Debate presidencial: Quais foram os principais pontos fortes e fracos dos candidatos?

Para avaliar as estratégias e o desempenho dos candidatos, o InfoMoney consultou alguns dos analistas políticos mais ouvidos pelo mercado

Marcos Mortari

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O debate presidencial realizado, no último domingo (28), pelos veículos Folha de S. Paulo, UOL, Bandeirantes e Cultura trouxe a primeira oportunidade aos eleitores de ver os principais candidatos ao Palácio do Planalto frente a frente para debater propostas, discutir teses e apresentar suas experiências.

No encontro, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ambos protagonistas da polarização com cerca de 80% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais, foram os principais alvos.

Os chamados “franco-atiradores” aproveitaram a oportunidade para se apresentar aos eleitores e expor ideias para o país, em um debate marcado por pautas relacionadas às mulheres, à corrupção e à economia.

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Apesar do desempenho favorável dos “não-polarizados”, analistas políticos consultados pelo InfoMoney não acreditam que o quadro geral da disputa sofrerá grandes alterações com o debate. Para eles, o cenário só reforça a tendência de Lula e Bolsonaro se enfrentarem no segundo turno.

Mas eles destacam as virtudes e fraquezas dos principais postulantes ao Palácio do Planalto reveladas no debate. Veja a seguir:

Jair Bolsonaro (PL)
Avaliações gerais: “Como esperado, o incumbente ficou na posição de vidraça. Mesmo em perguntas que não eram direcionadas à ele, houve críticas às suas posições e a políticas do governo. (…) No segundo bloco, subiu o tom nos comentários contrários a Lula e ao PT e, posteriormente, atacou a jornalista Vera Magalhães. São movimentos que podem cair bem em sua base de apoio já existente e reforçar a apresentação como de outsider ou de quem ‘fala o que pensa’. No entanto, essas posturas não devem agregar votos”, observa Mario Braga, analista político da consultoria Control Risks.

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“Bolsonaro, que estava indo bem, se perdeu quando criou celeuma com as mulheres. Por conta própria, entrou em um terreno que lhe é muito desfavorável. Como um dos objetivos da campanha é ampliar voto entre as mulheres, o debate acabou sendo ruim para ele. No final, voltou a falar para o seu público”, avalia Ricardo Ribeiro, analista político da Ponteio Política.

Pontos fortes: Trouxe a discussão sobre corrupção para posição relevante do debate e em situação desfavorável a Lula, seu principal adversário. Manteve em seu discurso elementos que mobilizam sua base e reforçam o sentimento antipetista. Emplacou pontos mais favoráveis da agenda econômica, como o Auxílio Brasil de R$ 600,00 e a redução dos preços dos combustíveis.

Pontos fracos: Postura agressiva com jornalista e candidata adversária, o que pode distanciá-lo mais do eleitorado feminino. Múltiplos confrontos com outros candidatos. Dificuldades em articular respostas convincentes em relação à pandemia de Covid-19.

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Avaliações gerais: “Pareceu ter levado um nocaute de Bolsonaro [no início do debate]. Não conseguiu avançar, não deu boas respostas a respeito do tema da corrupção”, diz Júnia Gama, analista política da XP Investimentos, em edição especial do podcast Frequência Política.

“Em termos de desempenho, Lula não teve um bom dia, estava um pouco apagado e confuso”, observa Ricardo Ribeiro, da Ponteio Política.

“Lula insistiu que escândalos de corrupção só foram descobertos porque ele deu poderes à Polícia Federal e a instituições fiscalizadoras. Mas em comparação com sua entrevista ao Jornal Nacional, ele estava confuso e claramente na defensiva. Na verdade, durante todo o debate, Lula soou muito cauteloso e um pouco confuso. Seu único ponto positivo aconteceu quando ele disse a [Soraia] Thronicke que pessoas pobres ‘como sua empregada e seu jardineiro’ perceberam como a vida melhorou durante sua gestão”, afirmam os analistas da Eurasia Group em relatório.

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Pontos fortes: Em alguns momentos, deu ênfase ao legado de seu governo em políticas sociais, conectando-se ao eleitorado mais pobre, e defendeu conquistas econômicas. Elencou fragilidades de Bolsonaro no campo da corrupção, embora tardiamente. Costurou politicamente com adversários, acenando para Ciro Gomes e Simone Tebet de olho em apoio em um possível segundo turno.

Pontos fracos: Apático durante boa parte do evento, não conseguiu responder à altura de acusações de corrupção em seu governo − ponto de maior fragilidade de sua candidatura. Teve postura de coadjuvante no debate e foi um dos principais alvos dos adversários.

Simone Tebet (MDB)
Avaliações gerais: “Candidatos alternativos exploraram a noite ruim de Lula e Bolsonaro para se destacarem. Simone Tebet ofuscou seus pares com uma entrega sólida, especialmente ao final. (…) O debate não será um divisor de águas (…). Mas o primeiro debate pode dar algum impulso a Tebet”, avaliam os especialistas da Eurasia Group.

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“Destaque pra candidata Simone Tebet, que atacou Bolsonaro em temas como conflito institucional, pandemia, corrupção no MEC e incentivos a fake news”, pontua Mário Braga, da Control Risks.

Pontos fortes: Apresentou-se ao eleitorado como alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro. Ganhou destaque com o protagonismo da pauta feminina no debate, além de temas relacionados à pandemia de Covid-19 e a apuração de irregularidades cometidas durante o combate à crise sanitária pela CPI da Pandemia no Senado Federal.

Pontos fracos: Do lado das propostas apresentadas, a falta de detalhes sobre execução de algumas medidas gerou uma percepção de inviabilidade entre eleitores. Isso ocorreu logo no primeiro bloco, com a promessa de criação do programa Poupança Jovem, que garantiria renda anual aos jovens estudantes de ensino técnico profissionalizante e R$ 5.000,00 na conta após a formação do curso.

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Ciro Gomes (PDT)
Avaliações geral: “Ciro Gomes também teve bons momentos, mas, como é mais conhecido que Simone Tebet, provavelmente ganhou menos”, dizem os analistas da Eurasia Group.

“Simone e Ciro tiveram um ótimo desempenho. Só que eles não têm muita viabilidade para quebrar essa polarização entre Lula e Bolsonaro”, pontua Júnia Gama, da XP, no podcast Frequência Política.

Pontos fortes: Interferências articuladas, sem rompantes, e com críticas sustentadas aos dois candidatos da polarização. A oratória normalmente é apontada por eleitores em grupos focais um atributo de Ciro Gomes em debates políticos.

Pontos fracos: Dificuldade em ser percebido pelo eleitorado como alternativa viável na chamada “terceira via”. A concentração de ataques em Lula também é vista como movimento contraditório em uma candidatura cujo eleitorado está majoritariamente associado à esquerda e tem, em sua maioria, como segunda opção de voto a própria candidatura petista.

Soraya Thronicke (União Brasil)
Pontos fortes: Também avançou com o ganho de importância da agenda feminina no debate, ocupando espaços estratégicos de enfrentamento a Bolsonaro. Aproveitou a oportunidade para se apresentar ao eleitorado.

Pontos fracos: Estreante em debates presidenciais, demonstrou nervosismo em diversos momentos e dificuldades em desenvolver ideias com maior clareza. A proposta de reforma tributária baseada na unificação de impostos federais desenhada por seu vice, o economista Marcos Cintra (União Brasil), é amplamente contestada entre especialistas e agentes econômicos.

Felipe D’Avila (Novo)
Pontos fortes: Aproveitou o espaço para apresentar ideias e propostas, surfando na onda de uma agenda liberal na economia, com menor participação do Estado e estímulo à iniciativa privada.

Pontos fracos: Teve dificuldades em se destacar entre os demais candidatos, tendo em vista as pautas que ganharam destaque no debate. Por vezes, pareceu muito repetitivo nas ideias defendidas em perguntas diversas.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.