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O cenário político joga lenha na fogueira do mercado nesta quarta-feira (8), que repercute as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Recentemente, Lula afirmou que Campos Neto deve explicações ao Congresso, que aprovou a sua indicação na época do governo de Jair Bolsonaro (PL).
Depois de a bancada do PSOL anunciar que protocolaria um convite para que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fosse à Câmara dos Deputados explicar a política de juros da instituição, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou, na terça-feira (7), que também apresentou um requerimento. Atualmente a Selic está em 13,75% – valor que foi mantido pela quarta vez na reunião da última quarta-feira (1).
Hoje pela tarde, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tentou atuar como bombeiro ao declarar que não há no governo qualquer ação para mudar a lei de autonomia do BC, aprovada em 2021.
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O mercado está preocupado com as críticas de Lula sobre o atual sistema de metas e sobre o patamar de juros. Tudo isso tem ajudado a deteriorar as perspectivas de inflação nas últimas semanas. Amanhã (9), será conhecido o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, o que pode ajudar a recalibrar as expectativas para este ano.
No cenário externo, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Nova York, John Williams, afirmou hoje que o Fed precisará manter a política monetária suficientemente restritiva por “alguns anos” para reduzir a inflação e realinhar a oferta e a demanda na economia dos Estados Unidos, durante evento.
Na véspera (7), o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, foi lido como dovish (menos inclinado ao aperto monetário) por não ter incorporado mudanças significativas após uma divulgação mais forte do payroll (relatório de emprego) na semana passada.
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No Tesouro Direto, às 15h29, o mercado de títulos públicos opera com estabilidade na maior parte das taxas. A exceção está no Prefixado 2033, com juros de 13,37%, alta com relação à terça-feira (13,31%). O movimento é diferente do visto na curva de juros futuros, que passou a fechar – registrar queda nas taxas – após declarações mais favoráveis do ministro Padilha.
O maior juro era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2029, no valor de 13,36% ao ano, mesmo retorno visto na sessão anterior.
Já o maior retorno real entre os títulos atrelados à inflação era entregue pelo Tesouro IPCA+2045, no valor de 6,43% ao ano, em linha com os 6,44% registrados um dia antes.
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Durante a teleconferência do Itaú (ITUB4)), Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú (ITUB4), disse que discussões sobre meta de inflação só causam ruído e afetam os juros futuros. Sem mencionar diretamente a briga entre governo e Banco Central, o executivo afirmou que tem mantido contato frequente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e disse que a equipe econômica tem se mostrado aberta a entender análises feitas pelo banco.
Maluhy destacou ainda que a sinalização do chefe da equipe econômica para reduzir o déficit fiscal foi bastante positiva e também disse que há atenção redobrada sobre o marco fiscal.
Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (8):
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Conversa “civilizada”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que pretende restabelecer uma conversa “civilizada” com o Congresso Nacional e afirmou ter certeza que conseguirá maioria favorável no Legislativo à aprovação de mudanças.
“Queremos restabelecer a conversa mais civilizada possível com o Congresso Nacional”, disse Lula durante café da manhã com o Conselho Político da Coalizão. “Tenho certeza que vamos conquistar uma maioria ampla para fazermos as mudanças que precisamos nesse país”.
Entre as propostas que o governo Lula já anunciou que pretende aprovar no Congresso estão a reforma tributária e um novo arcabouço fiscal que está sendo elaborado pela equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
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Selic
O presidente Lula voltou a criticar ontem (7), o atual patamar da taxa Selic, reclamar da política monetária conduzida pelo Banco Central e dizer que o presidente da instituição “deve explicações ao Congresso”.
Na avaliação do presidente, Campos Neto hoje tem “mais responsabilidade” do que tinha Henrique Meirelles quando comandou a autoridade monetária nos dois primeiros mandatos de Lula à frente do Palácio do Planalto.
“Naquele tempo que o Meirelles era do Banco Central, era fácil jogar a culpa no presidente da República. Agora não. Agora a culpa é do Banco Central, porque o presidente não pode trocar o Banco Central. É o Senado que pode mexer ou não”, afirmou.
Após o tom amistoso da ata do Copom, o jornal O Estado de S. Paulo mostra que Lula está sendo aconselhado por ministros do governo a baixar a temperatura no confronto contra o presidente do Banco Central.
Os interlocutores alertaram Lula que o confronto só contribui para aumentar o prêmio de risco pedido por quem compra papéis do Tesouro Nacional e financia o governo, impactando a curva de juros (situação que ocorre quando o mercado precifica uma alta de juros nos contratos futuros) e pressionando o câmbio.
Para um interlocutor do presidente que preferiu não ser identificado, o caminho é diminuir a tensão para evitar que os dois lados – Lula e BC – fiquem sem saída mais adiante. Mas reconheceu que o presidente pode não ouvir os conselhos se houver uma escalada do conflito.
Já nesta quarta-feira, Lula receberá líderes de partidos governistas para tratar da reforma tributária, segundo o ministro Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deverá participar do encontro e defender uma reforma em prol da simplificação de impostos. O encontro está marcado para as 9h30.
Padilha participou de reunião com senadores e o ministro Haddad e disse que o grupo debateu a necessidade de aprovação de uma reforma tributária e da Medida Provisória (MP) que restabelece o voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).
O ministro afirmou que o governo irá aproveitar as propostas já feitas pelo Congresso Nacional sobre a reforma tributária. “Haddad Reforçou a disposição de dialogar tanto com as duas propostas na Câmara e no Senado para aprovar o mais rápido possível”, declarou aos jornalistas após a reunião. Atualmente, o Congresso contempla a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 110/2019, do Senado Federal, e a de nº 45/2019, da Câmara dos Deputados.
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