Arida: Brasil tem 2 grandes exemplos do que “deu certo” que devem ser espalhados por toda a economia

Agricultura e a Embraer trazem sinalizações importantes sobre os caminhos a serem seguidos pelo Brasil, avalia o ex-presidente do BC 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Brasil tem muitos problemas a serem resolvidos com urgência, mas também alguns exemplos positivos que podem sinalizar o caminho a ser seguido para o País para a resolução das principais deficiências nacionais. 

Essa é a avaliação do economista Persio Arida, ex-presidente do Banco Central e  formulador do programa econômico do pré-candidato tucano Geraldo Alckmin. Durante o SpotX, evento promovido pelo Spotniks em São Paulo na última quarta-feira (25), Arida apontou dois exemplos em especial de experiências bem-sucedidas no Brasil a serem aplicadas em outras áreas: o setor agrícola e a Embraer (EMBR3).

“A integração sem que haja intervenção estatal funciona bem no Brasil”, pontuou. No caso da Embraer, Arida lembrou que foi um dos condutores do processo de desestatização da companhia (concluída em 1994) e que a empresa tinha dificuldades em ser vendida porque era vista como praticamente quebrada.

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Já na agricultura, ele relembra períodos em que havia institutos estatais de controle, como o do café, que acabaram não conduzindo de forma correta a produção agrícola no País. Já commodities que não chamaram tanto a atenção do estado, como soja e laranja, passaram a ganhar mais destaque na pauta de exportações. Além dessas questões, o empreendedorismo na agricultura revelou-se fundamental, apontou Arida.

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O Brasil, disse ele, deveria olhar para exemplos mais próximos, da América Latina, “com a mesma colonização ibérica e os vícios estatais”, ao invés de olhar para países como Dinamarca e Coreia do Sul para saber qual direção deveria tomar.

Nesse sentido, ele apontou dois caminhos: “queremos ser a Venezuela ou o Chile?” O Chile possui uma renda per capita 50% maior do que a brasileira, e tem crescimento e indicadores de educação melhores que os nossos, pontuou. Segundo ele, tal disparidade ocorre uma vez que eles já reformaram a Previdência, no fato do país não ter feito intervenção em setores-chave da economia, ter uma economia aberta e uma taxa de poupança bem maior do que a brasileira. 

O economista lembrou, contudo, que as reformas feitas no Chile ocorreram em meio a uma ditadura sangrenta, enquanto o “nosso governo militar foi esquerdista quando o assunto foi a economia”, com reformas orientadas para uma economia fechada. No Brasil, as mudanças não poderão ocorrer pela via ditatorial e, desta forma, as mudanças necessárias terão que ser feitas através do amadurecimento do debate, construindo as bases de uma economia liberal que respeite a diversidade. 

Ele ainda destacou a importância da educação, que segue como um dos maiores desafios do Brasil. O País não gosta pouco com a educação – 6% do PIB – mas gasta muito mal. “Aqui, gastamos muito mais com o ensino universitário e menos com a educação pré-universitária. Ou seja, damos dinheiro a quem não precisa, que são os jovens que chegam ao nível superior, e deixamos sem financiamento aqueles que mais precisam”, disse Arida. 

A performance do Brasil no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) é horrorosa, apontou, fazendo uma comparação com o Vietnã. “O Vietnã gasta muito menos e vai muito melhor. Um ganho de 50 pontos no ranking do Pisa poderia fazer o PIB do país avançar em 1 ponto percentual a mais. É muita coisa”, afirmou. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.