Tesouro Direto: com forte volatilidade prefixados oferecem até 13,16% ao ano

Ganho real dos papéis de inflação chega a 6,09%; risco fiscal e medo de recessão global pesam nos mercados

Katherine Rivas

Ilustração sobre juros (Shutterstock)
Ilustração sobre juros (Shutterstock)

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Em dia de forte volatilidade, as taxas dos títulos públicos avançam na tarde desta terça-feira (5). Nos prefixados, as taxas sobem até 15 pontos-base, enquanto nos títulos atrelados à inflação as taxas têm alta de até 9 pontos-base.

Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, explica que o movimento das taxas experimenta forte volatilidade por conta do risco fiscal. De manhã, as taxas chegaram a subir com notícias de que o relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios queria incluir mais benefícios, como ‘vale Uber’ e retirar o estado de emergência, o que acabou deixando o mercado nervoso.

Mas, no decorrer do dia, as taxas chegaram a acalmar, após declarações de Danilo Forte (União Brasil-CE), relator da PEC, que recuou no seu posicionamento e afirmou ao Broadcast Político que deve manter o texto que foi aprovado no Senado. “Ele também comentou que seria respeitado o estado de emergência. Esta mensagem trouxe calma para o mercado e fez as taxas recuarem”, afirma Costa.

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No cenário externo, o economista cita dois fatores que também contribuíram para amenizar a alta das taxas. Um deles foi a queda do petróleo, que desabou quase 10% nesta terça-feira (5), após notícias de que sanções em Irão e Venezuela poderiam ser flexibilizadas para aumentar a oferta da commodity.

O outro motivo foi o risco de recessão global, que levou as Treasuries a recuar por conta de uma percepção de que o Federal Reserve, banco central americano, não precisaria aumentar as taxas de juros.

Mas no período da tarde o mercado acabou devolvendo todos essas ajustes e as taxas voltaram a subir. “Isso ocorre por conta da volatilidade e nervosismo do mercado. Essa oscilação deve continuar até a PEC ser votada na quinta-feira”, destaca Costa.

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No radar do mercado para esta semana, tem dados do payroll (emprego) nos Estados Unidos e IPCA (inflação) de junho na sexta-feira (8).

Amanhã o Federal Reserve divulga a ata da sua última reunião, que pode trazer diversas interpretações para o mercado, cita o economista.

Dentro do Tesouro Direto, a maior alta era do título prefixado de médio prazo. O Tesouro Prefixado 2029 oferecia às 15h26 um retorno anual de 13,06%, acima dos 12,91% vistos ontem.

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Já o Tesouro Prefixado 2025 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, apresentavam uma rentabilidade anual de 12,92% e 13,16%, superior aos 12,79% e 13,04% registrados na sessão anterior.

Nos títulos atrelados à inflação, o ganho real dos papéis chegava a 6,09%.

As taxas avançavam entre 5 e 9 pontos-base.

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Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (5):

Fonte: Tesouro Direto

Adeus “vale-Uber”

O relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios na Câmara dos Deputados, Danilo Forte (União Brasil-CE), afirmou, nesta terça-feira (5), que vai manter a versão do texto aprovada uma semana atrás pelo Senado Federal, para agilizar o pagamento dos benefícios previstos na matéria.

O anúncio representa um recuo do parlamentar em relação às suas primeiras posições e ocorre após o Palácio do Planalto entrar em campo para impedir modificações no texto e possíveis atrasos na implementação dos programas sociais a três meses das eleições.

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“Nós temos a pressão do cronograma de trabalho, pelo calendário da Câmara, que tem que se encerrar tudo até 15 de julho. E temos a demanda e a necessidade da população faminta, que está precisando do Auxílio Emergencial e do vale-gás e que tem a pressão de comoção social. Diante desses dois fatos, mexer no texto cria mais dificuldade”, justificou o relator da matéria.

Caso a PEC seja aprovada sem alterações pelos deputados, ela poderá seguir para promulgação pelo Congresso Nacional. Mas se houver mudanças de mérito, será necessária nova análise pelos senadores (de toda a proposta ou pelo menos dos dispositivos modificados), o que pode atrasar a execução dos programas, tendo em vista a proximidade do recesso parlamentar, que começa em 17 de julho.

Petróleo

Em um ambiente de grande incerteza geopolítica e de pessimismo sobre os rumos da economia mundial, os cenários para o petróleo são cada vez mais extremos. Após o JPMorgan projetar forte alta da commodity em um cenário de corte de produção russa, o Citi apontou uma perspectiva baixista em um cenário de recessão global.

Para o Citi, o petróleo bruto pode cair para US$ 65 o barril até o final deste ano e ir para US$ 45 até o final de 2023 se ocorrer uma recessão que prejudique a demanda.

Essa perspectiva é baseada na ausência de qualquer intervenção dos produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep +) e um declínio nos investimentos em petróleo, apontaram analistas como Francesco Martoccia e Ed Morse em relatório nesta terça-feira (5). O brent fechou a sessão da véspera a US$ 113,50 o barril.

A perspectiva do Citi comparou o atual mercado de commodity com as crises da década de 1970. No cenário base, porém, os economistas do banco não esperam que os EUA mergulhem em recessão.

“Para o petróleo, as evidências históricas sugerem que a demanda por petróleo fica negativa apenas nas piores recessões globais”, apontaram. “Mas os preços do petróleo caem em todas as recessões para aproximadamente a cotação que equivale a seu custo marginal.”  Este cenário leva em conta um aumento do desemprego, falência de empresas e endividamento das famílias, o que deve afetar a demanda e, consequentemente, as margens do setor.

Cabe destacar que, em relatório recente, o JPMorgan fez uma projeção bastante altista sobre os preços do petróleo. Para os analistas do banco, a cotação pode subir para “estratosféricos” US$ 380 o barril no “cenário mais extremo” da Rússia reduzira produção de petróleo em 5 milhões de barris por dia (bpd) em retaliação a um teto de preço considerado pelo Grupo dos Sete.

Produção industrial

A produção industrial teve variação positiva de 0,3% em maio, na comparação com o mês anterior. Os dados são Pesquisa Industrial Mensal (PIM) – Brasil, divulgada nesta terça-feira (5) pelo IBGE.

A indústria teve o quarto avanço seguido. Contudo, não foi suficiente para eliminar o recuo de 1,9% registrado em janeiro último e o saldo ainda é negativo em 0,1% em 2022. No ano, a indústria acumula alta de 2,6% e, em 12 meses, de 1,9%. Já na comparação com maio de 2021, a produção cresceu 0,5%.

O número também veio abaixo do esperado. O consenso Refinitiv apontava para alta de 0,7% na comparação com abril, enquanto a expectativa na comparação anual era de avanço de 1,1%.

No resultado de maio, verifica-se comportamento predominantemente positivo, aponta o IBGE, uma vez que 3 das 4 grandes categorias econômicas e 19 das 26 atividades industriais pesquisadas apontaram avanço na produção.

PMI Zona do Euro

O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, que engloba os setores industrial e de serviços, caiu de 54,8 em maio para 52 em junho, atingindo o menor nível em 16 meses, segundo pesquisa final divulgada hoje pela S&P Global.

Apesar da queda, o resultado acima da marca de 50 indica que a atividade no bloco se expandiu no último mês, mas em ritmo mais contido.

O número final de junho ficou um pouco acima da leitura preliminar e da previsão de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, de 51,9 em ambos os casos.

O PMI de serviços da zona do euro, por sua vez, diminuiu de 56,1 para 53 no mesmo período, tocando o menor patamar em cinco meses, mas também superou o cálculo inicial, de 52,8.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.