Com novo desgaste de Bolsonaro, risco de divisão da direita aumenta, dizem analistas

Em relatório, analistas da Arko Advice dizem que episódios recentes podem aumentar rejeição a Bolsonaro e levar aliados a rever estratégias

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro durante evento em Brasília (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O presidente Jair Bolsonaro durante evento em Brasília (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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O avanço das investigações no caso envolvendo as joias recebidas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) de representações de outros países, embora ainda demande maior apuração, aprofunda o nível de desgaste do principal nome da direita na política brasileira junto ao eleitorado. É o que avaliam os analistas políticos da consultoria Arko Advice.

Em relatório distribuído a clientes, eles pontuam que, embora a base bolsonarista mais fiel continue ao lado de seu líder, episódios como os observados na semana passada têm o potencial de aumentar a rejeição do ex-presidente junto ao eleitorado menos engajado.

Para eles, os acontecimentos também devem afetar diretamente o futuro da direita na cena política brasileira. Isso porque Bolsonaro, apesar de já declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), segue como o principal cabo eleitoral do grupo. Mas, com sua possível perda de capital político, outras forças do campo conservador poderão começar a rever cálculos.

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“No entanto, diante do agravamento de sua situação jurídica, líderes da direita com projetos políticos futuros, como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Júnior (PSD-PR), além da senadora Tereza Cristina (PP-MS), podem repensar essa associação automática, dividindo a direita”, avaliam os especialistas.

Leia também: Cerco a Bolsonaro se aprofunda com quebra de sigilo, depoimento de hacker e possível confissão de Mauro Cid; veja o que se sabe até agora

Os analistas acreditam que os acontecimentos recentes também podem beneficiar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dado o possível enfraquecimento de seu principal adversário político e uma chance maior de reposicionamento de siglas do “centrão”, como Progressistas e Republicanos, que já ensaiam uma aproximação com o Palácio do Planalto diante da promessa de uma reforma ministerial.

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A revista Veja revelou, na última quinta-feira (17), que o advogado Cezar Bittencourt, que defende o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, disse que seu cliente confessaria a venda de joias da Presidência da República nos Estados Unidos, mas que as ações teriam ocorrido a pedido do ex-presidente. Nos dias seguintes, contudo, o advogado mudou a versão e passou a dar declarações contraditórias sobre o caso. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF),  relator da ação, determinou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Bolsonaro e de sua esposa, a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro.

Na mesma semana, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, o hacker Walter Delgatti Netto disse que Bolsonaro teria lhe oferecido um indulto para que ele tentasse fraudar as urnas eletrônicas e colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral em 2022, além de assumir a autoria de um suposto grampo contra Alexandre de Moraes.

“Os fatos ocorridos na semana passada podem incentivar outros colaboradores de Bolsonaro, que também são alvo da Justiça, a fazer acordo de delação. Os episódios respingam nas Forças Armadas, que devem se afastar ainda mais do bolsonarismo”, observaram os analistas da Arko.

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Os especialistas também acreditam que o desgaste político pode levar a uma mudança de rota em seu próprio partido, o PL, cujo presidente, Valdemar Costa Neto, apostava no uso da imagem de Bolsonaro para aumentar o número de prefeitos eleitos de 346 em 2020 para mais de 1.000 no ano que vem.

“Embora a presença de Bolsonaro no PL ainda seja politicamente vantajosa para o partido, pois cerca de 20% do eleitorado continua fiel ao bolsonarismo, o projeto traçado por Valdemar em consolidar o PL como o maior partido de direita do país poderá ser frustrado”, avaliam.

“Ainda que os principais temas das agendas nas eleições municipais sejam locais, o desgaste de Bolsonaro poderá respingar nos candidatos a prefeito do PL sobretudo nas capitais e nas cidades médias, onde as repercussões políticas nacionais também exercem influência sobre o voto local dos eleitores”, prosseguem.

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O fato de o noticiário recente atingir Bolsonaro justamente na pauta da moral e da ética, dizem, pode aumentar o risco de desgaste para aliados no próximo pleito, dependendo dos acontecimentos futuros. Por outro lado, a conquista de uma ampla bancada no Congresso Nacional na atual legislatura deve ajudar a sigla a aumentar sua capilaridade nos municípios a partir de 2024.

“Com Jair Bolsonaro fragilizado, poderá crescer no PL o número de parlamentares dispostos a se
distanciar do ex-presidente. Caso isso ocorra, divisões internas poderão se formar, com deputados e senadores bolsonaristas repensando sua permanência no partido. E Valdemar da Costa Neto, na condição de presidente nacional da legenda, precisará se equilibrar entre esses dois grupos”, observam.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.