Tesouro Direto: juros dos títulos públicos recuam com aversão ao risco e de olho no Fed

Em momentos de aversão ao risco, investidores vendem bolsa e vão para renda fixa, provocando queda nas taxas de juros.

Katherine Rivas

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Os títulos públicos operavam em queda na tarde desta segunda-feira (24), acompanhando o cenário de aversão ao risco global.

Segundo Cristiane Quartalori, economista do Banco Ourinvest, foram três motivos que pressionaram o mercado de títulos públicos: o primeiro é a decisão do Federal Reserve (Fed) na quarta-feira (26), que embora não deva aumentar a taxa de juros americanos, gera expectativas no mercado que aguarda pela sinalização de um aperto monetário a partir de março.

Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, esta sinalização pode deixar os investidores mais cautelosos com os mercados emergentes e reduzir as suas posições em ativos mais arriscados, como as taxas de juros de médio e longo prazo.

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Além do Fed, Cristiane cita outros dois fatores que impactaram também os títulos públicos nesta segunda-feira (24): o crescente risco de invasão da Ucrânia pela Rússia, que eleva a aversão ao risco no mercado global. E o risco fiscal no Brasil que continua incomodando após a sanção do Orçamento de 2022 e negociações da PEC dos combustíveis.

“Em momentos de aversão ao risco, investidores vendem bolsa e vão para renda fixa, o que acaba gerando uma queda nas taxas de juros”, explica Borsoi.

As commodities também tiveram um papel predominante, com o recente aumento de preços, que deve provocar uma visão altista para a inflação no médio prazo, levando o Banco Central a elevar a Selic. “O impacto é direto no comportamento de títulos atrelados à Selic e inflação”, destaca Cristiane.

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Dentro do Tesouro Direto, o título prefixado de curto prazo apresentou a maior queda. É o caso do Tesouro Prefixado com vencimento em 2024, que às 15h20 desta segunda-feira tinha uma rentabilidade anual de 11,29%, frente aos 11,43% de retorno oferecidos na sexta-feira (21).

O Tesouro Prefixado 2026 também sofreu impactos, recuando para 11,15% hoje, frente aos 11,27% da semana anterior.

Entre os prefixados, o que caiu menos foi o Tesouro Prefixado 2031, com juros semestrais, que entregava uma rentabilidade anual de 11,42%, levemente inferior aos 11,48% da sexta-feira.

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Entre os títulos atrelados à inflação, o que teve a maior queda foi o Tesouro IPCA+ 2026, que às 15h20 entregava um retorno real de 5,19%, frente aos 5,28% da semana passada.

Já o título que menos oscilou foi o Tesouro IPCA+ 2040, com juros semestrais, que oferecia uma rentabilidade real de 5,62%, enquanto na sexta-feira (21) o retorno real do título era 5,64%.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta segunda-feira (24):

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No exterior

EUA realizará reunião com países europeus sobre questão da Ucrânia. O presidente Joe Biden convocou líderes do Velho Continente para uma teleconferência ainda na tarde desta segunda-feira. Entre os convidados estão o presidente da França, os premiês da Alemanha, Itália e Reino Unido e líderes da União Europeia e da Otan.

Segundo a XP, a crise entre a Rússia e a Ucrânia, gera temores de que a oferta energética no continente possa ser afetada. Reino Unido e Estados Unidos ordenaram que seus diplomatas saíam do país durante o final de semana.

Reunião do Fed

Esta semana é marcada pela reunião de política monetária do Federal Reserve, com a expectativa de manutenção dos juros básicos, mas com sinalização do primeiro aumento das taxas para a reunião de março.

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Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, a chance de o Fed sinalizar que pode realizar mais de quatro altas de juros em 2022 pode afetar os juros de médio e longo prazo porque as ações do Fed gerariam uma pressão altista nos juros americanos. “Se os juros americanos sobem, os juros brasileiros tendem a seguir”, aponta.

Sobre o impacto nos juros de médio e longo prazo, ele explica que está relacionado ao risco que o investidor está correndo. “Quanto maior o prazo do título de renda fixa que está sendo operado, maior o risco da posição”, reforça.

“Os mercados precificam quatro altas de juros nos EUA neste ano, mas alguns analistas já discutem uma normalização monetária ainda mais rápida. Investidores esperam que o FOMC intensifique o ritmo de redução do seu balanço e sinalize um aumento das taxas já em março”, comenta a XP Investimentos.

Orçamento

O presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou a Lei Orçamentária Anual de 2022, que estipula reajuste de R$ 1,7 bilhão para funcionários públicos, além de manter os R$ 4,9 bilhões para o fundo eleitoral, conforme aprovado pelo Congresso no fim de dezembro.

A lei estipula reajuste de R$ 1,7 bilhão para servidores públicos, mas não especifica para quais categorias os recursos serão destinados. Anteriormente, o aumento estava previsto para policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes de segurança do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o que vem impulsionando a mobilização de servidores de outras categorias por reajustes, em especial fiscais da Receita e funcionários do Banco Central.

Segundo reportagem publicada no domingo pelo jornal Valor Econômico, auxiliares do presidente sugeriram que ele mantivesse a verba no Orçamento, mas deixasse em aberto quais categorias serão contempladas. A ideia é determinar este ponto quando a pressão diminuir.

O valor previsto para o fundo eleitoral no Orçamento de 2022 foi mantido em R$ 4,9 bilhões.

Focus: Selic e Inflação

O mercado financeiro elevou, pela segunda semana consecutiva, suas projeções para a inflação este ano, de 5,09% para 5,15%. Os dados constam no relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na manhã desta segunda-feira (24).

Já para 2023, as estimativas apontam para alta de 3,40% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), sem alterações ante a semana anterior.

Em meio a expectativas mais elevadas para a inflação, os economistas consultados pela autoridade monetária veem uma Selic de 11,75% ao ano em dezembro, mas caindo para 8% ao ano ao fim de 2023, também sem mudanças ante o último levantamento.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.