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SÃO PAULO – A morte do candidato à presidência pelo PSB Eduardo Campos levou a uma série de homenagens e uma grande repercussão internacional. O blog do Financial Times para os mercados emergentes Beyond Brics relembrou um dos momentos de Campos, quando ele fez uma visita à redação do jornal, em Londres, no final do ano passado.
“Ele se encontrou com o editor e uma dúzia de outros jornalistas e deixou uma impressão de que é um homem que tinha uma visão clara dos desafios que o Brasil enfrenta. A esse respeito, ele era uma raridade entre os políticos brasileiros. Ele fará muita falta”, ressalta o blog.
O FT destaca o começo da entrevista: “Campos parecia estar declamando falas habituais sobre a necessidade de reformar as instituições e um novo ciclo de desenvolvimento sustentável. Mas, então, ele começou a surpreender”.
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O Brasil, segundo ele, tinha muito potencial, mas não focava no longo prazo e nem em um caminho para uma sociedade mais justa. E, para ele, qual é o caminho para a justiça social? Reformas: tributárias, do bem-estar, da burocracia, da política e da governança.
“As reformas existem, mas apenas para aqueles [setores de atividade] mais próximos ao governo. Elas precisam ser horizontais. Precisamos de uma reforma de bem-estar para construir a economia e investir em infraestrutura. Nós temos que dizer aos jovens que entram no mercado de trabalho que as suas perspectivas só vão ser boas se nós quebrarmos estes privilégios agora”.
O Brasil, segundo ele, tinha visto três ciclos políticos em três décadas. O primeiro, a partir de meados dos anos 1980, consistia da redemocratização após a ditadura militar, liderada pelo PMDB. Mas o partido tinha perdido contato com as pessoas. O segundo, a partir de meados dos anos 1990, liderada por Fernando Henrique Cardoso e o PSDB, tinha entregue a estabilidade e o crescimento. O terceiro, na primeira década de 2000, foi iniciado com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, compreendendo a necessidade de prosseguir reformas. Mas o governo distanciou-se dessa posição.
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“Precisamos nos concentrar na produtividade e na educação. O consumo já entregou tudo o que ele pode. O fato é que as atitudes [no governo] mudaram. Devíamos ter feito mais reformas para conduzir o crescimento”, afirmou
Os protestos de rua de 2013 também foram um fenômeno: “o povo quer um governo que trabalhe, que proporcione um serviço de saúde funcionando e que ofereça crescimento. E nós não vamos conseguir isso sem a aplicação dos valores e ferramentas utilizadas por grandes empresas – planejamento estratégico, remuneração variável, recrutamento profissional. Este é apenas o senso comum para quem quer avançar”. “Isso já faz parte do nosso discurso. Mas você não pode dizer tudo de uma vez. Vamos afirmar tudo isso, peça por peça, durante a campanha eleitoral. “
Conforme aponta o FT, Campos nunca teve essa chance. “A campanha para a eleição de outubro começa na próxima terça, 19 de agosto, menos de uma semana depois de sua morte. O Brasil sofreu uma grande perda”.
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Em outra reportagem, o jornal destacou que o Brasil está abalado pelo morte do presidenciável, levando apenas dez minutos para mudar o curso da política brasileira. “Às 09h50 (horário de Brasília), o jato privado de Campos tentou pousar em Santos durante o mau tempo. Às 10h, o avião estava em pedaços, o astro político em ascensão estava morto e quaisquer previsões sobre as eleições eram controvertidas em um pouco mais de 50 dias podem determinar o futuro da e uma das maiores economias emergentes do mundo.
E, destaca a matéria, o cenário eleitoral passa a ser um enigma, assim como a candidatura de Marina Silva no lugar de Campos, ressalta, dados os seus conflitos dentro do PSB.