Tesouro Direto: juros apresentam movimento misto, com foco no embate entre BC e Lula e inflação nos EUA

Entre os prefixados, piso mínimo era oferecido pelo Prefixado 2026, de 13,03%, único ativo que apresentou queda nos juros

Bruna Furlani Neide Martingo

Ilustração (Pollyana Ventura/Getty Images)
Ilustração (Pollyana Ventura/Getty Images)

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A entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao programa Roda Viva, na noite desta segunda-feira (13) está rendendo. A “novela” que envolve Campos Neto e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem como argumento a meta da inflação e os juros altos.

Campos Neto respondeu os questionamentos em torno da política monetária contracionista do Banco Central e disse que não estuda nenhuma mudança de meta de inflação. O presidente do BC explicou que uma alteração poderia gerar o efeito oposto ao desejado pelo governo.

Na semana passada, notícias envolvendo possíveis mudanças nas metas de inflação deste ano e do próximo ganharam força. Mesmo com a contrariedade manifesta por Campos Neto, teoricamente ainda é possível que o tema seja colocado em discussão na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) desta quinta-feira (16).

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Já o presidente Lula quer aumento de um ponto porcentual da meta de inflação, de acordo com o Broadcast. Segundo fontes ouvidas, com o aumento da meta de inflação, Lula quer juros em 12% no final do ano. O presidente pretende ter o apoio de empresários para seguir atacando o BC e forçar a queda de juros. Ainda segundo a agência, petistas ainda não sabem como a ministra do Planejamento, Simone Tebet, votará sobre mudança da meta, na reunião de quinta do CMN.

Campos Neto afirmou hoje, em evento do BTG Pactual que o sistema de metas para a inflação funciona bem e não é hora de fazer experimentos, mas de melhorar a credibilidade. “A gente já tem um sistema de metas que funciona bem, funciona bem no mundo, os países vizinhos que tiveram várias mudanças de governo seguem nesse sistema”.

Ele acrescentou que os investidores têm de mostrar mais boa vontade com governo do presidente Lula. “O investidor é muito apressado, é muito afoito, e acho que precisamos ter um pouco mais de boa vontade com o governo”.

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O presidente do BC voltou a afirmar que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem tido uma “boa vontade enorme” e se mostrado disposto a seguir um arcabouço fiscal com disciplina. O presidente do BC lembrou que o governo está instalado há apenas 45 dias.

Nos Estados Unidos, a inflação ao consumidor em janeiro subiu 0,5%, em linha com o esperado; na base anual, alta é de 6,4%, acima da expectativa de 6,2%. Em dezembro, o índice ficou em 0,1% mês a mês, enquanto subiu 6,4% em relação a dezembro de 2021.

O presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, disse à Bloomberg TV que o relatório de inflação veio em linha com as expectativas do Federal Reserve. “É quase o esperado. A inflação está se normalizando, mas está diminuindo lentamente. Só acho que haverá muito mais inércia, muito mais persistência na inflação do que talvez todos desejássemos”, ponderou.

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“O Federal Reserve precisará continuar elevando gradualmente as taxas de juros para vencer a inflação”, afirmou a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan. “Devemos permanecer preparados para continuar aumentando as taxas por um período mais longo do que o previsto anteriormente”.

No Tesouro Direto, o mercado de títulos públicos opera de forma mista. Na primeira atualização do dia, o movimento apontava queda nos retornos.

Às 15h24, o piso mínimo oferecido por prefixados era de 13,03% (Prefixado 2026), único ativo que apresentou queda nos juros oferecidos, com relação a esta segunda-feira, com retorno de 13,07%.

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Já no caso de títulos atrelados à inflação, o menor juro real era entregue pelo Tesouro IPCA+2029, no valor de 6,13% ao ano, abaixo dos 6,19% vistos ontem (13). Já o juro do Tesouro IPCA+2045 apresentava alta, 6,49%, acima dos 6,46% da véspera.

Dois títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+2032 e 2040) estão com as negociações suspensas, devido ao pagamento do cupom semestral, que ocorre amanhã (15).

Por regra do Tesouro Direto, o investimento em títulos que têm cupom de juros é suspenso quatro dias úteis antes da data do pagamento. Da mesma forma, há mudanças nos resgates, que são interrompidos dois dias úteis antes do pagamento do cupom.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (14): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Campos Neto, salário mínimo e reajuste de servidores

Na cena local, investidores repercutem entrevista dada por Campos Neto na véspera. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o economista disse que uma alteração nas metas em um momento de desconfiança de agentes econômicos poderia gerar o efeito oposto ao desejado pelo governo. Em outras palavras, isso poderia complicar o início do afrouxamento da política monetária em prazo mais curto.

“Se você aumenta a meta em um momento como esse, em que a meta está um pouco desancorada, o que vai acontecer é o seguinte: os economistas e os analistas vão projetar uma meta que é igual à nova meta, mas como a meta foi aumentada em um momento em que você não está atingindo a meta, ela vai pedir um prêmio de risco maior ainda”, disse. “Então, você não só não vai ganhar flexibilidade, como vai perder, completou.

Emendou: “Se fizermos uma mudança agora, sem ter um ambiente de tranquilidade e um ambiente em que estejamos atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter o efeito contrário ao desejado. Em vez de ganhar flexibilidade, você pode terminar perdendo flexibilidade”.

Apesar do cenário mais negativo, Campos Neto fez novo aceno ao governo ao dizer que vê “esforço grande na parte fiscal” por parte do ministro Fernando Haddad e uma “conversa muito boa” com a ministra Simone Tebet.

“Na medida em que os agentes econômicos entendam que a gente vai avançar com as reformas, vamos abrir espaço em algum momento para ter uma situação igual à de dezembro. Pode ser até que tenhamos uma situação melhor”, ponderou Campos Neto.

Também na cena econômica, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a correção da tabela do Imposto de Renda do salário mínimo e o programa para desenrolar dívidas (Desenrola) já estão no Palácio do Planalto para avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A fala foi feita durante abertura da reunião do diretório nacional do PT ontem (13). Na ocasião, Haddad não deu mais detalhes sobre o assunto. O evento foi fechado.

Outro tema que volta à pauta é o reajuste a servidores públicos. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o governo deve concluir nas próximas semanas a negociação para reajustar os salários de servidores federais até abril de 2023.

O aumento, diz o jornal, pode ser de até 9%, mas o valor final ainda depende de uma decisão sobre ajustar ou não o auxílio-alimentação —medida que beneficia mais os servidores com menor remuneração.

Apesar da alta, a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, disse ao jornal que, dificilmente o governo conseguirá repor os 35% calculados por parte das categorias como necessário para compensar a defasagem acumulada.

“Os servidores merecem algum reajuste, mas dificilmente será para compensar toda essa perda”, afirmou à Folha.

Investidor estrangeiro

O investidor estrangeiro ingressou com R$ 282,3 milhões na Bolsa em 10/2. Desta forma, o saldo acumulado de recursos ingressos no mercado secundário da B3 por estrangeiros soma R$ 1,798 bilhão em fevereiro e R$ 14,349 bilhões em 2023.

Em contrapartida, os investidores institucionais sacaram R$ 533,7 milhões no dia 10, retiraram R$ 3,025 bilhões em fevereiro e tiraram R$ 12,992 bilhões em 2023. O investidor pessoa física, por sua vez, aportou R$ 162 milhões no dia 10, acumulado ingresso de R$ 1,674 bilhão em fevereiro, mas com saques líquidos de R$ 118,4 milhões no acumulado do ano. Dia 10, a bolsa fechou com leve alta, de +0,07%.

Salário mínimo

O Ministério da Fazenda finalizou a proposta para o reajuste do salário mínimo no país. O piso salarial deve subir dos atuais R$ 1.302 para R$ 1.320. A proposta aguarda chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Sendo aprovada, o novo valor deve ser anunciado no dia 1° de maio, Dia do Trabalho, segundo o colunista Valdo Cruz, da GloboNews. Na mesma ocasião, deve ser divulgada a nova faixa de isenção do Imposto de Renda, que passará de R$ 1.903,98 para R$ 2.640,00 (equivalente a dois salários mínimos, considerando o novo piso).

O retorno dos reajustes anuais do salário mínimo acima da inflação, que deixaram de ser contemplados no governo Bolsonaro, foi promessa de campanha de Lula.

Nesta semana, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, já havia reafirmado que o salário mínimo passaria por aumento ainda este ano. O último reajuste do piso nacional passou a valer no dia 1º de janeiro.