Tesouro Direto: juros mantêm queda após anúncio da nova regra fiscal; piso de prefixados é de 11,98%

Tesouro IPCA+ 2029 oferecia juro de 5,91%, ligeiramente abaixo dos 5,92% da sessão anterior

Neide Martingo

(Getty Images)
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A espera terminou hoje. Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), apresentaram, nesta quinta-feira (30), os detalhes do novo arcabouço fiscal − regra que será encaminhada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Congresso Nacional para substituir o teto de gastos.

O anúncio foi feito em coletiva de imprensa realizada na sede do Ministério da Fazenda, em Brasília. Também participaram do evento Gabriel Galípolo, secretário-executivo da pasta; Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional; e Guilherme Mello, secretário de Política Econômica

Outro destaque de hoje é a elevação da projeção do Banco Central para a inflação de 2023 para 5,8%, segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). No último relatório, divulgado em dezembro, a estimativa era de 5% no ano. As projeções também subiram para 2024 (de 3% para 3,6%) e 2025 (de 2,8% para 3,2%). Roberto Campos Neto, presidente do BC, comentará o RTI ainda hoje.

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Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos, avalia que corte de despesas o governo tem controle, mas a questão da arrecadação depende de fatores externos. Ele analisa que o arcabouço fiscal, na busca por controle das despesas e receitas, pode falhar em atingir as metas fiscais apresentadas.

No Tesouro Direto, às 16h16, os juros dos títulos públicos apresentavam queda, acentuada em alguns casos. O maior retorno, de 12,81% ao ano, era visto no Tesouro Prefixado 2033; na véspera, o ativo oferecia 12,98% ao ano.

O piso dos ativos, detido pelo Tesouro Prefixado 2026, era de 11,98% ao ano, contra 12,24% de quarta-feira (29), diferença de 26 pontos-base (0,26 ponto percentual).

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Entre os títulos indexados à inflação o destaque era o Tesouro IPCA+ 2045, com 6,30% ao ano, igual taxa vista ontem. O Tesouro IPCA+ 2029 oferecia juro de 5,91% hoje, ligeiramente abaixo dos 5,92% da sessão anterior e o piso desta quinta.

“Manter uma reserva de emergência segura em investimentos líquidos e conservadores (como Tesouro Selic ou Fundos DI sem crédito privado) segue sendo uma estratégia essencial, principalmente em momentos de incerteza como o atual”, diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

Para carteiras de investimentos, segundo ela, a recomendação é de deixar uma boa parcela em títulos de renda fixa pós-fixados para todos os perfis de investidor, assim como títulos indexados à inflação (os famosos IPCA +) e fundos de investimento multimercado – esse último para aqueles investidores de perfil mais arrojado

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (30): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Arcabouço fiscal

O novo marco fiscal estabelece meta de trajetória de resultado primário para o governo federal até 2026, com banda de variação tolerável, crescimento de despesas sempre abaixo das receitas em momentos de crescimento e mecanismos anticíclicos que garantem elevação de gastos em situações de crise.

Segundo o ministro Fernando Haddad, a nova regra buscou compatibilizar boas práticas previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) com aspectos positivos de uma regra de limitação de despesas.

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“Do ponto de vista das contas públicas, entendemos que precisamos recuperar uma trajetória de credibilidade. Por isso, associamos o melhor dos dois mundos: traçar uma trajetória consistente de resultado primário, em que necessariamente a despesa vai correr atrás da receita − e, portanto, ampliar o espaço de economia para dar sustentabilidade às contas públicas −, mas sem uma rigidez absoluta, porque as demandas sociais estão aí para serem atendidas”, afirmou.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou nesta quinta-feira, 30, que o novo arcabouço fiscal tende a reduzir o gastos públicos porque imporá um limite para o crescimento das despesas. Segundo ela, a regra é flexível e, por isso, é crível.

“A regra fiscal é crível, estamos tranquilos sob a ótica do Planejamento.Temos convicção de que, com a nova regra, conseguiremos cumprir as metas. Vamos conseguir zerar o déficit em 2024 e ter superávit a partir de 2025”, declarou a ministra.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse nesta quinta-feira (30) que a Casa tem “um compromisso absoluto” com a votação do novo arcabouço fiscal. Ele participou de uma reunião em que os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, apresentaram linhas gerais da proposta aos líderes partidários.

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Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca que a regra “será mais flexível que o teto de gastos original, com foco na limitação da taxa de crescimento da despesa primária, a estipulação de bandas para o compromisso de resultado primário, além de mecanismos de correção. De forma geral, o novo arcabouço é razoável. Tem regras claras e, como falamos anteriormente, tem mecanismos de correção. Mas ainda estamos céticos com relação ao cumprimento das metas para o resultado primário. Esse será um grande desafio para o governo”.

Banco Central

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse no fim da manhã desta quinta-feira, 30, que a proposta de novo arcabouço fiscal “parecia bastante razoável” antes ainda da definição dos parâmetros que foram anunciados hoje pelo Ministério da Fazenda. Ele destacou que ainda não viu o formato final da proposta.

“Existe boa vontade da Fazenda em fazer arcabouço robusto, mas não quero fazer comentário antes de ver arcabouço final”, respondeu Campos Neto.

Apesar de evitar comentar a proposta ainda não vista, o presidente do BC lembrou que a regra fiscal é um input usado pela autoridade monetária nas suas projeções.

“Ainda não olhamos detalhes do arcabouço. Vimos a proposta antes da calibragem dos parâmetros. O importante é como incorporamos isso nas nossas projeções, mas não fazemos avaliações sobre o fiscal. O BC é questionado, mas o fiscal é parte do nosso arcabouço, como meta de inflação e câmbio”, completou o Campos Neto.

Déficit

O governo central apresenta déficit primário de R$ 41,0 bilhões em fevereiro. O número veio acima das projeções de analistas consultados pela Reuters, de déficit de R$ 35,7 bilhões. No entanto, o resultado foi abaixo da mediana das expectativas da pesquisa Prisma Fiscal do Ministério da Economia, que indicava um déficit de R$ 31,9 bilhões. O Tesouro Nacional e o Banco Central foram deficitários em R$ 19,9 bilhões, enquanto a Previdência Social (RGPS) apresentou déficit de R$ 21,0 bilhões. Comparado a fevereiro de 2022, o resultado primário observado decorre da combinação de uma redução real de 16,8% (-R$ 20,8 bilhões) da receita líquida e um decréscimo real de 0,9% (-R$ 1,3 bilhão) das despesas totais.

Fed

A presidente do Federal Reserve de Boston, Susan Collins, disse hoje que parece “provável” que o banco central aumentará as taxas mais uma vez este ano e acrescentou que o estresse do setor financeiro provavelmente tirou alguma pressão do Fed para ir além disso. “A inflação continua muito alta e os indicadores recentes reforçam minha visão de que há mais trabalho a ser feito para reduzir a inflação para a meta de 2% associada à estabilidade de preços”, disse Collins em uma reunião do Associação Nacional de Economia Empresarial. “Embora o sistema bancário permaneça forte e resiliente, os desenvolvimentos recentes provavelmente levarão os bancos a adotar uma perspectiva um pouco mais conservadora e a restringir os padrões de empréstimo, contribuindo assim para desacelerar a economia e reduzir as pressões inflacionárias”.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney