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Em depoimento à CPMI do 8 de Janeiro, o delegado da Polícia Civil do Distrito Federal Leonardo de Castro afirmou que os condenados por participar do malsucedido atentado a bomba próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília, em 24 de dezembro de 2022, também estavam envolvidos na tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em Brasília, em 12 de dezembro. O diretor de Combate à Corrupção e Crime Organizado e os peritos da Polícia Civil responsáveis pela elaboração do laudo sobre o atentado na véspera do Natal prestaram depoimento nesta quinta-feira (22) antes de George Washington de Oliveira Sousa, condenado por planejar a explosão de um caminhão-tanque. O delegado confirmou também a motivação política do atentado, a partir dos depoimentos dos envolvidos.
“De acordo com o que ele informou, ele veio para Brasília em novembro — se eu não me engano, no dia 12 de novembro —, segundo as suas colocações, para participar da manifestação contra o resultado das eleições”, afirmou Leonardo de Castro.
Diante dos depoimentos, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) observou que o ataque à PF no dia da diplomação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o atentado de dezembro de 2022 junto ao aeroporto de Brasília fizeram parte de uma sequencia de ações com objetivo de levar o país a uma situação de caos.
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“Esta CPI cumprirá o seu dever com a sociedade brasileira para revelar a verdade sobre os fatos graves ocorridos […]. No fundo dessas ações desastradas, mas […] também terroristas, há a ideia de gerar caos social e político generalizado, na expectativa de que alguém de plantão pudesse recorrer a medidas excepcionais, como o estado de sítio ou a garantia da lei e da ordem (GLO), com agressões diretas a instituições e aos Poderes da República, notadamente da Justiça”, disse Eliziane.
O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), em entrevista à TV Senado (vídeo abaixo), chamou George Washington de “terrorista incompetente” e se disse chocado ao imaginar que, por motivo político, pelo fato de o candidato à Presidência da República, recorrer a uma bomba que pudesse causar a morte de muitas pessoas a cerca de 10 quilômetros do Congresso Nacional.
Prisão
O delegado Leonardo de Castro assumiu as investigações a partir do dia 26 de dezembro de 2022. Segundo ele, George Washington de Oliveira, responsável por planejar o atentado e montar o artefato foi preso em fragrante ainda no dia 24. A partir do depoimento prestado e de provas materiais, foi possível identificar os demais envolvidos no crime: Alan Diego, que foi condenado e preso, e Wellington Macedo, ainda foragido e procurado pela Interpol.
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“A conexão que existe […] é o fato de que os três indivíduos envolvidos no dia 24 [dezembro] também estavam no dia 12 [dezembro]”, disse o delegado, ao responder à relatora.
Já os peritos Renato Carrijo e Valdir Pires Filho, responsáveis pelos laudos dos explosivos, confirmaram que o artefato poderia ter causado uma explosão com trágicas consequência letais num raio de até 300 metros de onde estava localizado o caminhão-tanque com mais de 60 mil litros de combustível em uma via de acesso do Aeroporto Internacional de Brasília. Segundo eles, o material explosivo foi acionado, mas não chegou a disparar em razão de uma falha no dispositivo de acionamento à distância.
Explosivos
Ainda de acordo com os peritos, os elementos encontrados no material são os mesmos identificados em explosivos industriais utilizados normalmente em pedreiras para rompimento de rochas na construção civil e abertura de túneis. Eles informaram que esse tipo de explosivo é de uso restrito, sob controle e fiscalização do Exército e que no material encontrado não havia as identificações de série. Fabricantes e importadores desse tipo de explosivo devem marcar unitariamente os explosivos com Identificação Individual Seriada (IIS).
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“Os produtos como as emulsões utilizadas em pedreiras ela são controladas pelo Exército e são distribuídas apenas, se eu não tiver muito enganado, para CNPJs. Então para empresas que trabalham diretamente com o fim do uso de explosivos. Não é um indivíduo qualquer que pode chegar num local e adquiri esse tipo de explosivo”, disse Renato Carrijo.
Ainda conforme os depoimentos, no dia 25 foram encontrados cerca de 30 quilos de explosivos na cidade do Gama, localidade próxima a Brasília. Mas de acordo com perícia, só que só que “a característica desses explosivos que estavam lá não batiam muito com os explosivos” encontrados nas imediações do aeroporto.
Financiadores
Um dos questionamentos levantados pela relatora e por integrantes da base governista foi em relação ao arsenal bélico encontrado no apartamento em que George Washington foi preso, na unidade administrativa do Sudoeste, que fica próximo à Esplanada dos Ministérios e ao Quartel General do Exército no Setor Militar Urbano (SMU).
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Ele, que é morador do Pará, foi preso em flagrante, pela Polícia Civil, com armamentos e munições avaliados em cerca de R$ 160 mil. Além disso, foi apreendida uma camionete com outros materiais explosivos. Para a relatora, o valor referente aos materiais encontrados em poder de George Washington não está correspondente a renda do gerente de posto de combustível. Ele defendeu a quebra dos sigilos bancários e fiscais do condenado para que sejam identificados os eventuais financiadores.
“Digo isso em relação a um ponto específico: o volume financeiro, ou seja, o que ele recebia de investimento mensal, do fruto do seu trabalho, chego a dizer que era algo em torno de R$ 5 mil, mas o armamento dele era algo em torno de quase R$ 200 mil. Então, parece-me que não há uma compatibilidade entre a renda dele e a aquisição desse volume, de fato, de armamento”, disse.
Leonardo de Castro explicou que foi aberto um novo inquérito para investigar os possíveis atores que possam estar ligados ao financiamento e eventual colaboração da tentativa de explosão à bomba, como na colaboração para a aquisição dos explosivos. No entanto, informou que não poderia passar mais detalhes já que o processo está em curso e em segredo de justiça.
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“Nós chegamos a alguns suspeitos com base na análise dos aparelhos de celular do George Washington, porém eu não posso dar mais detalhes porque esse inquérito está em sigilo judicial, e eu não tenho a possibilidade de passar essas informações. Quanto à questão do sigilo bancário, isso está sendo investigado nesse inquérito. Ainda não foi solicitada a quebra de sigilo bancário, foram detectadas algumas movimentações financeiras através de informações coletadas no aparelho celular do George Washington”, detalhou o delegado.
QG do Exército
Em vários momentos da inquirição, integrantes da base governista recorreram ao depoimento de George Washington, que consta nos autos do inquérito, para questionar o delegado sobre uma possível conexão entre a sequência de ataques no final de 2022, o acampamento em frente ao QG do Exército e o ataque aos Palácios dos Três Poderes no dia 8 de Janeiro.
No entanto, apesar de confirmar que depoimentos e provas certificam que George Washington, Alan Diego e Wellington Macedo tenham frequentado o acampamento bolsonarista à frente do QG, o delegado disse que não teria como afirmar que o planejamento tenha se dado a partir de reuniões naquele local.
Arsenal
Como Colecionador, Atirador e Caçador (CAC), George Washington tinha registros de todos os armamentos. No entanto, não tinha permissão para transportá-los até Brasília. Ainda segundo Leonardo de Castro, trocas de mensagens e o próprio depoimento de George Washington indicavam que ele buscava instrução para a utilização daquelas armas com um instrutor de tiro. No entanto, não houve comprovação de que essa instrução tenha acontecido.
Com base no relato, a relatora quis saber se alguma mensagem indicava o envolvimento de alguma integrante das Forças Armadas. Mas o delegado negou qualquer ligação.
“Até o momento não chegamos a nenhum militar”, respondeu o delegado.
Vídeo
Logo após a apresentação inicial dos depoentes, o deputado Rogério Correia (PT-MG) veiculou um vídeo com reportagem pela qual George Washington e Alan Diego chegaram a participar de audiência pública no Senado, no dia 30 de novembro de 2022. Requerida pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), a audiência questionava a segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral. As imagens exibidas também mostraram os envolvidos durante a audiência em alguns momentos ao lado do senador Magno Malta (PL-ES). Além disso, o vídeo mencionou que Wellington Macedo trabalhou como assessor da então ministra dos Direitos Humanos e hoje senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
Girão e Magno Malta criticaram a tentativa de ligá-los aos envolvidos e pediram a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos condenados, para que sejam identificados os eventuais financiadores.
“Não nego foto a ninguém, mas eu acabo de assinar o pedido que esta CPI pode, embora o outro esteja sob sigilo, o da investigação da polícia, o sigilo do senhor Alan, o sigilo telefônico, telemático, assinado por mim, e do senhor George Washington, para nós sabermos com quem essa gente falou, quem essa gente conhece, quem orientou. Porque, da minha parte, na reunião, o senador Girão tem os convidados que se assentaram à mesa e tirei foto com todo mundo que estava aqui. Assim como acontece quando saio da reunião com os transeuntes que estão nos corredores. […] Peço a quebra do sigilo deles para saber com quem eles falaram, quem os orientou, quem deu dinheiro para eles, para que não fique essa narrativa”, pediu Magno Malta, igualmente defendendo a senadora Damares Alves.
Damares, por sua vez, elogiou o trabalho da Polícia Civil do Distrito Federal — “a melhor do Brasil e do mundo” — e disse ter sido, em 2018, alvo de um suposto atentado, em Brazilândia, no Entorno do DF.
“No episódio da bomba de 2018, aquele artefato que foi encontrado em Brazlândia, não era só Bolsonaro o alvo. Era Damares também. A imprensa divulgou muito isso. No dia 29 de dezembro, senhores, eu fui tirada da minha casa e fui trancada em um hotel em Brasília por muito tempo. Se vocês pegarem a imagem da minha posse como ministra, a primeira ministra da Família do Brasil, a minha filha não estava na minha posse. A minha filha foi tirada de Brasília, porque havia uma ameaça concreta contra a minha vida, a vida do presidente Bolsonaro”, disse a senadora.
Os senadores Marcos Rogério (PL-RO) e Jorge Seif (PL-SC) questionaram os depoentes se durante os inquéritos e, nos autos, houve qualquer indício ou prova materializada ligando os condenados pelo atentado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo Leonardo de Castro, as investigações não identificaram nenhum elo dos envolvidos com o ex-presidente.