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SÃO PAULO – Um populista de direita e um líder da esquerda provavelmente seriam duas pessoas sem nada em comum. Mas quando falamos de Donald Trump e Hugo Chávez isto não é tão lógico, conforme mostrou um artigo recente publicado pelo New York Times. Os dois podem não ter nenhum pensamento em comum, mas a história política de ambos mostra uma trajetória bastante parecida e chama atenção por conta de um caminho longe do tradicional.
A publicação relembra a história de Chávez, que antes de se tornar presidente da Venezuela, quando ainda era um soldado, organizava atividades culturais, principalmente concursos de beleza. O que viria a ser o líder do país era até então apenas um apresentador, que animava a plateia e anunciava as vencedoras. Já era o primeiro sinal do showman que seria uma marca registrada em toda sua carreira.
Chávez foi derrotado quando tentou tomar o poder por meio de um golpe de Estado alguns anos depois, em 1992, lembra o NYT. Mas no momento em que ele apareceu na televisão para pedir que que seus colegas se entregassem, ele conquistou o público. “Um minuto nas telas foi mais eficaz do que tanques, metralhadoras e balas”, diz o texto.
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Para quem acompanha a atual ascensão de Donald Trump, não há como negar que este estilo se repete. A campanha do candidato republicano não seria possível sem a televisão, seja pelas grandes campanhas que ele tem feito, mas, principalmente, pelo reality show “O Aprendiz”, do qual foi apresentador, juiz e prêmio. “Chávez e Trump são hábeis provocadores. Suas narrativas estão mais próximas de uma ficção audiovisual do que do debate político”, diz a publicação americana.
Tanto Chávez quanto Trump construíram uma carreira via espetáculo de televisão. Todo domingo, o líder da esquerda venezuelana aparecia em um programa chamado “Aló Presidente”, onde cantava, falava sobre eventos atuais ou nomeava e demitia ministros, lembrando o bordão de Trump na televisão: “Você está demitido!”.
Chávez se tornou presidente sem ocupar um cargo público ou uma posição legislativa que o obrigasse a negociar ou fazer concessões. “Desde sua primeira eleição para presidente, em 1998, até sua última, em 2012, ele se tornou perito em usar a televisão como uma forma de governo”, relembra o artigo.
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“Assim como Chávez, Donald Trump costumava organizar concursos de beleza. Assim como Chávez, Trump pode ter a chance de mudar um país. A complexidade da política americana tornaria mais difícil a jornada de Trump para a destruição. Mas a parábola de Chávez também é uma história de alerta sobre as vulnerabilidades dos eleitores ao encanto do carisma e da banalidade da mídia”, completa o NYT.