Haddad: Não temos o direito de crescer menos do que a média mundial

Em evento, ministro fala em janela de oportunidade geopolítica e ambiental para o Brasil, a despeito de conjuntura internacional desafiadora

Marcos Mortari

O ministro da Fazenda Fernando Haddad em entrevista coletiva (Diogo Zacarias)
O ministro da Fazenda Fernando Haddad em entrevista coletiva (Diogo Zacarias)

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou, nesta quarta-feira (13), que o Brasil tem plenas condições de iniciar um ciclo de crescimento superior à média mundial, calcado nas medidas de equilíbrio fiscal, na reforma tributária em discussão no Congresso Nacional e em condições geopolíticas e ambientais que oferecem vantagens competitivas ao país ante seus pares internacionais.

“Se olharmos para o cenário que tínhamos em novembro, quando fui anunciado ministro da Fazenda (…), pouco mais de oito meses passados, podemos dizer que avançamos, mas temos muito caminho pela frente ainda. Não é um caminho simples, sem obstáculos, mas tenho certeza que trabalhadores, empresários, governo, Poderes da República vão entender os anseios da sociedade”, disse.

“Os anseios da sociedade são para que nós rememos na mesma direção, de um progresso sustentável, com justiça social, com muita democracia, com muita liberdade, com a nossa liberdade de expressão, liberdade de empreender”, prosseguiu.

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“Esse país não pode crescer menos do que a média mundial. Nós não temos o direito de oferecer para a sociedade menos do que um crescimento superior à média mundial com tudo que o destino colocou nas nossas mãos”, declarou.

Haddad participou do evento “Melhores e Maiores”, promovido pelo grupo Exame, em São Paulo. Durante o encerramento do encontro, ele lembrou dos aprendizados do país ao longo do ciclo de baixo crescimento econômico vivido na última década e colocou na conta da melhora de perspectivas dos agentes em relação aos principais indicadores do país as ações rápidas tomadas pelo governo logo nos primeiros meses de gestão.

“Estou muito otimista, espero que tenhamos um ciclo longo, depois de dez anos de muita dificuldade. Quem viveu na pele, 2013 a 2022, muitos desafios, alguns criados artificialmente, outros desafios externos que nos abateram, mas aquilo que a gente tinha de aprender a gente tem que ter aprendido. Agora é hora de colher os frutos, nos entendermos para o bem da nossa sociedade e voltarmos a pensar em uma grande nação”, disse.

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Para o ministro, a desaceleração da economia brasileira observada nos últimos meses deverá se prolongar apenas até setembro, com uma retomada nos meses subsequentes, embalada pelo ciclo de afrouxamento monetário.

Haddad também destacou uma conjuntura internacional desafiadora, com o aumento dos juros nos Estados Unidos e subsídios oferecidos pelo governo local, a desaceleração da chinesa e o momento da economia europeia sob os efeitos da guerra na Ucrânia.

Mas disse que a situação geopolítica e geoambiental podem “permitir ao Brasil pensar em tempos melhores longevos”. “Podemos ter um ciclo durável se nós perseverarmos. A perseverança vai ser central em qualquer projeto de desenvolvimento”, disse.

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Uma de suas principais apostas é o novo plano de transição ecológica, que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende lançar nos próximos dias e vender durante as próximas agendas internacionais – em especial durante a visita aos Estados Unidos na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

Em um olhar sobre os competidores brasileiros no mundo, Haddad disse que Índia e México, apesar de benefícios com a tendência do “nearshoring” da economia global, não contam com as mesmas cartas na manga de que o Brasil dispõe.

No mesmo painel, o ministro disse que o governo federal tem avançado na missão de mapear riscos fiscais e jurídicos e trabalhado para sensibilizar as partes envolvidas sobre causas que possam gerar desequilíbrios econômicos para o país. E identificou a emergência no país de uma concepção mais moderna de Estado, que não deixa de lado uma avaliação sobre as consequências práticas de determinadas decisões antes que elas sejam tomadas, independentemente da esfera de Poder.

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“Há pressão de gasto para todo lado. E o trabalho de um governo sério é sempre localizar os riscos fiscais, e agora, mais do que nunca, mapeamos até os riscos judiciais. Temos feito um trabalho importante junto aos tribunais para sensibilizar sobre aquelas causas que podem gerar desequilíbrios muito grandes, mediando conflitos. Mesmo quando a tese é justa, ela pode sofrer uma modulação mais adequada – até para seu cumprimento sem prejudicar a sociedade”, disse.

“Essa concepção mais moderna de Estado está se desenvolvendo muito recentemente no Brasil. Nós não podemos mais correr riscos de que temas que vão significar importantes consequências para a sociedade, do ponto de vista da sustentabilidade, serem tomadas dissociadas do quadro geral do país”, pontuou.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.