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SÃO PAULO – Em matéria publicada no último sábado, o jornal britânico Financial Times trouxe uma entrevista com o presidenciável Jair Bolsonaro e destacou as suas controvérsias (que o tornam um personagem bastante emblemático para o pleito de 2018).
O jornal britânico lembra, no início da reportagem, que Bolsonaro dedicou o seu voto a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de torturar ativistas de esquerda durante a ditadura militar. Tal declaração causou arrepios em muitos, aponta a publicação, que temem uma “volta aos dias sombrios”, pois ele “invoca passado brutal”.
Em entrevista ao Financial Times, Bolsonaro afirmou que o coronel foi “um herói”, complementando: “se eu for presidente, ele terá um busto no palácio”. O deputado apontou ainda que não houve ditadura no Brasil: “as pessoas tinham liberdade para ir e vir, ir para a Disneylândia, voltar sem problemas. A ditadura era para os bandidos, os vagabundos, então a lei era difícil para eles”.
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Justamente este louvor por uma figura tão controversa alarma aqueles que temem a eleição do político como presidente, avalia a publicação britânica. O FT, mais uma vez, aponta o político como uma mistura do presidente dos EUA Donald Trump e do Rodrigo Duterte das Filipinas e traz a visão de alguns opositores a ele, que o veem como perigoso dadas as suas posições.
O nome de Bolsonaro, que antes era visto como uma piada para muitos, ganhou forças em meio à fraqueza da economia, aumento da violência e a corrupção contaminando a política brasileira. “Ele é uma voz extrema gritando que é a solução para os problemas do Brasil, preenchendo o vazio deixado por políticos mais tradicionais”, diz ao jornal Maurício Santoro, cientista político da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que ressalta que “Bolsonaro já se tornou um político muito importante”.
Bolsonaro nega a pecha populista, apesar de estar envolvido em debate sobre uma série de questões políticas polêmicas, incluindo o fim do controle de armas no Brasil. Além disso, ele afirma apoiar o livre mercado, mas é crítico da recente onda de investimentos chineses no Brasil. “China está comprando o Brasil, não comprando no Brasil”, afirma ele, que tem como suporte na sua equipe o conselheiro econômico Adolfo Sachsida.
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Enquanto Bolsonaro busca a adoção de uma pauta com maior liberdade econômica, mas mais conservadora nos valores, o Financial Times ressalta a avaliação da economista e professora da USP Laura Carvalho de que o liberalismo do deputado pode se assemelhar ao do chileno Augusto Pinochet, “com estado máximo quando o assunto é repressão e estado mínimo quando o assunto é economia”.
Já Roberto Simon, head para América Latina da FTI Consulting, aponta que Bolsonaro enfrenta uma dura batalha para a sua vitória, já que o seu partido político (provavelmente o Patriota) não conta com a máquina política necessária para assegurar vitória e exposição na mídia tradicional, enquanto candidatos menos controversos estão emergindo.
De qualquer forma, muitos estão temerosos com a possível eleição de Bolsonaro, temor esse rechaçado pelo presidenciável. “Já fui chamado Hitler, não sei o que mais”, diz ele. “Eu sou uma pessoa normal, os outros não são normais. . . sou soldado do Brasil”, afirmou ao jornal. Vale destacar que, em setembro, o FT apontou o deputado como o mais provável sucessor de Michel Temer e ressaltou que as reformas econômicas poderiam estar em risco.
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Entre Pinochet, Duterte e Trump, Bolsonaro ainda parece ser uma figura a ser decifrada pelos analistas políticos e publicações internacionais, que ainda resistem às indicações liberais do presidenciável. A The Economist, por exemplo, descartou em matéria da última edição que Bolsonaro possa ser o Trump brasileiro por não acreditar que ele vença as eleições, afirmando ainda que o deputado “não é o Messias e sim só um garoto travesso”, em referência ao grupo britânico de humor Monty Python. A revista aponta ainda que a sua retórica é “ainda mais indecorosa” do que a de Donald Trump, que ele procura emular.