandemia, mas também, e cada vez mais, por conta das melhorias nas perspectivas para o emprego e para a atividade, à medida que as economias avançam no caminho de reabertura e as políticas de saúde pública começam a superar o vírus.
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Nosso posicionamento continua refletindo essa visão de recuperação global. Temos nos sentido confortáveis para aumentar nossa exposição líquida comprada em ações, especialmente nos setores mais cíclicos.
Temos também uma posição vendida nos juros americanos [que ganha com a alta dos prêmios, e a consequente queda dos preços], em linha com a visão de uma recuperação forte dos Estados Unidos e uma percepção mais otimista quanto ao balanço de riscos, e uma aposta comprada [que ganha com a valorização] no dólar contra uma cesta de moedas como forma de diversificação.
Carregamos na carteira temas seculares que devem representar importantes oportunidades de investimento, incluindo a ampla adoção da tecnologia, as respostas às mudanças climáticas e o crescimento da demanda dos consumidores nos mercados emergentes.
No entanto, também estamos monitorando de perto a disseminação de novas variantes e a evolução da fabricação e da distribuição das vacinas em caso de possíveis contratempos.
Há uma diferença importante nas perspectivas entre as economias desenvolvidas e as emergentes, com o progresso nessas últimas sendo prejudicado por um menor suporte político e uma resposta mais fraca das políticas de saúde pública.
Reconheço que alguns países como o Brasil ainda estão lidando com a ameaça imediata do vírus, e as preocupações com a saúde pública continuam altas.
IM: Qual é a sua visão sobre os emergentes?
Shah: Por meio de uma abordagem que busca temáticas seculares, pretendemos capitalizar as tendências e mudanças estruturais de longo prazo em que enxergamos boas oportunidades de investimento.
Nesse sentido, o tema de aumento da demanda pelo consumidor dos mercados emergentes gira em torno de como o crescimento da classe média nesses países está criando necessidades em termos de produtos de crédito, seguros, bem como nos setores de consumo e de saúde.
Como resultado, vemos muitas oportunidades de investimento, como na área financeira em países como Índia e Rússia. A penetração do crédito no varejo é muito baixa em ambos, e há um estágio de desenvolvimento em que a expansão do crédito supera significativamente o crescimento da economia, e a Índia e a Rússia estão nessa etapa. Além disso, esses países têm finanças bem administradas e de alta qualidade.
IM: Quais são os maiores riscos no radar?
Shah: O maior risco é o surgimento de variantes do vírus, pois os governos estão mais sujeitos a bloqueios se o sistema de saúde de seus países estiver sob pressão, algo que é menos arriscado se os casos forem mais brandos.
Com a variante brasileira, as coisas podem ficar um pouco mais incertas, uma vez que o vírus está em constante mutação. Por isso, temos de estar atentos a quaisquer novas variantes que estejam surgindo.
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Além dessa ameaça, estamos monitorando de perto o impacto de rendimentos mais elevados dos juros, bem como quaisquer surpresas para cima na inflação, desenvolvimentos na política tributária dos Estados Unidos e acontecimentos geopolíticos, especialmente os parâmetros da relação do governo Biden com a China.
IM: Quais as maiores convicções no portfólio do Global Macro Opportunities em termos de classes de ativos e de regiões?
Shah: A carteira permanece posicionada com um viés voltado para os ativos de caráter mais cíclico, favorecendo a exposição comprada em ações dos setores financeiro, consumo discricionário e tecnologia, em que selecionamos nomes bem-posicionados para se beneficiar da recuperação econômica.
No setor de tecnologia, nossa maior exposição está voltada para empresas de semicondutores e para nomes mais cíclicos. Mais especificamente, uma área em que estamos investindo é a de fabricação de chips analógicos, que tende a experimentar um crescimento de receita forte em um cenário de aceleração do PIB global, que é exatamente o ambiente que prevemos para os próximos dois trimestres. Por outro lado, estamos mais cautelosos com os setores defensivos.
Em termos de regiões, temos uma visão bastante construtiva sobre o crescimento dos Estados Unidos ao longo dos próximos meses. Vemos de maneira muito positiva a forma como a política de saúde pública foi implementada para permitir o avanço da vacinação no país.
Soma-se a isso ainda a expectativa de um poderoso pacote fiscal, o que nos leva à visão de um desempenho da economia americana bem acima da média, o que é positivo para o dólar e oferece suporte para nossa posição em ações.
E em um cenário alternativo em que os mercados recuem com o aumento das preocupações com a alta nos rendimentos dos juros, a posição comprada em dólar deve prover benefícios positivos de diversificação.
IM: Como o aumento nos rendimentos dos títulos públicos nos Estados Unidos se refletiu no posicionamento da carteira?
Shah: No início do ano, tínhamos uma posição comprada [que ganha com a queda dos juros e a alta dos preços] em títulos do Tesouro dos EUA para fins de diversificação, que removemos quando vimos o apelo de diversificação diminuir.
À medida que começamos a ver um aumento nas expectativas quanto ao tamanho dos pacotes fiscais nos EUA, nossas projeções para o crescimento e para a inflação subiram, e, com isso, a avaliação sobre a distribuição de retornos na curva futura de juros.
Isso explica nossa decisão recente de ter uma posição vendida nos juros americanos, que se beneficia de um cenário em que os rendimentos subam ainda mais.
Também removemos a posição em ouro, à medida que nossas expectativas de rendimentos dos juros reais aumentaram, e reduzimos a exposição em ações vulneráveis ao aumento dos custos de capital.
A alta dos juros pelo fato de a economia estar forte pode indicar perspectivas positivas para ativos de risco, mas um aumento dos juros que provoque um aperto significativo nas condições financeiras representa um risco importante.
Por isso, temos monitorado de perto o nível da atividade e da inflação e o impacto dos rendimentos mais altos, bem como qualquer resposta dos principais bancos centrais aos movimentos recentes do mercado.