Mais de R$ 5 bi vão cair na conta dos investidores de debêntures em junho; como reaplicar o dinheiro?

Especialistas enxergam oportunidades no mercado de crédito privado após casos Americanas e Light

Leonardo Guimarães

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Junho é o mês com maior volume de debêntures a vencer no primeiro semestre de 2023. Isto significa que, nos próximos dias, fundos e investidores de varejo receberão suas aplicações de volta, acrescidas de juros – e precisarão decidir o que fazer com esse dinheiro.

Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostram que o volume de debêntures a vencer neste mês é de R$ 5,2 bilhões. No mercado, acredita-se que parte “significativa” desse volume deve ser reinvestida – mas será um bom momento para voltar a comprar debêntures?

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney dizem recomendam o movimento para aproveitar boas oportunidades no mercado de crédito privado em junho. Os juros altos e a percepção de risco após os casos de Americanas, Oi e Light forçam as empresas a oferecer rentabilidade elevada para atrair investidores.

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“Hoje encontramos boas oportunidades no mercado de crédito privado, justamente pelo estresse no início do ano. Há papéis de boas empresas com remuneração alta”, diz Marina Renosto, head de alocação da Blackbird Investimentos.

Uma das oportunidades está na debênture da Eneva (ENEV19), que tem classificação de risco AAA e paga IPCA + 6,2%. O ativo compõem a carteira recomendada de crédito privado da XP em junho. “A maior parte da receita da Eneva é fixa, reajustada anualmente pelo IPCA, o que garante relativa previsibilidade de resultados”, justifica a empresa, em relatório assinado por Camilla Dolle.

Taxas altas no momento: por quê? Vale a pena?

Desde o início do ano, três grandes recuperações judiciais abalaram o mercado de crédito privado no Brasil. A primeira, da Americanas, foi a mais chocante e revelou rombo de R$ 43 bilhões na empresa. Em março, a Oi pediu recuperação judicial novamente com passivo de 44,3 bilhões. A RJ da Light veio depois, com um volume de R$ 11 bilhões em dívidas.

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Ao todo, dados levantados em fevereiro pela Nelogica/Comdinheiro mostraram que 3,9 mil fundos estavam expostos de forma direta ou indiretamente a debêntures de pelo menos uma das três empresas, envolvendo 3,5 milhões de cotistas, o que representa um montante de mais de R$ 5,1 bilhões em termos de ativos.

Não à toa, os episódios abalaram o mercado e geraram desconfiança nos investidores. O resultado disso é que mesmo empresas consideradas sólidas precisem remunerar melhor para atrair investidores.

Com o mercado ainda com um pé atrás com as debêntures, Camilla Dolle, head de research de renda fixa da XP, aproveita para ensinar uma lição aos investidores: “É preciso entender que há um motivo por trás das taxas mais altas. Neste caso, é uma percepção de risco maior”, diz.

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A especialista chama a atenção dos investidores que entram ou reinvestem em debêntures olhando somente o retorno, sem considerar o risco que os títulos ainda carregam. “É preciso olhar, sim, as taxas que os títulos pagam, mas considerar o emissor e seu setor também é fundamental”.

Ao analisar os eventos que mais chamaram atenção no início do ano, Marina Renosto avalia que não houve “respingos” para outras empresas. “Precisamos entender se o medo tem fundamento, se os casos realmente afetam outras empresas. O caso da Americanas, por exemplo, não teve efeito sobre outras empresas. Light também é um caso isolado”.

A especialista da Blackbird diz que o medo é compreensível após casos tão grandes e que o próprio escritório revisou os fundamentos de outras empresas as quais estavam expostas. E foi justamente essa análise que permitiu que o time tivesse segurança em outras companhias que não estavam envolvidas nos recentes pedidos de recuperação judicial.

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Como saber se uma debênture é muito arriscada?

As especialistas recomendam que os investidores sigam o exemplo da Blackbird de analisar frequentemente os fundamentos de companhias a que estão expostos.

Em resumo, quando alguém investe numa debênture, está emprestando dinheiro para uma empresa. Portanto, é preciso avaliar constantemente se a companhia terá condições de pagar essa dívida quando o prazo do título chegar ao fim, como acontece com os R$ 5,2 em debêntures a vencer em junho.

Um dos aspectos que especialistas avaliam é o motivo da emissão de dívida. Por que a empresa está pegando dinheiro emprestado? “Pode haver mais risco se a emissão acontecer para dar um respiro à empresa, e não pensando em crescimento”, explica Marina.

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Em detalhes mais técnicos, mas importantes, é preciso avaliar a saúde financeira da companhia. Aqui, uma dica é pesquisar a dívida líquida sobre Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia.

Este é um dos indicadores mais usados para medir quanto uma empresa está endividada por mostrar quantos anos a companhia levaria para pagar sua dívida se o Ebitda permanecer constante. Quanto maior o número, mais endividada a empresa está na comparação com sua geração de caixa.

Outro ponto importante é conhecer o perfil de dívida da empresa. “Se tem muita dívida de curto prazo e não tem caixa suficiente, como a empresa vai fazer para quitar?”, questiona Camilla Dolle.

É importante analisar caso a caso, já que os números, por si só, podem esconder informações importantes. Camilla exemplifica: “uma empresa com endividamento alto pode ter feito várias aquisições e os números ainda não refletem a integração de caixa com as companhias adquiridas”.

Portanto, conhecer os fundamentos e treinar o olhar para avaliar se uma debênture representa muito risco para a sua carteira ajuda investidores no momento da decisão por investir, ou não, em um papel.