Em depoimento à CPI da Covid, Nise Yamaguchi nega tentativa de mudança de bula da cloroquina

As afirmações da médica divergem de dois depoimentos já prestados à CPI: de Luiz Henrique Mandetta e de Antonio Barra Torres

Reuters

A médica Nise Yamaguchi presta depoimento em comissão no Senado Federal (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
A médica Nise Yamaguchi presta depoimento em comissão no Senado Federal (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Publicidade

BRASÍLIA – A médica Nise Yamaguchi negou nesta terça-feira à CPI da Covid no Senado que tenha havido uma minuta de decreto para mudar a bula da cloroquina para incluir o medicamento no tratamento contra a doença.

As afirmações da médica divergem de dois depoimentos já prestados à CPI: o do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.

“Eu não minutei nenhuma mudança de bula”, disse a médica ao relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Renan Calheiros (MDB-AL).

Continua depois da publicidade

“Não houve nenhuma tentativa de decreto de mudança de bula nessa ocasião”, sustentou.

Segundo ela, na reunião relatada por Mandetta e Barra Torres, o que ocorreu foi uma discussão sobre um rascunho de instrumento legal para a disponibilização do medicamento.

À CPI, Mandetta contou ter participado de reunião no Palácio do Planalto onde foi avaliada a possível mudança na bula. Na ocasião, relatou ter visto esboço do decreto para incluir na bula da cloroquina, medicamento para malária e doenças autoimunes, a indicação para tratamento contra Covid-19.

Continua depois da publicidade

Segundo ele, Barra Torres afirmou de maneira incisiva que a mudança não poderia ocorrer e em seguida auxiliares de Bolsonaro afirmaram que tratava-se apenas de uma “sugestão”.

Depois, também em depoimento à CPI, Barra Torres confirmou a reunião e acrescentou que teria reagido de forma pouco cortês à iniciativa.

Diante das reiteradas negativas de Yamaguchi nesta terça-feira, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que “o certo é a gente fazer uma acareação” para confrontar as declarações da médica.

Continua depois da publicidade

Yamaguchi aproveitou para negar que tenha participado de um gabinete paralelo, explicou que se reuniu quatro ou cinco vezes com o presidente Jair Bolsonaro –mas nunca individualmente– e disse que tem exercido o papel de “colaboradora eventual de qualquer governo que precisar”.

A médica admitiu conversas com a área técnica do Ministério da Saúde sobre o uso da cloroquina, principalmente sobre dosagens, ainda que não haja eficácia comprovada do medicamento contra a doença.

No depoimento desta terça, Yamaguchi disse ser contra uma vacinação “aleatória” da população e reforçou a defesa do que chama de tratamento precoce. E, após tumulto na CPI, que chegou a ser interrompida por alguns minutos, afirmou que o “tratamento precoce não compete com o preventivo da doença”.