É enganoso pensar em melhoras para o Brasil se Hillary for eleita, diz economista

"Na realidade, ainda há um longo percurso duro e difícil a ser percorrido e cumprido pelo país que imporá situação pior à população do que a atual", afirma Sidnei Nehme, diretor da NGO

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Ibovespa acumula ganhos de cerca de 5% em dois pregões e o dólar voltou a negociar abaixo dos R$ 3,20, com o mercado registrando um forte alívio por um motivo especial: a expectativa de que Hillary Clinton ganhe as eleições americanas. 

Nas duas últimas semanas, o mercado só pensou nisso, principalmente após o FBI reabrir no final de outubro as investigações contra a candidata democrata pelo caso dos e-mails, o que levou à forte volatilidade do mercado. A disputa entre Hillary e o republicano Donald Trump – este último não é visto com bons olhos pelos investidores por conta de suas políticas protecionistas e pela forte incerteza que uma eleição dele desencadearia – levou a um sentimento de aversão ao risco. Ele diminuiu fortemente nesta semana, com pesquisas mostrando Hillary com uma pequena vantagem sobre Trump e principalmente após o FBI afirmar que não indiciaria a democrata. 

Apesar do otimismo, há quem esteja bastante cético sobre um efeito de Hillary presidente, o que é o caso do economista e diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Moura Nehme.

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“Por que esperar melhoras aqui ou ali se Hillary for eleita? Efeito meramente psicológico do momento global, mas muito enganoso para o Brasil, pois não há fundamentos. Evidentemente atenua os efeitos, que seriam imediatos, no caso de Donald Trump alcançar o poder. Mas, na realidade, ainda há um longo percurso duro e difícil a ser percorrido e cumprido pelo país que imporá situação pior à população do que a atual”, afirma o economista.

Segundo Nehme, a situação da atividade econômica brasileira e sua política fiscal dependem muito mais do próprio Brasil. Isto passa, de acordo com ele, pela correção dos excessos não considerados como a existência de forte recessão de difícil reversão e a prática de preço da moeda americana incompatível. 

Para ele, o Brasil vive um momento de realidades, uma vez que a economia não consegue retomar o ritmo e “patina” na recessão e não consegue retomar o ritmo. “Há certo euforismo com discursos esperançosos sobre as perspectivas a partir dos novos governantes, mas as projeções para o PIB são tão ruins quanto eram mantendo as de decréscimo da atividade industrial”, afirma Nehme. Além disso, os gastos continuam excessivamente elevados e descumprindo os objetivos, afirma ele. 

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Traçando um cenário pessimista, o diretor da NGO aponta que a condução da inflação para o centro da meta é o troféu a ser conquistado pelo Banco Central e pelo governo. Contudo, isso independe da Selic, diz ele, uma vez que a recessão executa melhor esta tarefa, “parecendo um bem, mas na verdade gerando mais desemprego, perda de renda e queda no consumo como aconteceu no varejo mês passado”, afirma.

Além disso, o economista aponta ainda que há uma intervenção sutil no mercado, que mantém o real valorizado e que gera um custo bastante elevado na economia. “Ademais, devemos considerar que o Brasil não reúne no momento condições que o tornem atrativo a investimentos produtivos, o sendo para o capital especulativo e o fluxo financeiro ainda contou com recursos repatriados”, afirma Nehme.

Para ele, se imaginar o país se recuperando economicamente é inquestionável que o preço do dólar será maior. Porém, no momento, não há fundamentos sólidos que justifiquem o atual patamar. Assim, destaca ele, ainda há um longo caminho a ser percorrido para o Brasil – e que vai muito além do cenário americano. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.