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CEO da Siemens nas Américas mostra otimismo com energia no Brasil

CEO da Siemens nas Américas, Lisa Davis diz que empresa pretende ser ativa nos próximos leilões de eólicas e também contribuir para a exploração do pré-sal com mais eficiência

Equipe InfoMoney

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“Estou muito animada. Acho que o humor no Brasil é muito mais positivo do que já foi. Considero que as dificuldades são de alguma forma o símbolo do País superando as dificuldades do passado e chegando a uma posição em que seu potencial possa ser cumprido.” A afirmação é da americana Lisa Davis, membro do board global da Siemens e CEO de Américas da companhia alemã. Uma americana de 55 anos de fala tranquila, Lisa é engenheira química e ingressou na companhia, vinda da Shell, em 2014, dentro de uma grande reestruturação promovida pelo CEO global Joe Kaeser, que assumiu a direção geral da empresa um ano antes. Na gigante alemã, Lisa também é responsável global pelas áreas de óleo e gás, de serviços de geração de energia e de energia renovável.

Em 2015, quando a economia brasileira ainda não havia megulhado na recessão, a empresa tinha traçado uma meta ambiciosa de dobrar sua participação no País até 2020, duplicando seu faturamento, que era de R$ 5 bilhões. Em 2016, o faturamento registrado foi de R$ 5,4 bilhões – com R$ 4,3 bilhões em entrada de pedidos. Apesar do novo cenário econômico, a empresa mantém a previsão inicial. “Estamos preparados e temos a meta de dobrar nossos negócios até 2020. Para isso, vamos fazer os investimentos necessários”, diz o CEO brasileiro Paulo Stark. “Nos últimos 15 anos, investimos mais de 1 bilhão de euros [R$ 3,6 bilhões] criando nosso atual modelo de negócios no País. É nosso padrão, investimento contínuo. Não temos um número para anunciar. Estamos entrando em um novo ciclo, discutindo novas oportunidades. Isso depende um pouco de como o novo cenário no País se desenrola”, diz Stark.

Desde que participou da implantação da primeira grande linha telegráfica no Brasil, em 1867, foi uma longa trajetória. A empresa está estabelecida desde 1905 e hoje tem presença importante nos campos de energia, indústria, infraestrutura e saúde. A gama de produtos e serviços vai de softwares e soluções de engenharia até turbinas a gás e a vapor (para biomassa ou termelétricas), passando por equipamentos médicos. Com as mudanças na estrutura global da companhia, em 2013, o Brasil passou a fazer parte dos seus lead countries. “Temos negócios em aproximadamente 200 países. Se o Brasil está entre os dez primeiros, isso representa muito para nosso portfólio”, enfatiza Lisa. A empresa global registrou faturamento anual de 79,6 bilhões de euros em 2016 (cerca de R$ 291 bilhões, dados do ano fiscal que fechou em setembro).

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No Brasil, o pré-sal, a área de transportes e a expansão das eólicas estão entre as prioridades da companhia. “O Brasil está à frente de muitos países em relação à utilização das renováveis no mix de energia. Nós somos líderes no segmento offshore (alto-mar) e temos uma posição muito forte nas eólicas onshore (em terra). Acabamos de finalizar nossa fusão com a espanhola Gamesa, o que nos coloca em uma posição muito mais forte e com melhor competitividade”, diz Lisa. O processo local de fusão das duas companhias aconteceu em fevereiro passado e a capacidade instalada das duas empresas no Brasil deve ultrapassar 2,5 GW. Apenas com projetos já em execução, mais 1 GW deve ser adicionado a essa capacidade nos próximos dois anos. “Vemos o Brasil como mercado-chave para a nossa nova companhia de eólicas. Pretendemos ser muito ativos nos próximos leilões e queremos continuar a aumentar nossos negócios aqui”, afirma a executiva.

Petróleo é outra aposta para o grupo. A Prumo Logística, que desenvolve e opera o porto de Açu (norte do Rio de Janeiro), anunciou no final de junho a negociação de participações da BP Energy Company e da Siemens na Gás Natural Açu (GNU) e suas subsidiárias. Além de participação de 33% na joint venture responsável pelo desenvolvimento dos projetos de infraestrutura, a empresa alemã terá 33% de participação no terminal de gás natural liquefeito (GNL) e em termoelétrica. “O Brasil é um País com grandes reservas de petróleo e gás e, naturalmente, o governo tem mostrado muito interesse em explorar essas reservas. O desenvolvimento dos campos de Libra e Sépia é um exemplo [no pré-sal]. O que nossa equipe no Brasil desenvolveu, em parceria com outras empresas, visa desenvolver a exploração com mais eficiência, e com mais respeito ao meio ambiente. É um grande exemplo da engenhosidade por meio da inovação que a Siemens pode proporcionar para indústrias tradicionais, como óleo e gás”, diz Lisa.

Outro foco da empresa é avançar em soluções de digitalização. A Siemens apresentou no início de junho em São Paulo, em evento que contou com a presença de Lisa Davis, sua plataforma MindSphere. Trata-se de um sistema operacional baseado em nuvem e dirigido à internet das coisas (IoT). É a resposta do grupo ao sistema operacional Predix, da rival norte-americana GE. A ideia é ampliar a digitalização nas fábricas. A companhia é capaz de planejar fábricas inteiras e cadeias de produção com inteligência artificial, aprimorando modelos que apostem simultaneamente em customização e massificação. É a chamada Indústria 4.0, da qual a empresa foi pioneira. “Se enxergarmos a digitalização, vemos uma mudança nos negócios de forma dramática. Estamos trabalhando nisso há muitos anos. Já utilizamos em várias indústrias, como a automotiva. Agora estamos levando esse aprendizado para outras indústrias, como a do óleo e gás ou da mineração. O que vemos na Siemens é que isso não é mais opcional para os nossos clientes, está se tornando a nova forma de se fazer negócios.”

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Em relação ao Brasil, as commodities também mobilizam a companhia. A Siemens aposta na eletrificação para futuras ferrovias (hoje praticamente todas utilizam propulsão a diesel, mais lentas e de maior custo) que permitiria maior competitividade às exportações brasileiras. De quebra, esse desenvolvimento promoveria e descentralizaria a geração de eletricidade, estimulando soluções mais baratas (como produção eólica, por exemplo) e diminuindo o custo da transmissão (que não seria originada a grandes distâncias, com perdas maiores). Para a empresa, a vantagem competitiva (qualidade ou baixo custo do ferro ou da soja) se perde em larga medida na ineficiência do transporte. E a saída seria um ambiente regulatório e estrutura de financiamento que não esteja a cargo apenas dos produtores de commodities.

“Estamos envolvidos em vários aspectos da economia, como energia, saúde, indústria e transporte. A maneira que o governo decidir priorizar ou desenvolver a economia nessas áreas vai determinar como vamos investir”, diz Lisa. “Vendo por uma perspectiva do exterior, é importante que o governo continue a fazer as reformas e avançar para tornar o ambiente melhor para investimentos. Estou muito impressionada com a ênfase e com a maneira como líderes da indústria estão tendo um papel público. Há mais movimento entre os setores privado e público. Onde há setor público capaz de fazer as coisas avançarem é onde há engajamento do setor privado, maior compartilhamento de capacidades e talentos entre os dois [setores]. Acho isso fantástico, me dá mais confiança de que o Brasil está em um bom caminho e esperamos que isso continue.”

*Esta reportagem foi originalmente publicada na edição de número 62 da revista LIDE, em 08/08/2017.