Governo e oposição criticam versão de Lawand sobre mensagens para Mauro Cid

A relatora, senadora Eliziane Gama, chegou a propor que o coronel falasse reservadamente aos integrantes da CPMI, mas ele negou

Agência Senado

Brasília (DF) 27/06/2023 Ex-subchefe do Estado Maior do Exército coronel Jean Lawand Júnior depondo na  CPMI do 8 de Janeiro. Foto Lula Marques/ Agência Brasil.
Brasília (DF) 27/06/2023 Ex-subchefe do Estado Maior do Exército coronel Jean Lawand Júnior depondo na CPMI do 8 de Janeiro. Foto Lula Marques/ Agência Brasil.

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Parlamentares governistas e da oposição apontaram incoerências na versão apresentada pelo coronel do Exército Jean Lawand Junior sobre mensagens trocadas em dezembro passado com o ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Em depoimento à CPMI do 8 de janeiro, Lawand disse que os diálogos não foram um estímulo a um golpe de Estado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Diante disso, a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou que a linha de defesa de Lawand “tratou os parlamentares como crianças”, e chegou a propor que o coronel falasse reservadamente aos integrantes da CPMI. Ele negou, mas passou a requerer mais vezes o direito de permanecer calado.

Para o deputado Duarte (PSB-MA), um dos autores do requerimento de convocação do coronel, o depoente mentiu à comissão parlamentar mista de inquérito. Amparado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), Jean Lawand Junior não respondeu a questionamentos do parlamentar sobre um diálogo com Mauro Cid. Na ocasião, o coronel se disse decepcionado com então presidente Jair Bolsonaro. “Soube agora que não vai sair nada. Decepção, irmão. Entregamos o país aos bandidos”, escreveu Lawand em 21 de dezembro de 2022.

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“Seu silêncio é covarde. O senhor está protegendo os ‘tubarões’. O senhor é um coronel. Não tenha medo. Inocentes podem estar respondendo por algo que foi o alto escalão. Aqueles que estavam buscando atentar contra a democracia e tentar trazer a ditadura de volta. Eu não esperava isso de um coronel do Exército Brasileiro”, afirmou Duarte.

O depoente também ficou calado ante perguntas dos senadores Soraya Thronicke (União-MS) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). A parlamentar sul-mato-grossense questionou o militar sobre uma mensagem em que Jean Lawand Junior escreve para Mauro Cid: “Convence ele (Jair Bolsonaro) a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder”.

“O senhor disse que ficou decepcionado. Com quem? Vocês usaram o povo brasileiro, e é bom que o povo brasileiro acorde e pare de idolatrar ídolos. Pois serão abandonados igual ao senhor”, afirmou Soraya Thronicke.

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Ao senador Veneziano Vita do Rêgo, o militar recusou-se a responder se o então presidente Jair Bolsonaro desejava promover um golpe de Estado.

“O senhor Jean Lawand Junior não está deixando de produzir provas contra si. Ele está mentindo. Ele não deixou senão de mentir. O senhor vai sair daqui livremente, mas de uma forma vexaminosa para todos. Uma pessoa que vergonhosamente se acovardou de dizer o que estava pensando, o que estava urdindo. Essa é uma defesa insustentável de se fazer”, afirmou.

“Tresloucada tentativa”

Parlamentares aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro também questionaram o depoimento de Jean Lawand Junior. Para o deputado Aluísio Mendes (Republicanos-MA), as mensagens trocadas com o ajudante de ordens demonstram uma “tresloucada tentativa” do coronel, que não teria contado com o aval do ex-presidente da República.

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“Por mais que eu queira acreditar na sua versão das mensagens, é muito difícil. O senhor enterrou sua carreira militar. Suas mensagens são de uma irresponsabilidade muito grande. Fica claro que sua tentativa não teve eco, nem aceitação do presidente Bolsonaro. Em nenhum momento se identifica qualquer sinalização dele com o desejo do senhor de que as Forças Armadas agissem contra o resultado as eleições”, disse Aluísio Mendes.

O senador Marcos Rogério (PL-RO) reforçou o argumento. Sem fazer perguntas a Jean Lawand Junior, o parlamentar afirmou que a versão do coronel “não para de pé”.

“Não sei quem lhe orientou, mas o senhor não convence ninguém. O senhor apequena sua história, atrofia o sucesso da sua carreira e tenta impor uma narrativa que não para de pé ao menor esforço. Não há e não houve nenhuma trama golpista. Temos que separar o joio do trigo: quem cometeu crime e quem não cometeu. Mais inteligente seria ter usado o direito de permanecer em silêncio ou ter a grandeza de dizer que errou”, afirmou.

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O senador Sérgio Moro (União-PR) disse que as mensagens enviadas a Mauro Cid por Jean Lawand Junior são “lamentáveis e reprováveis”. Mas avaliou que os diálogos não seriam suficientes para configurar uma tentativa de golpe.

“Também não estou convencido de suas explicações sobre as mensagens. Mas minha questão é se podemos relacionar essas mensagens a condutas, como a tentativa de atentado a bomba, a invasão ao prédio da Polícia Federal e os atos de 8 de janeiro”, disse Moro.

“Estratégia suicida”

Relatora da CPMI, Eliziane Gama classificou de “suicida” a estratégia de defesa adotada pelo coronel Jean Lawand Junior. Ela propôs ao depoente a realização de uma reunião secreta, com a presença apenas de senadores e deputados.

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“Sua estratégia de defesa, não é exagero dizer, é uma estratégia suicida. Nem a base de sustentação do governo nem a base que dá apoio ao ex-presidente Bolsonaro recebeu suas informações como verdadeiras. A gente percebe que o senhor está sozinho neste embate, nesta caminhada. O senhor aceita ter uma conversa reservada e dar uma contribuição melhor aos trabalhos desta comissão?”, questionou a senadora.

O militar rejeitou a oferta.