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Apesar do crescimento do mercado de crédito privado no Brasil, algumas empresas ainda optam pela emissão de dívida nos Estados Unidos, de olho em vantagens oferecidas por lá. Mas, com a diferença entre os juros brasileiros e os norte-americanos, será que investir nesses papéis vale a pena?
Segundo especialistas, é até recomendado buscar exposição a esse tipo de ativo, mas o investidor precisa saber primeiro se eles cabem no bolso.
Os bonds são títulos americanos de dívida e, no cenário corporativo, equivalem às debêntures no Brasil. As empresas emitem esses títulos para captar dinheiro que será destinado a financiar novos projetos, fluxo de caixa ou até pagamento de dívidas de curto prazo. Em troca, pagam juros em dólar a quem comprou os títulos.
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Empresas que emitem bonds nos EUA costumam ter parte da receita em moeda americana, e buscam emitir papéis com duração maior — ou até sem vencimento, no caso dos bonds perpétuos.
Também há facilidade nos processos. “Aqui, a empresa leva de um a dois meses para colocar papéis na rua, enquanto nos EUA o prazo cai para 10 ou 15 dias”, explica Lucas Sacramone, distribuidor institucional sênior da XP Investimentos.
A estratégia foi adotada em 2023 por empresas como Petrobras, JBS, Minerva e Aegea, que, juntas, captaram US$ 3,65 bilhões com a emissão de bonds.
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Diferencial de juros
Com os juros em alta nos EUA, no entanto, os retornos oferecidos por emissores de bonds foram ficando cada vez maiores para atrair compradores. Para as empresas, um desafio; para investidores, uma oportunidade.
“Os títulos estão sendo negociados a taxas historicamente elevadas. Assim, o investidor tem a chance de adquirir papéis com uma rentabilidade interessante”, diz Vitor Wolfgram, analista da Levante Corp.
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Em setembro, a Marfrig emitiu US$ 900 milhões em bonds com juros de 8,875% ao ano. Também no mês passado, a empresa de saneamento Aegea levantou US$ 500 milhões com bonds que pagam 9% ao ano para os investidores. Já os bonds que a Petrobras emitiu em junho deste ano têm remuneração anual de 6,625%.
A rentabilidade ainda é bem menor do que a oferecida por debêntures no Brasil, com emissões esperadas para 2023 alcançando o patamar de 16% ao ano. A diferença do que é pago nos EUA e no Brasil, no entanto, já foi maior, e a tendência é que a distância reduza ainda mais com o descompasso das políticas monetárias: enquanto a taxa Selic cai, espera-se estagnação dos juros lá fora.
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Vale a pena investir?
Para analistas, sim. Por três motivos:
1. Proteção cambial
Apesar dos juros maiores no Brasil, os bonds de empresas brasileiras são apontados como bons investimentos para quem quer diversificar a carteira com exposição a ativos em dólar, como meio de proteger o portfólio em caso de desvalorização do real.
“É prudente ter investimento fora do país local, o passado nos mostra isso, principalmente em países emergentes”, diz Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital.
2. Duração
Outro ponto positivo dos bonds de brasileiras é a duração dos papéis. Ao contrário do que acontece no Brasil, os bonds têm vencimento longo e geralmente têm juro prefixado. Com as taxas em patamares historicamente altos, o investidor consegue garantir boa rentabilidade anual por até 30 anos.
3. Liquidez
O tamanho do mercado norte-americano também depõe a favor dos bonds, já que a liquidez é maior. No Brasil, um dos maiores problemas da aplicação em debêntures é depender da corretora para vender os papéis.
Cuidados antes de comprar
Ao investir, não basta olhar apenas para os custos que certa operação lhe rendeu, ainda é preciso estar atento às oportunidades deixadas de lado ao fazer uma escolha. Sacramone, da XP, alerta para o custo de oportunidade do investimento em bonds enquanto o mercado brasileiro ainda tem taxas atrativas.
“O investidor de varejo (pessoas físicas) tem acesso a muitos produtos isentos de Imposto de Renda no mercado local. É preciso fazer as contas para saber se os bonds estão pagando melhor, de fato”, diz o especialista.
Mas, e se o investidor comprar dívida da mesma empresa no Brasil e lá fora? Para Wolfgram, da Levante, não seria boa ideia, pois o portfólio ficaria com menor diversidade de emissores.
“É mais estratégico analisar em qual dos dois mercados a taxa está mais atraente e direcionar o investimento somente para aquele mercado”, aconselha o especialista.
No mais, os riscos são parecidos com os observados nas debêntures. “Há o risco de crédito, de não pagamento por parte do emissor, e risco de liquidez, que pode ficar escassa em momento de estresse no mercado de crédito”, explica Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed.
Como investir em bonds?
Uma vez tomada a decisão de investir em bonds, é necessário ter conta em uma corretora internacional para ter acesso aos títulos. É preciso ainda considerar que os aportes em crédito privado, assim como em demais ativos no exterior, geralmente têm um valor mínimo — em algumas corretoras, os investimentos partem de US$ 1 mil.
O investidor precisa ainda pagar Imposto de Renda em lucros acima de R$ 35 mil com a venda de papéis. A alíquota começa em 15% e vale para vendas de até R$ 5 milhões. De R$ 5 milhões a R$ 10 milhões, a alíquota é de 17,5%; de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões, de 20%; e acima de R$ 30 milhões, de R$ 22,5%.
Ainda é cobrado IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em aplicações de até 30 dias.
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