Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morre aos 41 anos

Ele lutava contra um câncer no sistema digestivo há um ano e meio e estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde 2 de maio

Equipe InfoMoney

Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo e candidato a reeleição Visita às Obras do Conjunto Habitacional Chácara do Conde (Foto Patrícia Cruz)
Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo e candidato a reeleição Visita às Obras do Conjunto Habitacional Chácara do Conde (Foto Patrícia Cruz)

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SÃO PAULO – O prefeito licenciado de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), morreu às 8h20 deste domingo (16) aos 41 anos, na capital paulista. Ele lutava contra um câncer no sistema digestivo há um ano e meio e estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde 2 de maio.

No mesmo dia em que foi internado, Covas havia se licenciado da prefeitura para cuidar da saúde. Anteontem, a equipe médica do Sírio-Libanês havia informado que o quadro clínico do prefeito da capital paulista era irreversível.

Em comunicado, a prefeitura disse que “o Prefeito de São Paulo Bruno Covas faleceu hoje às 08:20 em decorrência de um câncer da transição esôfago gástrica, com metástase ao diagnóstico, e suas complicações após longo período de tratamento”.

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Antes de maio, Covas havia ficado internado por 12 dias em abril, quando exames constataram que os tumores haviam se alastrado para o fígado e os ossos.

Durante a realização de um exame para descobrir a causa de uma anemia, em 3 de maio, foi identificado sangramento que fizeram com que Covas tivesse que ser levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e intubado. O prefeito licenciado foi extubado no mesmo dia, e, em 4 de maio, foi para o leito semi-intensivo, onde passou a receber a visita de familiares e amigos.

Na segunda-feira (10), ele havia iniciado nova etapa de tratamento, a partir da combinação de imunoterapia e terapia-alvo. Nos últimos dias, ele postou fotos ao lado do prefeito em exercício, Ricardo Nunes (MDB), do governador João Doria (PSDB), do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (DEM) e do vice-governador, Rodrigo Garcia – que trocou o DEM pelo PSDB.

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Sangue tucano

Político filiado ao PSDB, Covas era prefeito da cidade de São Paulo desde abril de 2018. Eleito vice-prefeito em 2016, ele assumiu a chefia do Executivo municipal quando o então titular, João Doria Júnior, se afastou para concorrer ao governo do estado. Em novembro de 2020, Covas foi reeleito prefeito. Seu segundo mandato teve início em 1º de janeiro de 2021 e foi interrompido por um câncer.

Bruno Covas Lopes nasceu no dia 07 de abril de 1980, em Santos, no litoral paulista, filho do engenheiro Pedro Mauro Lopes e Renata Covas Lopes, formada em Direito. Ele é neto de Mário Covas, ex-governador de São Paulo e um dos fundadores do PSDB, morto em 2001, quando estava no cargo. Bruno tem um irmão mais novo, Gustavo.

Quando criança, Covas estudou nos colégios Carmo e Lusíada, em Santos. Mudou para a capital em 1995, foi estudar no tradicional colégio Bandeirantes e passou a morar com o avô, que havia acabado de assumir o governo do estado.

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Pegou gosto pela política logo cedo. Quando pequeno, fez parte do Clube dos Tucaninhos, grupo de formação política ligado ao partido. Em 1998, se filiou ao PSDB e, em 1999, se tornou primeiro secretário da Juventude Tucana. Posteriormente foi presidente estadual e nacional da ala jovem do partido.

“Desde muito jovem sempre gostei de política, tive influência dentro de casa e hoje tenho a honra de ser prefeito dessa cidade que amo”, disse Covas em postagem no Instagram. “Meu avô foi minha inspiração para fazer política, mas [ele] sempre colocava a necessidade de estudar. Nunca desencorajou”, afirmou o prefeito ao jornal O Estado de S. Paulo, em novembro de 2020.

E estudou. Covas se formou em Direito na Universidade de São Paulo (USP), em 2002, e em Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2005. “Era um menino muito estudioso e inteligente. Fez duas faculdades ao mesmo tempo. E com o avô aprendeu a ter espírito público. É vocacionado para a política, um nome dessa nova geração”, comentou o ex-governador Geraldo Alckmin, duas vezes vice de Mário Covas e sucessor do avô de Bruno na chefia do Executivo estadual, também ao Estadão.

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Enquanto estudante, Covas fez estágio em dois escritórios de advocacia, chegou a trabalhar na área tributária depois de formado e deu aulas de Direito em Santos. Em 2004, ele se casou com a economista Karen Ichiba, com quem teve um filho, Tomás, hoje com 15 anos. O casal se divorciou em 2014.

Carreira

O tucano se candidatou pela primeira vez em 2004, quando postulou o cargo de vice-prefeito de Santos ao lado de Raul Christiano, candidato a prefeito. A chapa ficou em quarto lugar nas eleições. Nos anos seguintes, Covas trabalhou como assessor na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Em 2006, foi eleito deputado estadual com 122.312 votos. Foi reeleito em 2010 com mais de 239 mil votos, o mais votado naquele ano para o Legislativo estadual. Ocupou a presidência da Comissão de Finanças e Orçamento da Casa, é autor da lei que tornou a Virada Cultural obrigatória em todas as regiões de estado e foi relator o projeto de lei que criou a Nota Fiscal Paulista. O Movimento Voto Consciente o considerou o parlamentar estadual mais atuante em 2010.

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Covas quase não atuou como deputado no segundo mandato, pois foi nomeado secretário estadual do Meio Ambiente em 2011 pelo então governador Geraldo Alckmin, cargo que ocupou até abril de 2014, quando se desincompatibilizou para disputar novamente uma eleição, desta vez para a Câmara Federal.

Foi eleito deputado federal com 352 mil votos. Na Câmara, ocupou a vice-liderança do PSDB, foi titular da Comissão de Constituição e Justiça, e, em março de 2016, integrou a comissão especial que analisou a denúncia de crime de responsabilidade contra a então presidente Dilma Rousseff, com base nas chamadas “pedaladas fiscais”. Votou a favor da denúncia na comissão e no plenário.

Chegou a ser pré-candidato à Prefeitura de São Paulo em 2012, mas abriu mão da candidatura em favor do correligionário José Serra, ex-ministro, ex-prefeito da capital, ex-governador do estado e, atualmente, senador. Serra perdeu a eleição de 2014 para o petista Fernando Haddad.

Covas voltou à carga em 2016, desta vez como candidato a vice-prefeito, ao lado de João Doria. Apadrinhado por Alckmin, Doria era neófito na política e no PSDB, com discurso, propostas e práticas mais agressivas e mais à direita, gerando reações negativas de parte do establishment do partido. Apontar Covas como vice, formando assim uma chapa “puro-sangue”, sem incluir legendas aliadas, foi uma forma de injetar DNA tucano na composição. Venceram a eleição no primeiro turno.

Na gestão de Doria à frente do município, Covas acumulou o cargo de vice-prefeito com o de secretario das Subprefeituras e depois com o de secretario da Casa Civil. Doria tinha ambições maiores do que a chefia do Executivo municipal, então abandonou a Prefeitura em 2018 para se candidatar a Governador de São Paulo, transformando o vice em titular.

Novo visual

Nesse período, Covas passou por uma transformação física significativa. Gordinho desde criança, perdeu bastante peso e passou a fazer exercícios físicos regulares. Com os cabelos rareando, raspou a cabeça e deixou a barba crescer. Abandonou o terno, passou a usar camisas sem gravata ou camiseta, calças jeans e sapatênis, ostentando um visual atlético e jovial.

Em reportagem publicada em 2020, a Folha de S.Paulo conta que Covas se mudou do Panamby, na zona sul de São Paulo, para um “apê de quarentão com filho adolescente” na Barra Funda, zona oeste, para ficar mais perto do Centro, quando foi eleito vice-prefeito.

Prefeito

Ao assumir a prefeitura, em abril de 2018, um dia antes de completar 38 anos, Covas se tornou o prefeito mais jovem de São Paulo desde a redemocratização. Ele levou novamente o sobrenome da família à chefia do Executivo Municipal.

Mário Covas, seu avô, foi prefeito de 1983 a 1986, nomeado pelo então governador André Franco Montoro, antes da retomada das eleições municipais diretas com o fim da ditadura militar. Vale lembrar que Montoro e Mário Covas eram opositores do regime. Em 1982, Montoro foi o primeiro governador de São Paulo eleito pelo voto direto desde o golpe de 1964.

Bruno Covas assumiu a Prefeitura ainda sob a sombra de Doria, dando continuidade a iniciativas do antecessor – algumas consideradas mais promocionais do que efetivas. Com o passar do tempo, porém, começou a imprimir características próprias à administração, adotando uma postura mais próxima dos ideais social democratas fundadores do PSDB.

Uma de suas apostas foi na zeladoria da cidade, cuja responsabilidade é da Secretaria das Subprefeituras, que ele havia ocupado. Recapeamento de vias, operação tapa buraco, reforma de calçadas, iluminação, poda de árvores, limpeza urbana e outros serviços foram escolhidos como vitrines. Ele trabalhou ativamente nesta seara, garantido recursos orçamentários e negociando financiamentos. O programa de privatizações, prioridade de Doria, no entanto, pouco avançou sob Covas.

Câncer

Em outubro de 2019, ao realizar exames médicos, Covas foi diagnosticado com câncer. Foi identificado um tumor na cárdia, uma válvula do sistema digestivo, entre o esôfago e estômago. O fígado também foi afetado e foram encontrados gânglios linfáticos aumentados ao redor do pâncreas. Desde então, o prefeito está sob tratamento, com altos e baixos. Passou por radioterapia, quimioterapia e imunoterapia. As lesões diminuíram, mas não desapareceram.

Quando a pandemia de Covid-19 eclodiu em 2020, Covas chegou a fixar residência na sede da Prefeitura, no Centro de São Paulo, para evitar deslocamentos. Mesmo assim, ele acabou contaminado pelo vírus, embora não tenha apresentado sintomas da doença.

Reeleição

O tratamento contra o câncer não o impediu de disputar a reeleição em 2020. Covas venceu Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno com 59,38% dos votos válidos, ou 3,1 milhões de votos.

Depois da vitória, fez críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro. “Restam poucos dias para o negacionismo e o obscurantismo. São Paulo disse sim à ciência e à moderação”, afirmou o prefeito, segundo o Estadão, em oposição ao comportamento do presidente frente à pandemia. Ele se disse “filho da democracia”. “É possível fazer política sem ódio, falando a verdade”, acrescentou.

Covas era descrito como um político discreto, calmo, que fala baixo, mas hábil na articulação política, tanto que costurou um arco de alianças com nove partidos, além do PSDB, para a eleição de 2020. É fã de rock, torcedor do Santos e admirador do tricampeão mundial de Fórmula 1, Ayrton Senna. Tem uma réplica do capacete do piloto paulistano em seu apartamento.

Na posse, em 1º de janeiro de 2021, Covas voltou a dizer que “o negacionismo está com os dias contados e que é necessário banir “o vírus do ódio”. “As urnas deram um recado de moderação muito claro”, destacou. Embora agora em voo solo, o prefeito seguiu alinhado ao governador Doria no discurso contra o negacionismo e no contraponto a Bolsonaro.

Tratamento difícil

Logo em janeiro, Covas tirou uma licença de dez dias para dar continuidade ao tratamento. Os médicos recomendaram repouso e cuidados pessoais após mais uma sessão de radioterapia. Ele acabou ampliando a licença por alguns dias e foi com o filho ao Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, assistir à final da Copa Libertadores da América entre Santos e Palmeiras. Alvo de críticas, respondeu: “Depois de tantas incertezas sobre a vida, a felicidade de levar o filho ao estádio tomou uma proporção diferente para mim”.

Desde então, a saúde do prefeito despertou cada vez mais preocupação. Em fevereiro, foi identificado um novo nódulo em seu fígado e, consequentemente, a retomada das sessões de quimioterapia. Outros tumores no fígado e também nos ossos foram descobertos em abril. Os médicos anunciaram ajustes no tratamento, com a reintrodução da imunoterapia.

Covas ficou internado por 12 dias em abril, no Hospital Sírio-Libanês. A internação durou mais do que previsto por causa de um acúmulo de líquido na pleura, uma membrana que reveste o pulmão, e no abdome. O líquido teve que ser drenado. O prefeito teve alta no dia 27.

Mas Covas voltaria a ser internado dias depois, em 2 de maio, após ser identificado um sangramento na cárdia. No mesmo dia, ele se licenciou da Prefeitura de São Paulo. No dia de 14 de maio, um boletim médico declarou que o quadro do prefeito era irreversível. Acompanhado de seus familiares, Bruno Covas morreu em 16 de maio, aos 41 anos.

O vice Ricardo Nunes (MDB) deve assumir o cargo de prefeito de São Paulo.

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