SPX vê fragilidade do Brasil e maior pressão inflacionária; fundo rendeu 5,4% em fevereiro

Gestora de Rogério Xavier alerta para mudanças de rumo enfrentadas pelo Brasil e necessidade de ajustes para que o país não fique à deriva

Beatriz Cutait

(Gerd Altmann/Pixabay)
(Gerd Altmann/Pixabay)

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SÃO PAULO – Depois de surpreender com um tom mais otimista no início do ano, a SPX demonstra maior cautela com o cenário econômico brasileiro, principalmente diante do quadro fiscal e das pressões inflacionárias.

Mas mesmo com uma visão de maior fragilidade do país, a gestora de Rogério Xavier segue comprada na Bolsa brasileira e colheu frutos de sua estratégia em fevereiro. O multimercado Nimitz rendeu 5,41% no mês passado, superando com distância a variação de 0,13% do CDI no período. No bimestre, o retorno do fundo foi de 4,70%, também acima do principal referencial (0,28%).

Em sua mais recente carta aos cotistas, a SPX alertou para as mudanças de rumo enfrentadas pelo Brasil e a necessidade de ajustes para que o país não fique à deriva.

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Com o título “Navegar é Fácil”, em homenagem ao livro mais tradicional da náutica brasileira, a gestora inicia o texto ressaltando que, “assim como no mar, navegar com disciplina no mercado financeiro exige não apenas conhecimento dos mecanismos e instrumentos, mas também atenção especial às mudanças de ventos, ondas e marés”.

Atenta ao maior endividamento e às mudanças em curso especialmente em termos de juros, com um aumento dos níveis globais, a gestora continua na analogia à navegação, com a visão de que a maré está subindo e deve trazer à tona uma “diferenciação maior entre as empresas e países que aproveitaram o vento favorável dos estímulos globais para investir em atividades e reformas geradoras de crescimento e os que ficaram à deriva, ao sabor do vento”.

Ainda que não veja o Brasil totalmente à deriva, a SPX aponta semelhanças do país com um grande navio à vela, sem “força própria nas turbinas” e dependente de ventos favoráveis para crescer.

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“Ao contrário do mundo desenvolvido, que ensaia o retorno gradual à normalidade, o Brasil continua sofrendo com a pandemia, e registrou níveis recordes de infecções e mortes em fevereiro. Com o atraso no programa de vacinação, o prognóstico para o mês de março não é dos melhores, dificultando uma retomada definitiva do crescimento da economia”, frisa a gestora de Xavier.

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No lado fiscal, a SPX vê maior pressão interna para aumento de gastos e mais preocupação com a inflação, tendo em vista a combinação do câmbio depreciado e a alta de commodities. A casa revisou as projeções de inflação para 4,48%, em 2021, e 3,60%, em 2022, com o início do início do ciclo de alta de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nos dias 16 e 17 de março.

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“O nível de juros extremamente baixos e a pouca margem de manobra fiscal sem rompimento do teto de gastos aumentam a fragilidade do país para enfrentar a mudança de ventos global. Embora uma grande embarcação à vela precise de grandes mastros e velas para se impulsionar, uma boa ancoragem também se faz necessária para que não seja constantemente arrastada pelos ventos e correntes que a atinjam. Buscar um novo equilíbrio entre as ferramentas disponíveis nos parece ser o caminho à frente, sob o risco de rumarmos para a deriva. Navegar não é fácil.”

Alocação em juros, bolsa e moedas

A SPX vê o cenário atual compatível com curvas de juros mais inclinadas, ainda que os bancos centrais continuem atuando para evitar um aperto relevante nas condições financeiras.

No Brasil, diante da consideração de um maior alinhamento entre os poderes Executivo e Legislativo para a aprovação de reformas econômicas, de uma suposta inclinação do governo de apoio à vacinação e do início da alta de juros para conter as pressões inflacionárias, a gestora espera que o mercado se acalme e haja a perspectiva de melhora nos preços dos ativos financeiros.

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“Dada a precificação atual da curva de juros curta, decidimos encerrar nossas alocações tomadas [que ganham com a alta das taxas]. Continuamos com posições compradas em inflação e aplicadas [à espera da queda das taxas] em juros reais na parte intermediária da curva”, diz a SPX, na carta.

Na parte de moedas, a SPX tem posição comprada (com aposta na valorização) em dólar contra euro.

Já no mercado acionário, a gestora está comprada na Bolsa brasileira, com destaque para empresas dos setores de consumo, mineração e serviços financeiros.

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Na cena internacional, a SPX segue comprada em setores cíclicos e seletivamente em empresas negativamente impactadas pela pandemia, e vendida em setores defensivos. A gestora fez ainda “alguma rotação” dos Estados Unidos para a Europa dentro dos temas mencionados.

Mundo na direção contrária

De olho em “ventos favoráveis para uns e correntes arrebatadoras para outros” com o choque econômico da pandemia, a gestora ressaltou que o mundo seguiu reajustando as expectativas de retomada do crescimento global, com uma onda de otimismo em relação ao sucesso das diversas vacinas contra a Covid-19 e o avanço da vacinação em países como Estados Unidos, Reino Unido e Israel.

Nos EUA, em meio a mais um pacote fiscal para estimular a economia e com um resultado mais favorável na balança comercial, a SPX inclusive revisou a projeção de crescimento econômico no primeiro trimestre, de 5,6% para 5,9%.

E a gestora está naturalmente atenta sobre o movimento de abertura das taxas dos treasuries americanos, que força ajustes mais bruscos nos portfólios globais.

Com a visão de que, de maneira geral, os spreads não estão adequados para a volatilidade do mercado de juros americanos, a SPX está com risco baixo no mercado de crédito do país. E manteve a carteira de bonds da América Latina protegida, de olho no aumento das taxas dos títulos do tesouro americano.

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.