Bolsonaro faz gesto ao centrão com deputada ligada a Lira na articulação, mas impacto de reforma é incerto

Na avaliação do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), "os movimentos do governo são erráticos ainda" e era preciso entender o quadro geral

Reuters

O presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto (Andressa Anholete/Getty Images)
O presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto (Andressa Anholete/Getty Images)

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BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro escolheu a deputada Flavia Arruda (PL-DF), nome ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para a Secretaria de Governo, área responsável pela articulação política, mas o impacto da troca de comando de outras pastas ainda era avaliado por parlamentares.

Na semana passada, Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), fizeram duras críticas à política externa e pediram “mudança de rumo”, recado para a saída de Ernesto Araújo do posto, atendida nesta segunda. Ainda que o escolhido –o embaixador Carlos Alberto Franco França– tenha pouca experiência, a avaliação era que seria difícil o escolhido se sair pior do que o antecessor na pasta.

Nesse cenário, a escolha de Flávia Arruda também pode ser entendida como um gesto a Lira e ao centrão, após Bolsonaro ter optado, há quase duas semanas, por um nome diferente do sugerido pelo grupo para o Ministério da Saúde.

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Para o deputado Fábio Trad (PSD-MS), vice-líder pelo partido no bloco que sustentou a eleição de Lira à presidência da Câmara, “com a confirmação de Flavia Arruda na Secretaria de Governo, o governo do centrão tem Bolsonaro como um aliado”.

Bolsonaro também decidiu nesta segunda colocar seu então chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, no comando do Ministério da Defesa, no lugar de Fernando Azevedo e Silva, e um delegado da Polícia Federal, atual secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública, no lugar de André Mendonça.

A indicação do delegado, no entanto, não partiu da ala política mais identificada com as pautas bolsonaristas. O presidente da Frente Parlamentar da Segurança, deputado Capitão Augusto (PL-SP), afirmou em nota que a indicação de Torres “não foi solicitada ou indicada pela nossa Frente, que sequer foi consultada”.

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Na avaliação do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), “os movimentos do governo são erráticos ainda” e era preciso entender o quadro geral para as trocas.

“No Ministério da Defesa a gente tem que entender melhor o motivo da saída. Tem a indicação de um político para a Secretaria de Governo, temos que esperar para avaliar”, acrescentou.

Segundo uma fonte graduada, não houve sinalizações ao Senado sobre as mudanças ministeriais além da já esperada saída de Ernesto Araújo. Uma segunda fonte parlamentar relatou, no entanto, que o até então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, havia confidenciado a alguns parlamentares um incômodo em permanecer no posto. Outra fonte disse ainda que na Câmara a estratégia foi repassar a informação sobre algumas das trocas a um grupo muito pequeno de deputados, para testar sua lealdade.

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Ainda que os parlamentares estejam esperando a poeira baixar para reavaliar o quadro político com a reforma –seja por um risco de isolamento do presidente, se pender muito ao público radical, ou de se enfraquecer perante sua base mais fiel caso atenda todas demandas do centrão–, há quem lembre que os reais problemas do Brasil são mais imediatos, caso da crise do coronavírus que assola o país.

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“O Brasil precisa, urgente, de sedativos nos hospitais e de antissedativos no Congresso para acompanhar a dinâmica da política brasileira”, avaliou a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

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Na mesma linha, o líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), lembrou da pandemia e da crise de gestão na saúde que torna o país um dos epicentros da Covid-19 no mundo.

“O presidente parece que decidiu fazer um PDV no governo. Teve ministros saindo aos borbotões. Mas até agora não é possível enxergar nenhum ganho para os brasileiros que, em última análise, são os patrões desta turma”, avaliou. “Faltam vacinas, medicamentos, leitos de UTI e, principalmente, falta o compromisso do governo com salvar vidas nesta pandemia.”

As outras duas trocas anunciadas por Bolsonaro nesta segunda envolvem a saída de Luiz Eduardo Ramos, que será substituído por Flávia Arruda e vai, por sua vez, substituir Braga Netto na Casa Civil.

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Por último, André Mendonça, que deixa a Justiça, volta para a Advocacia-Geral da União, no lugar de José Levi, exonerado.