SPX: juros devem voltar a subir no Brasil em 2020; China desponta como principal preocupação

Gestora de Rogério Xavier espera que o Brasil cresça em torno de 2,5% em 2020, que a inflação fique ao redor do centro da meta e real se deprecie

Mariana Zonta d'Ávila

Rogério Xavier, da SPX, durante evento da XP (Divulgação/XP)
Rogério Xavier, da SPX, durante evento da XP (Divulgação/XP)

SÃO PAULO – De olho numa recuperação da economia brasileira e na aceleração da inflação, a gestora SPX espera que os juros brasileiros já voltem a subir em 2020. A expectativa destoa de grande parte do mercado financeiro – o relatório Focus, do Banco Central, aponta a Selic estável em 4,50% ao ano em 2019, com alta para 6,25%, em dezembro de 2020.

A última vez que a taxa Selic subiu foi em julho de 2015, quando os juros aumentaram de 13,75% para 14,25% ao ano.

Em carta aos cotistas, a gestora de Rogério Xavier afirma que a política monetária já se encontra “bastante acomodatícia” e que a economia doméstica está em “clara recuperação”, e, portanto, não há espaço para quedas adicionais da Selic. Segundo a casa, os juros devem voltar a subir, provavelmente no terceiro trimestre.

Em sua avaliação, a inflação vai começar a surpreender “para cima”, exigindo que o Banco Central comece a retirar parte do grande estímulo monetário dado nos últimos anos.

A expectativa da gestora de Rogério Xavier é de que a economia brasileira cresça em torno de 2,5% em 2020, que a inflação fique ao redor do centro da meta (de 4%) e que o real se deprecie em relação ao dólar.

Na visão da SPX, a confiança entre empresários e consumidores voltou e de que a economia voltou a crescer.

“No Brasil, saímos da beira do abismo. Mas fizemos apenas uma parte de um trabalho bem maior ao realizarmos a reforma da Previdência. Ainda há muito por fazer. A agenda é extensa e densa. Particularmente, não creio que o Governo aprove nenhuma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) em 2020. Basicamente por efeito calendário e falta de vontade parlamentar de aprovar maldades em ano eleitoral. Os assuntos que têm alguma chance de avançar são a autonomia do Banco Central e, com muita sorte, a PEC paralela dos estados. Por outro lado, em 2020 poderemos finalmente ter alguma boa notícia em relação à privatização”, destacou a gestora, aos cotistas.

Alocações

O fundo multimercado SPX Nimitx fechou 2019 com retorno de 7,70%, acima da variação de 5,96% do CDI. Em dezembro, o fundo teve alta de 0,65%, ante variação do CDI de 0,36% no período.

Na parte de renda fixa, a SPX encerrou as alocações aplicadas na parte curta da curva de juros. No exterior, a gestora destacou que espera que os principais bancos centrais continuem mantendo políticas acomodatícias e indicou que busca alocações em que os preços ofereçam vantagem nessa estratégia.

“Após os estímulos monetários do ano passado e com a redução de alguns riscos, a economia global vem dando sinais de estabilização. Porém, as incertezas permanecem, os estímulos fiscais ainda são limitados na maior parte do mundo e as pressões inflacionárias seguem contidas.”

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Na parte de ações, a SPX informou seguir no Brasil com posições compradas (com aposta na alta) em empresas dos setores de utilities, bancos e consumo. Na parte internacional, a SPX mantém exposição comprada em bolsas europeias e de países emergentes, e vendidos na bolsa americana.

Em relação ao câmbio, a SPX tem posição comprada em dólar contra moedas de países desenvolvidos e, na parte de commodities, destaque para as posições favoráveis à alta do preço do petróleo.

Por fim, depois de o mercado indicar ter saído de um mau momento vivido nos últimos meses, a casa iniciou uma carteira em crédito no Brasil, buscando títulos de primeira linha em setores nos quais tem boa previsibilidade de resultados.

Riscos

Ao comentar os elementos que podão tirar a economia do rumo em 2020 e afetar os preços nos mercados, a SPX ressaltou que não espera que a economia americana entre em recessão, mas chamou atenção para a volatilidade e o ruído que podem ser gerados pelas eleições presidenciais, a depender especialmente do candidato do Partido Democrata.

Na Europa, a gestora avalia que o continente parece ter se estabilizado. “Caso tenhamos uma nova rodada de piora, a escolha para apoiar a economia irá se dar por uma expansão fiscal dos países do Norte Europeu. Do lado monetário, há pouco ou nada que se possa fazer. Ou seja, a Europa não será protagonista; seguirá junto com a corrente global, mas provavelmente crescerá mais este ano e fechará a diferença em relação à economia americana.”

As negociações em torno do Brexit no Reino Unido, por sua vez, deverão adicionar volatilidade aos mercados e, na Ásia, a China se coloca como uma “grande incógnita” para a SPX e o principal fator de preocupação de Xavier.

“Será que conseguirão estabilizar a economia e continuar crescendo ao redor de 6%? Parece improvável. As pressões das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos continuarão pesando na economia. Esse modelo de alto investimento público vem perdendo cada vez mais fôlego. O consumo das famílias, por outro lado, não tem tido um desempenho que pudesse compensar a queda do investimento público e manter o nível de crescimento em torno dos 6%. Esta parece ser uma região muito alavancada no crédito com uma demografia desfavorável nos próximos anos. Vêm de lá minhas principais preocupações para este e para os próximos anos.”

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