Tesouro Direto deve ter boa volatilidade em 2022 e prefixados devem responder por menor parte da alocação entre títulos públicos

Durante participação no Onde Investir 2022, Camilla Dolle, da XP, destacou que investidor também deve evitar alongar os prazos dos papéis neste ano

Bruna Furlani

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A aproximação das eleições, o contínuo risco fiscal e a expectativa de juros mais altos nos Estados Unidos devem ajudar a provocar uma forte oscilação nos preços e retornos de títulos públicos negociados no Tesouro Direto.

Essa pelo menos é a expectativa de Camilla Dolle, head de renda fixa da XP. “As taxas têm subido e estão bem elevadas. Devemos enxergar boa volatilidade, cada vez mais precificando o cenário de eleição nesses prêmios”, diz.

Segundo ela, o contexto pode trazer oportunidades dentro de vários tipos de títulos públicos, inclusive de prefixados. Porém, esses devem responder por apenas uma parcela da alocação, como algo entre 1% e 3% da carteira, a depender do perfil de investidor.

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A declaração foi feita ontem (18) durante painel, que contou também com a participação de Vivian Lee, sócia e gestora da Ibiuna Investimentos. Ambas participaram do Onde Investir 2022, evento online promovido pelo InfoMoney, em parceria com a XP Investimentos. (Veja a agenda dos próximos dias).

No evento, a executiva destacou que os retornos oferecidos no Tesouro Direto têm subido bastante, mas que é preciso ter cautela. Camilla ponderou que os prefixados, por exemplo, possuem um risco maior de mercado pelo fato de que são afetados positivamente ou negativamente por flutuações de preços e taxas, conhecida como marcação a mercado, que devem se intensificar com as eleições.

A razão é que a taxa de juros oferecida por um título de renda fixa tem uma relação inversa com o seu valor de negociação no mercado. Quando as taxas aumentam, como tem sido o caso deste mês, seu preço tende a cair. Mas o contrário também é verdadeiro.

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Justamente por causa da forte volatilidade do curto prazo, o ideal, segundo Camilla, é que o investidor não alongue tanto os prazos. Outro motivo que também favorece a preferência por papéis de prazo mais curto é que houve uma inversão na curva de juros, explica a executiva.

Com isso, afirma Camilla, papéis com vencimento mais alongado passaram a pagar juros mais baixos do que títulos de vencimento mais longo, o que é um fenômeno contraintuitivo.

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Mesmo sem dar detalhes sobre os papéis preferidos, a executiva disse que há oportunidades em todos os tipos de títulos públicos (prefixados, atrelados ao CDI e à inflação).

“É preciso entender o percentual de qual indexador que faz sentido. Ter clareza de que ao investir em um título mais longo (prefixado ou atrelado à inflação), antes do prazo de vencimento, ele pode oscilar. Se você precisar desse dinheiro antes, estará sujeito às condições de mercado daquele momento”, destacou.

Na visão da XP, a Selic deve chegar a 11,50% em março e pode cair para 11% no fim de 2022. Já para 2023, a expectativa da casa é que a taxa básica de juros alcance os 7,5% ao ano. “Os juros subiram bastante no curto prazo. Passado esse período com eventual controle da inflação e atividade mais fraca, os juros podem cair”, avalia a executiva da casa.

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Camilla explica que a queda nos juros no fim do ano pode ser explicada pela tendência de que haja um recuo da inflação, que deve finalizar este ano em 5,2% ao ano. “A atividade está mais fraca. O PIB não deve ter crescimento”, pondera. Com isso, a expectativa, diz, é que a inflação oficial consiga fechar 2023 no centro da meta de 3,75% ao ano.

Vivian Lee, por outro lado, traz a análise da Ibiuna, que acredita que o Banco Central terá que adotar uma postura um pouco mais agressiva sobre os juros neste ano. Com isso, a gestora trabalha em uma projeção de elevação de Selic até 12,25% no fim deste ano. Para 2023, a Ibiuna avalia que a taxa básica de juros recuará para 8,25% ao ano.

Bom volume de emissões no 1º semestre de 2022

Diante de um cenário em que as taxas de juros devem ficar acima dos dois dígitos neste ano, a sócia da Ibiuna admite que 2022 será mais desafiador para as empresas. “Vamos sair de uma taxa média de 4% para algo perto de 10%. É mais do que dobrar o custo financeiro que as companhias têm hoje”, alerta Vivian.

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A executiva observa que isso pode gerar um impacto no caixa das empresas e que a situação tende a ser agravada pelo fato de que as perspectivas econômicas apontam que este ano deve ser de PIB negativo. “Isso pode aumentar a alavancagem [endividamento] de algumas empresas, há um cenário menos propício para investimentos”, diz Vivian.

Ainda assim, a sócia da Ibiuna acredita que deve ocorrer um bom volume de emissões no mercado de crédito no primeiro semestre deste ano, com destaque para o segundo trimestre.

Alguns fatores devem ajudar a garantir esse bom volume, como o aumento da taxa de juros, juntamente com vencimentos de debêntures e de letras financeiras (LFs) que estavam nos fundos de crédito aliado a um fluxo adicional que precisará ser alocado.

Mas a boa janela deve durar pouco. “A aproximação das eleições no segundo semestre deste ano deve tornar o cenário bastante difícil para que as empresas decidam emitir dívidas”, afirma Vivian.