A pandemia voltou a despertar em muita gente a vontade de ter um carro. O automóvel sempre esteve entre os bens e serviços considerados mais importantes pelos brasileiros, depois de casa, educação e plano de saúde. Neste ano, no entanto, o desejo cresceu: o carro, que estava na lista de consumo prioritário de cerca de 14% da população em 2019, passou a ser objeto dos sonhos para 33% das pessoas, de acordo com um levantamento do instituto Vox Populi.
Em meio a uma pandemia, a possibilidade de se locomover sozinho e evitar dividir espaço com outras pessoas – como é o caso quando se usa transporte coletivo ou aplicativos de transporte – tem seus atrativos. Um automóvel também pode ser importante para quem tem crianças pequenas em casa, faz viagens recorrentes ou precisa de um veículo à disposição 100% do tempo. Mas, e do ponto de vista financeiro, vale a pena?
O custo de um carro vai além do seu preço de venda ou das parcelas do financiamento, no que normalmente nos focamos ao planejar a compra. Além do combustível, tem manutenção, seguro, impostos, depreciação. E um detalhe: quanto mais sofisticado é o modelo, maiores costumam ser os gastos.
Há, ainda, o chamado “custo de oportunidade”, que é quanto alguém deixa de ganhar por destinar seu dinheiro à compra de um carro – no lugar de investir, por exemplo.
Um carro de R$ 60 mil, por exemplo, pode representar uma despesa mensal de quase R$ 2 mil, incluindo todos os detalhes que costumam passar batidos nas contas mais rápidas.
O cálculo foi feito com a nova planilha do InfoMoney, desenvolvida pelo planejador financeiro Valter Police Júnior, sócio da Fiduc Planejamento Financeiro. Você pode fazer a mesma conta, para a sua realidade, usando a ferramenta.
A planilha também permite comparar a compra de um carro com outras alternativas de transporte que têm se popularizado nos últimos tempos.
Uma delas é a assinatura de automóveis, uma opção oferecida diretamente pelas montadoras montadoras e também pelas locadoras. Na prática, o modelo se assemelha a um aluguel de carro de longo prazo – por um ou dois anos, ou mais. Ao final do contrato, o consumidor devolve o carro e pode renovar a assinatura ou, em alguns casos, até mesmo comprar o veículo.
Outra comparação possível na planilha é com o custo de se locomover com carros de aplicativos de transporte, como Uber e 99, entre outros. “São formas de ter acesso a transporte que entraram na vida dos brasileiros recentemente, e agora começam a ser consideradas”, diz Police.
Leia também:
- Financiamento ou carro por assinatura: qual é a melhor opção? Compare os custos das duas modalidades
A planilha indica os campos que devem ser preenchidos e também oferece algumas estimativas para referência. Depois de apontar todos os gastos, basta rolar até o fim para verificar a opção com menor custo – que é destacada em verde. A alternativa intermediária aparecerá em amarelo e a mais cara, em vermelho.
Para chegar ao custo de quase R$ 2 mil por mês com a compra de um carro de R$ 60 mil foram considerados os seguintes itens:
Os cálculos evidenciam, segundo Police, que o gasto para ter um carro vai além dos boletos do financiamento – que, aliás, andam maiores por conta da elevação dos preços dos automóveis desde o início da pandemia. A demanda cresceu, mas a oferta não seguiu no mesmo ritmo, por conta do desarranjo das cadeias produtivas globais devido, entre outros fatores, às medidas de restrição de circulação.
Hoje, faltam componentes – especialmente semicondutores – em todo o mundo, o que afeta a produção dos carros novos, que subiram de preço. Por consequência, o valor dos usados disponíveis no mercado também avançou.
Decisão individual
Police explica que a decisão sobre comprar um carro, fazer uma assinatura ou usar aplicativos de transporte é individual – e nela, nem tudo são cifras.
Um exemplo: nem todos os modelos de uma montadora estão disponíveis para contratos de assinatura. “Na compra, o leque de opções é muito maior e inclui também os seminovos, que são mais baratos que os carros zero quilômetro. Não é possível assinar um seminovo”, pondera Police.
Outro caso: aplicativos de transporte costumam ter frotas grandes em capitais e cidades maiores. Isso pode não se repetir em municípios de pequeno porte. Por isso, mesmo querendo, quem vive no interior talvez não possa contar com essa alternativa sempre que precisar.
Na visão do planejador, há alguns perfis em especial para os quais a compra de um carro pode se revelar cara demais, se comparada com as opções de fazer uma assinatura ou usar aplicativos de transporte. O primeiro grupo é formado por pessoas jovens que vivem em cidades maiores, que oferecem alternativas.
O segundo grupo é o das pessoas mais velhas. Além de normalmente terem menos deslocamentos, diz Police, elas poderiam contar com as facilidades dos aplicativos no lugar de dirigir seus próprios carros.
O terceiro perfil envolve casais ou famílias. “Se as pessoas chegam à conclusão de que precisam de carro, ter dois não necessariamente dobra as possibilidades de uso”, diz Police. Mas os custos, sim. “Talvez valha a pena pensar em ter um e assinar o segundo ou usar aplicativos de transporte”.