Tesouro Direto: em dia marcado por suspensão, juros de prefixados despencam; piso chega a 11,73%

Entre os papeis atrelados à inflação, o destaque é para o Tesouro IPCA+2026, que viu a taxa real recuar 14 pontos-base, de 5,56% ao ano para 5,42% ao ano

Bruna Furlani Neide Martingo

(Getty Images)
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No primeiro dia útil após a eleição do segundo turno, o mercado reage à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira (31). Mesmo sem ter as informações mais esperadas, com relação ao ajuste fiscal e aos nomes que vão integrar a equipe econômica, o resultado trouxe turbulência aos negócios ao longo do dia.

A manhã foi marcada pela suspensão de quarenta minutos nos negócios dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto. Quando há forte oscilação de preços e taxas, o Tesouro suspende temporariamente as vendas e compras para evitar que o investidor feche temporariamente as transações a um preço que possa ficar rapidamente defasado.

Às 16h32 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava alta de 0,53%, a 115.150 pontos. Já o dólar apresentava queda de 2,36%, vendido a R$ 5,175. Movimento diferente do visto no começo do dia. O principal índice da Bolsa brasileira abriu em queda, de 1,99%, enquanto a moeda americana iniciou a segunda-feira em alta, de 2,02%.

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“Se olharmos juros, câmbio e bolsa, esses ativos fizeram mínimas e máximas muito distantes umas das outras. “O juro vai fechar hoje perto das mínimas, principalmente as taxas longas. Foi um dia movimentado, mas não de muito estresse. O mercado está solido”, afirma Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos.

Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, o mercado interno ainda está um pouco cético por não saber os nomes que vão compor a equipe econômica. Mesmo assim, ele afirma que parece haver um “otimismo precipitado”.

O silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL), que ainda não se pronunciou sobre a derrota nas urnas, e os bloqueios de caminhoneiros pró-Bolsonaro nas rodovias federais são também destaques.

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No Tesouro Direto, os juros oferecidos por títulos públicos acentuam o recuo nas taxas nesta tarde, com relação ao visto na última sexta-feira (28). A maior queda era registrada por papéis prefixados, na última atualização do dia. O retorno oferecido pelo Tesouro Prefixado 2029 caía de 11,91% ao ano para 11,76% ao ano (15 pontos-base, ou 0,15 ponto percentual).

Já entre os papéis atrelados à inflação, às 15h20, o destaque era para o Tesouro IPCA+2026, que viu o juro real recuar 14 pontos-base (0,14 ponto percentual), de 5,56% ao ano para 5,42% ao ano.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (28): 

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Fonte: Tesouro Direto

Eleições

Alguns minutos após ter sua vitória na eleição presidencial confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, ontem (30), que o momento é de “restabelecer a paz entre os divergentes” e que governará para todos − inclusive aqueles que não votaram nele na disputa contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”, disse o presidente eleito, que prometeu “restabelecer o diálogo no país”.

Sobre o risco de contestação do resultado eleitoral, Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse não ver “nenhum risco real” no radar para que isso ocorra. “Se houver contestações dentro da regra, elas serão analisadas normalmente”, acrescentou.

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Moraes afirmou ainda que “eventuais fissuras” na democracia fazem “parte do jogo político e democrático”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também afirmou na noite deste domingo (30) que a decisão dos brasileiros de eleger o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o próximo presidente da República “jamais deverá ser contestada”.

“A maioria registrada nas urnas jamais deverá ser contestada e seguiremos em frente na construção de um país soberano, justo e com menos desigualdades”, afirmou.

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Flávio Bolsonaro e bloqueios nas estradas

O senador Flávio Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), quebrou o silêncio, nesta segunda-feira (31), quase 20 horas após a confirmação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo Palácio do Planalto, em uma breve manifestação pelas redes sociais.

Por meio do Twitter, o filho do presidente Bolsonaro declarou: “Obrigado a cada um que nos ajudou a resgatar o patriotismo, que orou, rezou, foi para as ruas, deu seu suor pelo país que está dando certo e deu a Bolsonaro a maior votação de sua vida! Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil! Deus no comando!”

Apesar da declaração do parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro segue sem se manifestar publicamente desde que as urnas confirmaram sua derrota.

Além de aguardar uma declaração do presidente sobre o resultado do pleito, investidores monitoram os bloqueios que ocorrem nas estradas do país nesta segunda-feira (31). Como os protestos são ainda muito recentes, há incerteza sobre dimensão e o tempo que irão durar. Mesmo assim, alguns pontos de atenção estão no radar.

Em um primeiro momento, setores de logística, como empresas de frete rodoviário e de distribuição de combustíveis, e do agronegócio são vistas com as mais suscetíveis. Porém, os efeitos poderão escalar, a depender do tamanho e do tempo que as manifestações tomarão.

“O que chama a atenção é que essas manifestações são tocadas por lideranças locais, até o momento não emergiu um comando nacional, o que dificulta uma negociação e saber o que vai acontecer”, explica Edeon Vaz Ferreira, coordenador do Movimento Pró-Logística, ligado ao agronegócio.

Segundo o boletim mais recente divulgado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), por volta de 16h15 (horário de Brasília), eram 136 pontos de bloqueio em 16 Estados.

A PRF informou que vai acionar a Justiça para conseguir a liberação de vias bloqueadas. A corporação disse, em nota, que já acionou a Advocacia-Geral da União (AGU), que representa órgãos do governo em ações judiciais.

De olho no Fed

Esta semana será mais curta, por conta do feriado do dia de Finados, na quarta-feira (2). A B3 estará fechada, mas o mercado lá fora vai operar a todo o vapor, com mais uma decisão sobre juros nos EUA. O Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fomc, na sigla em inglês) deve dar continuidade ao ciclo de aperto monetário, com mais uma alta de 75 pontos-base. Além da decisão em si, o mercado vai acompanhar as sinalizações do Federal Reserve (Fed, banco central americano) para os próximos encontros – se há, ou não, espaço para desacelerar as altas.

Outro destaque na agenda de indicadores é o payroll, com os dados oficiais do mercado de trabalho americano, que vão ser divulgados na sexta-feira (4). O consenso Refinitiv, com a média das projeções do mercado, aponta para a criação de 220 mil vagas de trabalho em outubro.

Antes do payroll, como de costume, saem o relatório Jolts, com o número de vagas em aberto em setembro, na terça-feira (1); e a pesquisa ADP, de criação de postos de trabalho no setor privado, na quarta – o consenso Refinitiv prevê 198 mil vagas em outubro.