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S&P 500 “caro” e troca por renda fixa global reduzem cotistas do IVVB11, maior ETF da B3, diz BlackRock

Karina Saade, CEO da gestora no Brasil, destaca que alta do índice americano foi grande e que ainda há risco razoável de recessão nos Estados Unidos

Bruna Furlani

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Apesar de manter o reinado isolado, o IVVB11ETF (fundo de índice) com maior número de investidores da B3, que replica a carteira teórica do S&P 500 – viu a quantidade de investidores reduzir bastante nos últimos meses.

Dados da B3 mostram que o número de cotistas passou de 179,5 mil em abril de 2022 para cerca de 167,1 mil em abril deste ano, até chegar aos atuais 166,5 mil em maio. A perda foi de quase 13 mil investidores em pouco mais de um ano. No mesmo período, o patrimônio líquido do fundo também caiu e chegou a R$ 2,9 bilhões no mês passado, contra R$ 3,8 bilhões em abril de 2022.

A explicação para o recuo está na visão de que o S&P 500 está “caro” na comparação com a renda fixa global, conforme explica Karina Saade, CEO da BlackRock no Brasil, que possui mais de R$ 18 bilhões sob gestão no País, e falou com exclusividade ao InfoMoney. O IVVB11 foi criado pela BlackRock.

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A executiva afirma que muitos clientes estão fazendo uma “troca”, porque a renda fixa global é capaz de oferecer agora bom rendimento com menor volatilidade. “Muitos tinham S&P, viram que subiu muito e acreditam que agora ficou caro, justamente porque há um risco de recessão razoável nos Estados Unidos”, alerta.

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Karina lembra que a precificação das classes de ativos americanos foi desigual ao longo deste ano – houve um rali nas bolsas dos Estados Unidos, com altas acumuladas que superam 30%, no caso do índice Nasdaq, e chegam a 14% no caso do S&P 500.

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Renda fixa global está atraente

A forte subida, porém, não foi acompanhada pela renda fixa americana, observa Karina. Nesse sentido, a executiva acredita que o momento é bastante favorável para investir em títulos soberanos ou em crédito global de melhor qualidade (high grade, que oferece menor risco e menor retorno), com destaque para os americanos.

“Vemos mais demanda por Estados Unidos, porque o mercado é muito mais líquido. Já teve um aumento da taxa de juros e os rendimentos estão altos”, diz a especialista, que acredita que as melhores opções estão em títulos de prazo curto. “Você é recompensado por tomar pouco risco”.

Um dos motivos que favorecem a troca para a renda fixa é a possibilidade de uma “recessão suave” nos EUA. Karina defende que o aperto monetário foi significativo, com a alta dos juros até o patamar entre 5% e 5,25% ao ano, mas que o mercado de trabalho e os dados de consumo americanos permanecem resilientes, o que fortalece a visão de que a desaceleração deve ser mais branda.

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Outro ponto que já tem pesado é a redução significativa na disponibilidade de crédito, percebida em indicadores monitorados pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), pondera a profissional. “Isso também causa um aperto econômico e vai afetar a precificação das classes de ativos ao longo do ano. Esperamos uma correção na renda variável”, destaca.

Concorrência

Além de monitorar a troca para a renda fixa global, a casa admite que acompanha de perto o aumento da competição de ETFs, com destaque para produtos de criptoativos, como o HASH11. Atualmente, o produto tem pouco mais de 137,1 mil investidores – na vice-liderança entre os fundos de índice com maior número de investidores, atrás apenas do IVVB11.

Sobre a chance de a gestora lançar produtos semelhantes no Brasil, Karina respondeu que o posicionamento da casa tem sido cauteloso sobre o tema. A profissional lembrou que o mercado de criptoativos não é regulado e que a BlackRock se foca em gestão de risco.

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“Não costumamos ser o primeiro a entrar nesse tipo de investimento. Gostamos de observar e analisar. Costumamos entrar em pilares que achamos que têm menos risco”, observa a executiva.

Lá fora, no entanto, uma iniciativa recente da BlackRock é apontada como o gatilho para um forte movimento de alta do Bitcoin: no dia 15, a gestora apresentou um pedido “surpresa” de ETF nos Estados Unidos. Ao contrário do Brasil, ainda não há um ETF de Bitcoin com exposição direta à criptomoeda nos EUA. Por isso, desde o anúncio, o Bitcoin avançou quase 25%.

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Brasil: movimento “tímido” ainda

A BlackRock está atenta ao movimento de volta para a Bolsa brasileira. Embora a perspectiva de queda de juros tenha impulsionado um rali neste fim do segundo trimestre, Karina defende que os volumes ainda estão bastante “tímidos” e observa que o montante captado por fundos locais também não é muito significativo ainda.

“Nós estamos otimistas, mas os juros estão muito altos”, diz. “Eles vão ter que cair bastante para ter uma mudança significativa no apetite de risco. A nossa perspectiva é que isso não deve ocorrer neste ano”, acrescenta a executiva.

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Karina defende que uma alteração maior no comportamento do investidor só deve acontecer quando os juros chegarem a um dígito. Na visão da casa, o Banco Central deve dar o pontapé inicial no ciclo de corte de juros na reunião de setembro, baixando a Selic em 0,50 ponto percentual.

A executiva avalia que há justificativa para o início do período de afrouxamento. Afinal, houve mudança significativa nas expectativas de inflação. Nas últimas semanas, o Boletim Focus apontou uma queda expressiva nas estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023, que saíram de 5,80%, um mês antes, para 5,06% agora.

Aliado a isso, Karina argumenta que sinalizações de eventuais mudanças nas metas de inflação também parecem mais distantes, o que ajuda a dar conforto para a queda de juros. “O mais importante é esse sinal de que não vamos mudar as regras do jogo. Quanto mais transparência nas regras, melhor e menos incerteza nos mercados. Essa sinalização é relevante”, diz.

Na próxima quinta-feira (29), o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne para definir a meta de inflação de 2026. Após uma série de críticas do governo no começo do ano às metas de inflação, havia uma grande expectativa do mercado sobre eventuais mudanças nos valores já estabelecidos, o que parece ter perdido um pouco de força nos últimos meses. Atualmente, as metas são de 3,25% para este ano e 3% para 2024 e 2025 – sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto, para mais ou para menos.

Outro fator que ajuda é a tramitação do arcabouço fiscal no Congresso. Ainda que o projeto tenha que voltar para apreciação da Câmara após algumas alterações propostas no Senado, Karina avalia que ele tira um “risco de cauda” e afasta a ideia de um “cenário mais caótico”. “É uma sinalização que eles estão criando uma série de regras. Tem um framework [sistema de ideias]”, destaca.

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Apesar de defender que taticamente o fluxo estrangeiro para emergentes está mais positivo para Brasil, ela admite que há competição e o maior adversário hoje é o México. Para Karina, o Brasil possui “maior profundidade”, mas o México está mais próximo dos Estados Unidos e isso leva o investidor americano a se sentir mais confortável em alocar por lá.

Embora a posição geográfica ajude os mexicanos, ela diz que muitos estrangeiros estão alocando aqui como uma forma de apostar indiretamente na reabertura da China. Karina lembra que há uma tensão entre Estados Unidos e China, o que favorece essa aposta indireta via Bolsa brasileira, em detrimento da chinesa.