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As rusgas da relação entre o governo Lula e o Banco Central repercutem no mercado, fazendo com que a semana feche com alta volatilidade nesta sexta-feira (20). Na quarta-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas à independência da autoridade monetária brasileira. Coube ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, amenizar a situação, ao dizer que não há “nenhuma predisposição” do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central.
Apesar disso, notícia do jornal O Estado de S.Paulo ressalta que o governo deseja um nome novo, que possa começar a mudar a “cara” do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A mudança teria como foco a substituição de Bruno Serra, atual diretor de política monetária, que já anunciou que deixará a instituição em 28 de fevereiro deste ano.
Em razão da forte volatilidade, as negociações do Tesouro Direto foram paralisadas duas vezes pela manhã nesta sexta-feira (20). A situação se acalmou um pouco durante a tarde. Às 15h25, os juros dos prefixados apresentam alta, movimento visto desde a manhã. O Tesouro Prefixado 2029, por exemplo, oferecia retorno de 13,01%, bem acima dos 12,87% da véspera.
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Destaque também para o Tesouro IPCA+2045, que oferecia um juro real de R$ 6,36%, acima dos 6,33% da sessão anterior. O percentual chegou a 6,41% pela manhã.
Segundo Vinícius Romano, especialista em renda fixa na Suno Research, a subida nas taxas é reflexo do aumento do risco de mercado. “Lula deu declarações sobre o Banco Central que o mercado não gostou, refletindo principalmente nos juros dos títulos públicos, que tiveram alta”.
Apesar disso, o especialista acredita que a independência do BC deve ser mantida, como reforçou o próprio presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ontem (19). “As afirmações de Lula podem ser apenas ruídos, mas que, às vezes, impactam nos preços dos ativos. Isso, porém, acaba se dissipando ao longo do tempo”, conclui.
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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta sexta-feira (20):
Forças Armadas e Bolsonaro
As Forças Armadas irão se antecipar e evitar qualquer outro ataque semelhante ao do dia 8 de janeiro, disse hoje o Ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Ele garantiu que Lula confia nos comandantes militares e no trabalho das Forças Armadas.
Segundo o ministro, não houve envolvimento “direto” de militares nos atos golpistas. “Os comandantes das Forças Armadas que tenham participado do movimento serã0 punidos”.
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Também na cena política, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Benedito Gonçalves, abriu mais uma investigação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por abuso de poder político ao usar palácios oficiais para promover atos de campanha durante a disputa eleitoral do ano passado, em uma apuração que poderá levá-lo à inelegibilidade.
O ex-presidente –que está nos Estados Unidos e até o momento não reconheceu a derrota eleitoral– é alvo de 16 ações que buscam puni-lo por uma série de condutas proibidas pela legislação eleitoral.
Presidente do BC
Já na cena econômica, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu ontem (19) que parte da desinflação ocorrida nos últimos meses decorreu do corte de impostos sobre combustíveis e energia elétrica. “A inflação estaria em 9%, e não em 5,8%, se não fosse essa redução de impostos”, respondeu, em palestra na a UCLA Anderson School of Management.
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Em entrevista na quarta-feira (18), Lula criticou a manutenção da Selic nos níveis atuais, enquanto a inflação já está rodando abaixo de 6%.
Campos Neto lembrou que mesmo as autoridades monetárias de países desenvolvidos estão subindo mais os juros para conter o movimento inflacionário global.
De acordo com apurações da Reuters, as críticas de Lula à autonomia do Banco Central (BC) geraram reação negativa em ativos financeiros locais, mas agentes do mercado disseram não ver risco de mudanças efetivas no modelo, pelo menos por ora, ainda que as declarações gerem preocupação. Uma fonte do Ministério da Fazenda disse à Reuters que não há nada de prático em estudo nessa área na pasta.
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Dirigente do Fed
Enquanto isso, na cena externa, o presidente da distrital do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na Filadélfia, Patrick Harker, reiterou nesta sexta-feira (20) que aumentos de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) nos juros serão apropriados daqui para frente. Em discurso no Fórum Anual de Liderança do New Jersey Bankers, Harker destacou que os dias em que o Banco Central dos Estados Unidos aumentou suas taxas em 75 pontos-base de cada vez “certamente já passaram”, porém, segundo ele, a instituição está comprometida em levar a inflação à meta de 2%.
“Espero que aumentemos as taxas mais algumas vezes este ano. Em algum momento deste ano, espero que a taxa básica de juros seja restritiva o suficiente para que possamos manter os juros no lugar para permitir que a política monetária faça seu trabalho”, argumentou Harker.
O banqueiro central comentou ainda que o objetivo é desacelerar a economia modestamente e alinhar a demanda com a oferta. Ele projeta que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA seja modesto, mas não prevê uma recessão. “Espero um crescimento real do PIB de cerca de 1% este ano, antes de voltar à tendência de crescimento de cerca de 2% em 2024 e 2025”.
Com relação ao mercado de trabalho, Harker afirmou que ele está em excelente forma e simplesmente aquecido demais para indicar uma desaceleração significativa neste momento.
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