Virada se aproxima? Resgates de fundos de ações e multimercados alcançam menor valor do ano

Retorno de carteiras focadas em ações setoriais e small caps também é destaque, com ganhos médios de até 21% em maio

Bruna Furlani

(Getty Images)
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A visão de que o início do ciclo de afrouxamento monetário do Banco Central está próximo de começar impulsionou um pequeno rali da Bolsa em maio e alguma recuperação na captação de fundos de ações e multimercados.

No mês passado, os resgates líquidos (descontando os depósitos) de fundos de ações e multimercados bateram o menor nível deste ano, aos R$ 5,1 bilhões e R$ 2,3 bilhões, respectivamente. É isso o que mostra um levantamento feito pelo InfoMoney com base em dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Considerando apenas os multimercados, as saídas líquidas também são as menores desde outubro de 2022, quando o valor mensal ficou negativo em R$ 965,7 milhões.

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Captações líquidas em fundos de ações em 2023

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio
(R$ 9, 2 bilhões) (R$ 6,2 bilhões) (R$ 8,0 bilhões) (R$ 5,5 bilhões) (R$ 5,1 bilhões)

Captações líquidas em fundos multimercados em 2023

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio
(R$ 17,6 bilhões) (R$ 15,0 bilhões (R$ 10,3 bilhões) (R$ 12,7 bilhões) (R$ 2,3 bilhões)

Fonte: Dados do histórico da Anbima

Apesar da melhora relativa, o volume de saques líquidos neste ano ainda é grande – tanto em fundos de ações quanto em multimercados, com montantes que chegam a R$ 33,2 bilhões e R$ 46,7, bilhões, segundo números atualizados da Anbima. Por vezes, os números acumulados podem ser um pouco diferentes após ajustes feitos pela associação para incluir dados retroativos de instituições que enviaram as informações fora do prazo.

Os retornos também têm chamado a atenção. Entre os fundos de ações, os destaques do mês de maio estão em produtos setoriais, com ganho médio de 21,02%, e de small caps (ações de empresas de menor valor de mercado), com rentabilidade média de 12,38%.

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No mesmo período, o Ibovespa avançou 3,74% e o índice de small caps da B3 (SMLL) subiu 13,54%. O bom desempenho está ligado ao cenário macroeconômico.

“A soma dos fatores de risco está mais positiva do que negativa agora”, destaca o chefe de alocação e fundos da XP, Rodrigo Sgavioli. Internamente, a desaceleração da inflação, a melhora da percepção de risco com a aproximação de um desfecho para o arcabouço fiscal no Congresso e a visão quase consensual de que o BC poderá começar a cortar os juros a partir do segundo semestre têm dado maior fôlego para as captações de fundos de ações e multimercados, diz o especialista.

Já no exterior, Sgavioli destaca a resolução de algumas questões importantes, como o imbróglio envolvendo o teto da dívida americana, além da diminuição da perspectiva de uma recessão mais dura nos Estados Unidos.

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Virada mesmo, só após queda de juros

Apesar da melhora, a visão é de que uma virada mesmo nos fundos de ações e multimercados só deve ocorrer com a queda da Selic, na visão do CIO da Suno Wealth, João Arthur Almeida.

O executivo lembra que o custo de oportunidade segue elevado com a Selic em 13,75% ao ano e a possibilidade de obter bons retornos em produtos de renda fixa como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) que pagam 100% do CDI. “No final, o investidor é muito atraído por retornos passados [em fundos de ações e multimercados] e pelo efeito manada”, pondera.

Ao olhar para as performances e para as carteiras, Almeida acredita que a virada poderia ocorrer primeiro nos fundos de ações – após um período de desempenho mais fraco dos multimercados neste ano.

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Do começo do ano até o dia 5 de junho, o retorno médio dos multimercados de gestão ativa no Brasil, medido pelo Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), está em 2,71%, ou seja, abaixo dos 5,53% registrados pelo CDI no mesmo período.

“Boa parte [dos multimercados] estava com posicionamento mais pessimista e não conseguiu aproveitar as oportunidades que os ativos deram. Teve um rali na curva de juros e outro na Bolsa que poucas gestoras conseguiram captar”, observa o profissional da Suno.

Sgavioli também observa que, por falta de teses e grandes convicções em ativos globais e locais, os gestores estão com carteiras mais leves e com giro maior. Ou seja: não estão tomando tanto risco e nem estão com posições estruturais.

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“Não estão surfando ‘ondas grandes’ e a dispersão de resultados têm aumentado”, destaca. Nesse cenário, o especialista acredita que a tendência é que o investidor privilegie os fundos de menor volatilidade – o que poderia impulsionar uma virada nas captações antes em multimercados.

Apesar da preferência por posições mais táticas no cenário atual, Almeida, da Suno, acredita que a alocação das casas possa estar em processo de alteração, dado conversas recentes com gestores.

Uma das gestoras que promoveu mudanças na carteira é a Legacy Capital. Em carta divulgada a investidores nesta semana, a casa informou que, em maio, zerou uma posição que se beneficiava da queda das ações brasileiras.

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Segundo a Legacy, a alteração tem a ver com a aproximação do ciclo de corte de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que deve ter início no começo do segundo semestre.

“Admitindo, novamente, que a meta de inflação não sofra alteração em seu ponto central, e a inflação corrente prossiga dando sinais de desaceleração, o Banco Central deverá dar início às quedas de juros na reunião do Copom de agosto”, destacou a gestora.

ETFs, fundos de previdência e FIPs no positivo

Para além de multimercados e fundos de ações, o ano também não tem sido positivo para o segmento de fundos de investimento como um todo.

Segundo dados da Anbima, apenas três classes de fundos terminaram maio com captação líquida positiva: previdência, ETFs (fundos de índice) e fundos de participações (FIPs), com montantes de R$ 1 bilhão, R$ 1,8 bilhão e R$ 700,4 milhões, respectivamente.

No mesmo período, fundos de renda fixa e cambiais acumularam saídas líquidas de R$ 29,6 bilhões e de R$ 330,2 milhões, nessa ordem.

Em maio, os fundos de investimento locais registraram resgates líquidos de R$ 47,2 bilhões.

Já no acumulado do ano, apenas ETFs e FIPs estão com mais depósitos do que resgates, no valor de R$ 105,2 milhões e R$ 6,7 bilhões, respectivamente. Em 2023, as saídas líquidas em fundos de investimento locais somam R$ 158,9 bilhões.